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Uma conta que não fecha: a disputa de sambas-enredo

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RIO – Um dos momentos mais bonitos do desfile de uma escola de samba é a passagem da Ala dos Compositores. Normalmente mais para o fim, lá vêm eles (e elas), bonitões, de terno, cantando o hino que alguns compuseram, impondo uma derrota a todos os outros. Mas, na avenida, todo mundo é irmão, sob a mesma bandeira...

Não é mais assim.

— A Ala dos Compositores, daquela forma tradicional, não existe mais — diz Cláudio Russo, coautor dos sambas do Paraíso do Tuiuti e da Grande Rio, ambos sob encomenda, já gravados no CD das escolas de samba do Grupo Especial 2019. — Hoje em dia, os finalistas nas disputas das escolas A, B, C e D são mais ou menos os mesmos. Não existe mais aquele pessoal que compõe exclusivamente um samba por ano, para uma escola. Quando eu cheguei à Portela, há 30 anos, nomes como Noca, Luiz Ayrão e Davi Corrêa estavam na disputa, um contra o outro. Agora, cada escola tem apenas um grande compositor, em média.

Por que tantos autores?

Russo se refere aos famosos “escritórios”, reuniões de compositores como ele mesmo, André Diniz, Evandro Bocão, Diego Nicolau, Dudu Nobre e outros (juntos, separados ou tudo misturado) que compõem sambas-enredo para várias escolas, mas nem sempre assinam.

— Você vai a um dia de desfiles do Grupo Especial e corre o disco de ouvir quatro ou cinco sambas do mesmo autor — conta Elymar Santos, que mais uma vez venceu a disputa na Imperatriz, com o enredo “Me dá um dinheiro aí”, ao lado dos parceiros Maninho do Ponto, Julinho Maestro, Dudu Miler, Márcio Pessi e Jorge Arthur. — Mas o nome nem sempre aparece.

De fato, Russo, por exemplo, é creditado como autor oficial apenas dos sambas do Tuiuti (“O salvador da pátria”, ao lado de Moacyr Luz, Dona Zezé, Jurandir e Aníbal) e da Grande Rio (“Quem nunca...? Que atire a primeira pedra!”, com Moacyr, André Diniz, Gê Martins, Licinho Júnior e Elias Bililico). Mas atribuem a ele, extraoficialmente, meia dúzia das músicas que foram parar no CD.

— Curioso, isso, não é? — questiona Russo. — Quando era da Comissão de Carnaval da Beija-Flor, via que profissionais como escultores e aderecistas, de barracão em barracão, trabalhavam para várias escolas, e não havia o menor problema. O compositor, no entanto, só pode assinar um samba. No máximo dois, mas só se for encomenda. E isso nem é uma regra oficial!

E por que sambas-enredo têm tantos autores? A prática, que suscita dúvidas e motiva piadas, tem uma explicação simples: dinheiro. Chegar a uma final de samba-enredo custa caro.

— Dois caras são os investidores, outros dois fazem a produção, um arregimenta torcedores e aluga um ônibus... — lista um experiente compositor, que prefere não se identificar, explicando a prática. — Uns dois ou três são realmente os compositores do samba.

R$ 100 mil de investimento

Em 2019, a Beija-Flor, que fundiu dois sambas, leva o Estandarte de Ouro de mais assinaturas: Di Menor BF, Júlio Assis, Kiraizinho, Diego Oliveira, Fabinho Ferreira, Diogo Rosa, Serginho Aguiar, Dr. Rogério, Kaká Kalmão, Márcio França, Jorge Aila e Carlinhos Ousadia. Doze nomes, uma obra, cujo refrão diz: “Oh, Deusa/ Tem festa no meu coração/ Desfilo toda a gratidão/ Razão do meu cantar, azul do meu viver/ O que seria de mim sem você?” (A Deusa em questão é a própria escola). E essa galera toda, será que leva uma grana boa?

— O direito de arena e demais fontes pagam uns R$ 250 mil por samba — diz outro compositor. — Tem escola que fica com metade desse dinheiro, outras pegam 30% ou 40%. Então, seriam uns R$ 125 mil para dividir entre os 12, ou seja, cerca de R$ 10 mil pra cada um. Depois de pagar toda a despesa, sobra um troco.

A Wall Street da Sapucaí calcula que uma disputa em escola popular, como Mangueira, Portela ou Salgueiro, exige cerca de R$ 100 mil de investimento no samba, somando todas as etapas, até a final.

— Isso precisa ser revisto — diz Dudu Nobre, nascido na Mocidade Independente de Padre Miguel, mas calejado nas escolhas de samba pelo Rio e alhures. — A disputa não pode ser mais tão longa. A cada noite a parceria gasta R$ 10 ou 20 mil.

Nesse ponto, os compositores cantam afinados.

— Ninguém aguenta três meses de seleção — afirma Waltinho Honorato, compositor da Imperatriz Leopoldinense, campeão em 1995, que já fez samba em escolas como Salgueiro e São Clemente. — Na terceira semana você já sabe quais estão na disputa. Para o compositor, apenas dois sambas valem a pena: o que é cortado no início da disputa e o campeão. O resto só perde tempo e dinheiro.

As ‘ameaças’: reedições, ‘escritórios’ e encomendas

As escolas de samba querem quadras cheias e vendas de hectolitros de cerveja, e por isso promovem longas e onerosas disputas de samba-enredo, mas parte dessa inflação cai na conta dos próprios concorrentes, segundo Cláudio Russo.

— Não tem regra dizendo que cada samba tem que ter um clipe próprio, bonitinho, gravado num estúdio bacana — diz o compositor, que tem mais de 100 sambas-enredo gravados, em escolas de vários lugares do Brasil e até da Argentina. — Mas alguém teve a ideia, e todos foram atrás, gastando mais dinheiro ainda. Tudo isso precisa ser repensado.

A origem desses recursos é outro ponto preocupante.

— Tem escritório bancado por miliciano, traficante, dono de “maquininha” (caça-níqueis) — conta um sambista. — É uma grande lavagem de dinheiro.

Apesar de todo esse boi com abóbora, o nível dos sambas-enredo, segundo a maioria dos envolvidos, está bom.

— Compositores e carnavalescos se entendem, sacando que o samba não é só oba-oba, e a qualidade cresceu — argumenta Russo.

Os próprios escritórios, tão demonizados, também teriam o seu valor nisso.

— O bom compositor deveria ter o direito de inscrever samba em todas as escolas — defende a pesquisadora e escritora Rachel Valença, especialista em carnaval. — Eu sempre fui defensora das alas específicas para as escolas, mas me toquei de que elas não existem mais naqueles moldes. Hoje, você paga pela roupa e desfila de compositor em praticamente qualquer escola. Sai uns R$ 600.

Com os nomes revelados ou não, as disputam mobilizam as agremiações até hoje. E a presença dos escritórios, apesar do peso dos nomes, não é garantia de vitória.

— Na Mangueira, ganhou o melhor — afirma o carnavalesco da verde-e-rosa, Leandro Vieira, a respeito do samba-enredo mais badalado do pré-carnaval até agora. — Não era uma parceria conhecida, não foi a que gastou mais dinheiro e ainda derrubou dois nomes tradicionais na final, Lequinho e Hélio Turco.

Há esperança, então?

— De termos bons sambas, sempre — acredita Leandro. — Mas a disputa atual tem muitos defeitos.

Taí mais um que acredita que está na hora de mudar. E um que não teme os sambas encomendados, tidos como vilões por alas mais tradicionais das escolas.

— Isso é outra coisa que existe há muito tempo, desde Evaldo Gouveia e Jair Amorim (os consagrados compositores, que nunca foram ligados às escolas, ganharam na Portela em 1973 com um samba contestado, acusado de ter sido eleito pela escola por causa da fama dos autores) — lembra Leandro sobre a prática, que também já teve João Nogueira e Paulo César Pinheiro na Tradição nos anos 1980. — Uma ou outra escola pode fazer isso, assim como reeditar enredos, mas não acho que seja uma ameaça às disputas.

Em 2019, o disco terá dois sambas encomendados, de Tuiuti e Grande Rio, e duas reedições: São Clemente (“E o samba sambou”, de 1990, da própria escola), e Império Serrano, celeiro de tantos clássicos, criticado por transformar “O que é, o que é?”, de Gonzaguinha, em enredo e samba-enredo.

— Ah, mas o público vai ver uma escola passar com uma música que todo mundo sabe cantar, né? — pondera Elymar. — Hoje em dia, ninguém mais toca samba-enredo... Precisamos é de mais gente na Sapucaí.

Alô, comunidade!


Unesco anuncia nesta segunda-feira se reggae é patrimônio cultural imaterial da Humanidade

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RIO — A Jamaica, onde o reggae surgiu dando voz aos oprimidos e esperançosos, está buscando uma nova honraria para o gênero que de lá saiu para ganhar o mundo.

Nesta segunda-feira (26), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) vai anunciar uma decisão sobre a solicitação jamaicana para incluir o reggae na lista de patrimônios culturais imateriais da Humanidade.

“Será uma grande conquista para a Jamaica se formos bem-sucedidos em ter tal designação declarada pela Unesco”, disse a ministra da Cultura do país, Olivia Grange, em uma coletiva de imprensa no mês passado. Links Unesco

Gênero que emergiu em Kingston na década de 1960, o reggae tem o cantor e compositor Bob Marley (1945-1981) como seu grande ícone. Com letras que emanam paz e positividade e ritmo calcado no groove, ultrapassou fronteiras e se fundiu com outros ritmos, formando subgêneros como o dancehall, o reggaeton e o reggae fusion, além de servir como forte influência para o hip-hop.

A lista da Unesco, que conta atualmente com 429 elementos, documenta manifestações e práticas de diferentes culturas que merecem reconhecimento.

O Brasil é representado por cinco tradições culturais: a arte gráfica dos índios oiampis, o samba de roda do Recôncavo baiano, o frevo do carnaval de Recife, o Círio de Narazé em Belém e, mais recentemente, a capoeira. 'Kaya' - Bob Marley

Marieta Severo: ‘Sempre trabalhei com dignidade’

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RIO — Sentada num camarim improvisado numa casa de Paquetá, Marieta Severo fala sobre as razões que a levaram a fazer “Noites de alface”, longa de estreia do cineasta Zeca Ferreira: a narrativa inovadora do roteiro e a mistura entre fábula e realidade que permeia a trama. Mas o que a afeta profundamente no momento, ela diz, é a demonização da classe artística. A ideia de ver artistas se tornando vilões do país, sob a perspectiva de parte da sociedade, é “muito dolorosa para a gente”.

— Tenho 53 anos de profissão e a certeza de que meus colegas e eu trabalhamos dentro de parâmetros da maior dignidade e honestidade, da maior doação. A essa altura da vida ver isso virar de cabeça para baixo... É uma interpretação que vem da falta absoluta de informação — diz a atriz, que está atualmente em cartaz no longa “A voz do silêncio”, de André Ristum, e ainda integra o elenco de “Aos nossos filhos”, de Maria de Medeiros, previsto para ano que vem. Links Marieta

Adaptação do livro homônimo de Vanessa Bárbara, “Noites de alface” trata do luto e da reinvenção do olhar sobre a vida após uma tragédia. Marieta interpreta Ada, uma mulher “tranquila e comprometida com as questões da casa e da vizinhança”, nas palavras da própria atriz. Ela é casada há décadas com Otto (Everaldo Pontes), numa profunda doação mútua: é impensável viver sem o outro. O título do filme se refere ao chá de alface que ela prepara todas as noites para o marido insone.

Um dia, Ada morre. E Otto se vê diante de uma pergunta existencial: é possível seguir vivendo sozinho, sem a metade que o completava?

— É bonito falar sobre um grande amor que atravessa a juventude e a velhice. E sobre como sobreviver a essa enorme falta — afirma a atriz.

Otto passa a prestar mais atenção no mundo que o cerca. E descobre que os vizinhos podem estar envolvidos num crime macabro, no qual teriam matado e escondido o corpo de um homem no gramado de seu jardim. Será que Ada também ajudou no assassinato? Ou será que nada disso faz sentido, tratando-se apenas da desesperada imaginação de um homem em luto?

— A parte emocional do filme é linda, mas isso não basta para mim. O que me chamou atenção foram as camadas da narrativa: a realidade, a fantasia, a imaginação — explica Marieta.79974661_RS - Stephanie de Jongh e Marieta Severo em cena do filme A voz do silêncio.jpg

Seu personagem difere completamente da vilã carismática na novela “O outro lado do paraíso” e da mulher com graves problemas psicológicos em “A voz do silêncio”. Neste, ela passa os dias encerrada em seu apartamento, imobilizada pelo medo do mundo externo e imersa na culpa de ter expulsado um dos dois filhos de casa. É um ambiente familiar desestruturado.

— Ela é vítima de si mesma e sucumbe ao próprio preconceito quando fica sabendo que o filho é gay e soropositivo. Infelizmente, é cada vez mais necessário mostrar o que o preconceito faz. O quanto o preconceito nos coloca no campo dos nossos maiores defeitos. Criaram-se condições para tudo isso vir à tona. As circunstâncias sociais e políticas são fundamentais para o melhor da gente aflorar. E a gente está vivendo um tempo em que o pior vem aflorando. Estamos num terreno muito perigoso. A Voz Do Silêncio - Trailer

Sem maquiagem, com o cabelo sujo e as roupas amassadas, a personagem de olhar perdido foi toda desglamourizada pela própria Marieta. Para ela, “A voz do silêncio” fala de uma classe média que foi seduzida pelo sonho do consumo e que agora se vê frustrada.

— Não são pessoas da periferia de São Paulo, não é a grande miséria nacional. É a classe média mesmo, que está ali lutando diariamente pela sua sobrevivência e vendo os seus sonhos serem massacrados. A minha filha no filme, por exemplo, tem que se prostituir para conseguir pagar o aluguel do apartamento.

Sobre a vida real, Marieta vislumbra dias melhores para os artistas, ainda que ela evite a palavra “otimismo”:

— Peço às pessoas que nos demonizam que prestem atenção: quem está por trás disso? A quem interessa passar essa imagem? O que eu tenho é a certeza absoluta da nossa força. Já passei por isso antes. Censuraram, torturaram e mataram a gente. Temos capacidade de sobreviver a isso. Ninguém fecha os espaços que foram abertos, ninguém destrói o que foi plantado. Você pode até achar que arrancou a parte de cima, mas a semente está lá.

Ícone do feminismo no cinema, Chantal Akerman tem suas videoinstalações exibidas no Rio

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RIO — Conhecida por abordar em filmes como “Jeanne Dielman” (1975), “News from home” (1977)” e “No home movie” (2015) elementos como a passagem do tempo, a memória, o cotidiano e temas relacionados ao feminino, a cineasta belga Chantal Akerman (1950-2015) terá parte de sua produção dentro das artes visuais destacada pela primeira vez no Brasil com a abertura, hoje, da exposição “Tempo expandido”, no Oi Futuro do Flamengo. Com curadoria de Evangelina Seiler, a mostra traz quatro videoinstalações que ocupam três andares do centro cultural. Assim como em seus filmes, as obras criam uma relação direta com o tempo da ação que é projetada, a partir das experiências pessoais da diretora.

De suas videoinstalações, já exibidas em mostras como a Documenta de Kassel e a Bienal de Veneza, foram selecionadas “In the mirror” (1971-2007), “La chambre” (2012), “Tombée de nuit sur Shanghai” (2009) e “Maniac summer” (2009), as três primeiras criadas a partir de fragmentos de sua obra cinematográfica e a última composta por imagens e sons gravados em Paris, em 2009.

— De forma semelhante a seus filmes, as videoinstalações da Chantal conseguem materializar essa passagem do tempo — observa Evangelina . — Ela costumava dizer que não gostava de ouvir as pessoas falando que “nem sentiam” um filme passar, para ela era como se este tempo tivesse sido roubado do público. Nas instalações também há um tempo próprio, com o qual o espectador se relaciona à medida do seu interesse. Mas nada é imposto, a força das imagens e a expectativa do que pode acontecer acabam criando este envolvimento.

80031573_SC - Exposição Tempo Expandido de Chantal Akerman no Oi Futuro. Na foto a instalação La Cha.jpgA mostra começou a ser negociada pelo produtor Beto Amaral com a própria Chantal em 2014, mas a notícia do suicídio da cineasta no ano seguinte adiou a montagem. Há um ano, Evangelina começou a desenvolver a curadoria, com a montagem supervisionada pela editora Claire Atherton, que trabalhou com Chantal por mais de 30 anos.

— Sempre tivemos uma maneira única de trabalhar, em cada filme descobríamos um novo método — relembra Claire, que está no Rio acompanhando a montagem. — Chantal seguia muito a sua intuição enquanto filmava, frequentemente descobríamos sentidos ou a importância de um tema enquanto víamos as imagens. Falávamos pouco sobre o significado das sequências na sala de montagem, ela apenas dava nomes simples para descrever as cenas, não era nada complexo.

36418412_SC Rio de Janeiro RJ 07-03-2009 Chantal Akerman diretora belga visita o Brasil. Foto Divul.jpgSempre lembrada por seu olhar sobre o universo feminino e questões de gênero, Chantal utilizou em “In the mirror” cenas de “L’enfant aimé”, um de seus primeiros filmes, que mostra uma jovem diante do espelho examinando detalhadamente o próprio corpo. Contudo, ela recusava o papel de “cineasta feminista” para não se prender a qualquer rótulo que pudesse reduzir sua atuação.

— Tudo na obra de Chantal veio na medida da sua experiência. Quando ela viveu em Nova York, o movimento feminista estava em seu auge, e ela traduziu essa vivência nos filmes — analisa Evangelina . — Da mesma forma, ela trouxe ao cinema sua visão pessoal sobre o racismo ou a questão da imigração. Trailer 'Não é um filme caseiro'

Para Claire, a vivência do espectador também pode ser a chave para apreciar as videoinstalações que permanecem em cartaz até 27 de janeiro no Oi Futuro:

— Nas duas linguagens, a edição envolve a junção de imagens, mas no caso das instalações acrescentamos uma dimensão a mais, a do espaço. É algo mais aberto, em que o público pode buscar um novo sentido quando passa de uma obra para outra, fazendo conexões entre elas. Cada experiência é única.

Crítica: Com 'Phoenix', Rita Ora renasce fazendo a longa espera valer a pena

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‘King Kong’: animal de 6 metros é a força e a fraqueza de musical na Broadway

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Com Axl doente, Guns N'Roses faz show mais curto em Abu Dhabi

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RIO — O Guns N' Roses precisou encurtar seu show na noite de domingo, em Abu Dhabi, por causa do estado de saúde do seu vocalista, Axl Rose. Mesmo doente, Axl ainda cantou 17 músicas — 11 a menos do que a apresentação normal do grupo. Um vídeo gravado por um fã mostra o momento em que Rose interrompe o show e explica a situação.

"Hoje eu fiquei doente e eles me colocaram em soro intravenoso e tomei um monte de injeções. Vomitei nas últimas cinco horas. Mas, em vez de cancelar, farei o melhor show possível para vocês", disse o músico de 56 anos.

Guns.Vídeo

Os companheiros de banda de Axl também comentaram o caso em suas redes sociais. "Abu Dhabi, vocês foram ótimos hoje! Axl estava muito doente. Mas vocês todos nos deram muito apoio. Obrigado por isso", escreveu o guitarrista Slash.

Tweet.Slash

O baixista Duff McKagan seguiu num tom semelhante, também sem entrar em detalhes quanto ao problema de saúde de Axl: "Obrigado Abu Dhabi! Axl Rose fez um milagre... o homem estava muito doente e conseguiu fazer algo que não tinha visto em meus 40 anos de carreira. Vocês carregaaram ele. Até a próxima!"

Tweet.Duff

O Guns N'Roses está em meio à turnê "Not in This Lifetime", que encerra a temporada de 2018 em dezembro, no Havaí.

Morre Bernardo Bertolucci, diretor de 'O último tango em Paris', aos 77 anos

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RIO — O cineasta italiano Bernardo Bertolucci, conhecido por filmes como "O último tango em Paris" (1972) , "O último Imperador" (1987), "O céu que nos protege" (1990) e "Beleza roubada" (1996) morreu nesta segunda-feira (26), em Roma, aos 77 anos. Bertolucci, considerado um mestre do cinema italiano e mundial, recebeu uma Palma de Ouro honorária em 2011 no Festival de Cannes pelo conjunto de sua obra.

"O último Imperador” ganhou nove Oscars, incluindo o de Melhor Filme, em 1987, consagrando o diretor. Bertolucci influenciou gerações de cineastas com trabalhos inovadores nos quais explorou a política e a sexualidade. Trailer O último imperador

Links BertolucciNascido em Parma em 1940, o diretor foi criado em uma atmosfera literária e artística. Seu pai, Attilio, era amigo do cineasta Pier-Paolo Pasolini, que contratou Bertolucci, ainda com 20 anos, como seu assistente no filme "Accattone: desajuste social" (1961). Já no ano seguinte, Pasolini o convidou para dirigir sua obra "La commare secca", marcando assim a estreia de Bertolucci na direção.

Em 1970, ele recebeu sua primeira indicação ao Oscar pelo roteiro adaptado de "O Conformista", baseado em um romance de Alberto Moravia. O filme se passa durante o período fascista da Itália e conta a história de um intelectual que é recrutado pela polícia secreta de Mussolini para ir a Paris assassinar um antifascista que já havia sido seu professor.

A fama mundial viria em 1972, com "O último tango em Paris", um drama erótico protagonizado por Marlon Brando e Maria Schneider, que provocou um escândalo por uma cena de sodomia. O filme foi censurado em diversos países, inclusive na Itália. No Brasil, só chegou aos cinemas 15 anos depois. Na sequência mais famosa da produção, Brando usa manteiga como lubrificante numa encenação de sexo anal com a personagem de Maria. 63517451_SC - Último tango em Paris de Bernardo Bertolucci.jpg

Em 2007, numa entrevista ao jornal britânico "The Daily Mail", a atriz disse que a cena não estava no roteiro e que teria sido uma ideia de Brando, durante a filmagem. Ela também afirmou ter se arrependido de fazer o filme. Nos últimos anos, Bertolucci se tornou alvo de críticas após um vídeo vir à tona no qual ele admitiu que a cena não havia sido consentida.

— Eles me enganaram. Eu me senti humilhada e, para ser honesta, um pouco estuprada, tanto por Marlon, quanto por Bertolucci. Essa cena não estava prevista. As lágrimas que se veem no filme são verdadeiras — disse Maria Schneider na época.

Durante as gravações, a atriz tinha 19 anos e Brando, 48. Bertolucci justificou sua atitude dizendo que desejava tirar de Schneider uma reação mais realista na cena.80041056_FILES In this file photo taken on November 19 2013 Italian director Bernardo Bertolucci.jpg

— Eu queria a reação dela como uma garota, não como uma atriz. Eu queria que ela reagiasse, como ela fez, sendo humilhada. E acho que ela me odiou, e a Marlon também, pois não contamos a ela o detalhe da manteiga usada como lubrificante — disse o cineasta.

A atriz morreu de câncer, em 2011, aos 58 anos. Em entrevista dada dois anos após a morte de Maria, o diretor italiano comentou o caso:

— Depois do filme nós não nos vimos mais, poque ela me odiava. A sequência da manteiga foi uma ideia que tive com Marlon na manhã antes da filmagem. Mas eu me portei de uma forma horrível com Maria, pois não contei a ela o que aconteceria.

O último trabalho de Betolucci foi "Eu e você", de 2012, uma adaptação de um romance de Niccolò Ammaniti. Ele era casado desde 1978 com a cineasta Clare Peploe.


Bertolucci, o encontro do marxismo com a psicanálise

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RIO — Bernardo Bertolucci foi um filho do cinema, mas com pai e mãe emprestados de outras disciplinas: o marxismo e a psicanálise. Foi em 1969, quando o diretor — filho mais velho de uma professora e de um poeta, nascido em 16 de março de 1941, durante o fascismo de Mussolini — se filiou ao Partido Comunista da Itália e passou a ver regularmente uma analista. Seu cinema foi e seria uma consequência desse encontro entre Marx e Freud. Bertolucci buscou, com sua arte, condenar a tirania do fascismo ao mesmo tempo em que expunha desejos e obsessões da burguesia da qual fazia parte.

Links BertolucciJustamente no 1968 em que os jovens tomaram as ruas de alguns cantos do mundo para se fazerem ouvir, ele havia lançado no Festival de Veneza "Partner", um filme inspirado em "O Duplo", de Dostoiévski, sobre um apaixonado professor de teatro que instiga seus alunos a se manifestarem politicamente.

Pouco antes, em 1964, lançara "Antes da revolução", contando a história de um estudante burguês que se apaixonou pela tia enquanto começava a se interessar pelo marxismo. Ambos os filmes expunham os temas caros a um seguidor do francês Godard e do italiano Pasolini: a transgressão, coletiva ou individual, utilizada como arma para se enfrentar o autoritarismo.

"O conformista" (1970), seu primeiro clássico, baseado no romance de Alberto Moravia, trouxe como protagonista um burocrata, com uma história de abuso homossexual na juventude, que age a mando do governo fascista contra um ex-professor comunista. Já "O último tango em Paris" (1972), outro clássico, foi a subversão da ideia do sexo como consequência de amor e comprometimento. Para quem só se recorda da tal cena da manteiga de Marlon Brando em Maria Schneider, "O último tango" contava a história de um americano que se relacionava com uma francesa bem mais nova: eles transavam sem que pudessem revelar seus nomes, suas histórias, nenhuma intimidade que não fosse a conjunção de seus corpos. A censura odiou. A História o imortalizou.

O épico "1900" (1976) retratou a luta de classes na Itália com a lindíssima fotografia de Vittorio Storaro, um colaborador habitual de Bertolucci; enquanto o intimista "La luna" chocou com a relação incestuosa entre mãe e filho. "O último imperador" (1987) foi o filme que levou Bertolucci a Hollywood, vencendo 9 Oscars ao retratar a biografia de Puyi, o nobre chinês que foi coroado ainda criança, mas acabou preso por uma década pela China de Mao Tsé-Tung.

"O céu que nos protege" (1990), "Beleza roubada" (1996), "Assédio" (1998) e "Eu e você" (2012) lidaram com paixões, ciúmes e desejos. "Os sonhadores" (2003), por sua vez, foi a melhor representação recente dos temas que tornaram Bertolucci uma força do cinema. Nele, três jovens dividiram um apartamento de Paris em 1968, enquanto bombas explodiam nas ruas tomadas por outros jovens. Para o trio, sua expressão sexual era tão importante quanto a luta política. "Os sonhadores" abordou essa separação entre o interior de um apartamento rico que protegia seus moradores das preocupações sociais e o exterior de um mundo conflagrado pela necessidade de mudanças.

Num diálogo de "Os sonhadores", o pai de um dos protagonistas expõe o que parecia ser o pensamento de Bertolucci: "Antes de poder mudar o mundo, você precisa compreender que você, você mesmo, é parte dele. Não dá para ficar de fora olhando para dentro".

Morto nesta segunda-feira, em 26 de novembro de 2018, aos 77 anos, Bernardo Bertolucci procurou em vida seguir o próprio conselho e buscou, através do cinema, olhar o mundo de dentro.

Dez momentos que não podem faltar no novo 'Rei Leão'

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RIO — Com lançamento previsto para julho de 2019, a refilmagem do clássico de "O Rei Leão", de 1994, virou o assunto do fim de semana com o lançamento de seu primeiro trailer. Dirigido por Jon Favreau, que já recriou um clássico da Disney em "Mogli: O Menino Lobo", o filme traz no elenco nomes como James Earl Jones, o comediante John Oliver e a cantora Beyoncé. Logo abaixo do trailer, listamos algumas das cenas que não podem faltar na nova versão da animação, com trilha sonora original composta por Hans Zimmer e canções interpretadas por Tim Rice e Elton John.

TrailerReiLeão

1- A cena inicial com "Circle of life" ("Ciclo da vida"):

Circleoflife.ReiLeão.Vídeo

2- O clássico maior "Hakuna matata", com Timão e Pumba:

HakunaMatata.Vídeo.ReiLeão

A música já foi confirmada como parte da trilha sonora oficial do filme, segundo o compositor Tim Rice revelou ao tablóide britânico "The Sun", em fevereiro deste ano. Rice afirmou que quatro músicas do filme da animação de 1994 estarão na versão de 2019: “Can You Feel The Love Tonight?,” “Hakuna Matata,” “I Just Can’t Wait To Be King,” e “Circle of Life”.

3- A morte do Mufasa:

MorteMufasa.Vídeo

4- A mensagem de Scar para as hienas:

Scar.Hienas.Vídeo

5- A dança da hula do Timão:

Hula.Vídeo.ReiLeão

6- Zazu cantando para o Scar:

Zazur.Scar.Vídeo

7- Rafiki revelando que Mufasa é pai de Simba:

RafikiMufasa.Vídeo.ReiLeão

8- Simba e Nala cantando "Can you feel the love tonight":

Canyoufeelthelovetonight.Vídeo.Reileão

9- Simba e Nala vendo o cemitério dos elefantes:

Cemitériodeelefantes.Vídeo.ReiLeão

10- O confronto Simba e Scar:

Vídeo.ScareSimbaConfronto.ReiLeão

Seis pontos que fizeram o Mimo Olinda de 2018 valer a pena

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OLINDA - "Tomei a decisão mais acertada", desabafou a produtora Lu Araujo, na noite de domingo, ao fim da 15ª edição do Mimo, em Olinda. Criadora e diretora geral do festival que nasceu na cidade pernambucana, ela teve que abdicar este ano das edições no Rio e em São Paulo (que voltam respectivamente no segundo e no terceiro fins de semana de maio de 2019) para realizar o Mimo de aniversário. "Foi um ano difícil, mas aqui em Olinda temos um público muito fiel e apostamos nos amigos que entendem a nossa dificuldade. Era preciso resistir", explicou Lu. Com eventos gratuitos de música e cinema, além de palestras e workshops, de sexta a domingo, o Mimo Olinda 2018 pode ser sintetizado em seis destaques:

A própria Olinda

Sol, ladeiras, casario histórico, bares e um clima de permanente carnaval fazem da cidade o lugar ideal para um festival de música. E a Mimo sabe aproveitar bem seus trunfos, criando uma movimentação (que se faz tranquilamente a pé) entre o palco principal da Praça do Carmo, as igrejas do Carmo e da Sé (onde se realizaram concertos e, no caso da Sé, onde houve também exibição de filmes) e o Mercado Eufrásio Barbosa, que abrigou palestras e sessões de cinema.32177046308_7abe3ac00d_k.jpg

Um público de várias idades confraternizou, com segurança e poucos atropelos, nas estreitas ruas de Olinda, em eventos da Mimo e em festas paralelas, que não raro foram até o amanhecer. E se houve um show que resumiu o espírito desencanado e malemolente da cidade foi o da banda que é o orgulho local, verdadeiro consulado de Olinda no mundo: a Eddie.

Em seu primeiro show no Mimo, grupo do guitarrista e vocalista Fabio Trummer tirou o atraso no encerramento da noite de domingo, de clima ameno e lua brilhante, passando a limpo sua carreira de mais de 20 anos. Dub reggae, frevo, surf music, ska, samba, forró e mambo se mesclam e se confundem hoje em dia no show da Eddie, que foi do rock farpado de seu álbum de estreia, "Sonic Mambo" (1998) ao suingue apurado do novo "Mundo engano" (2018).32180641588_63f5ecf4ac_k.jpg

A força do rap

Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite, e no caso da Mimo 2018, o que o público de cerca de 25 mil pessoas que tomou a Praça do Carmo e a encosta que dá para a igreja queria mesmo era rap. Atração principal da noite, Emicida não teve dificuldades em comandar a massa compacta e fervilhante com sua imperativa presença de palco e um repertório no qual ele consegue imprimir contestação política até quando é romântico e celebratório.45126246975_54f0a7d35a_o.jpg

E a aposta da Mimo no número de abertura do palco, o grupo palestino/jordaniano 47Soul, foi mais do que feliz: a reelaboração eletrônica e dançante da raiz musical árabe, com uma pimenta de confronto, caiu bem no esquenta da noite olindense, naturalmente uma das mais receptivas a novidades e à pluralidade musical. Links Mimo

Apoteose instrumental

Um acontecimento simbólico para a Mimo de 15 anos foi que, na lembrança de sua motivação primordial, que é a de fortalecer a música instrumental, dois dos maiores músicos do mundo lá estivessem para concertos na Igreja da Sé. Na abertura, na sexta, Hermeto Pascoal fez valer a sua máxima — "a minha religião é a música!" — quebrando para sempre a solenidade sacra do ambiente, com a energia e a imprevisibilidade de um vulcão em erupção.46021526731_aee2a1468b_o.jpg

No comando de uma banda pronta para o que desse e viesse, ele solou e abriu espaço para solos de seus músicos, botando lenha na fogueira sem se importar com o calor que fazia dentro da igreja — e ainda apresentou um daqueles talentos de fazer cair o queixo, a "campeãzinha" Carol Panesi, que arrepiou no violino e na voz.

Com Egberto, no sábado, a noite teve a sua dose de quebradeira, como na homenagem ao falecido parceiro pernambucano Naná Vasconcelos (num desorientador violão de dez cordas para lembrar o imortal disco que fizeram juntos, "Dança das cabeças") e, ao piano, na transgressão do "Miudinho" de Villa-Lobos.31097101547_bc87a51779_o.jpg

Mas houve momentos de grande delicadeza, no toque das teclas em seu "Carinhoso" de Pixinguinha e no "Retrato em branco e preto", de Tom Jobim e Chico Buarque, este em duo com a cantora do seu quarteto, Grazie Wirtti.

Octogenários

Além de Hermeto Pascoal, um outro senhor de 82 anos de idade passou pela Mimo Olinda tirando as coisas de seus lugares: Tom Zé, que na sexta-feira espalhou suas divertidas e provocativas tiradas à tarde, em uma palestra, e voltou à noite com sua banda, como atração de encerramento do palco principal da Praça do Carmo. E a acompanhar os eventos da Mimo, como convidado, em sua tímida quietude, estava um outro grande nome da cultura brasileira, de iguais 82 anos: o escritor e colunista de O GLOBO Luis Fernando Verissimo.45973789282_85be0760d5_o.jpg

Dead Combo

Depois de um dia de sol, a chuva escolheu desabar firme na noite de sexta justo na hora em que se apresentava a grande atração internacional da Mimo Olinda 2018: o grupo português Dead Combo. Mas o público não arredou pé. Mesmo desfalcado do guitarrista e fundador Pedro Gonçalves, que está afastado dos palcos por razões de saúde, o grupo pegou o público pelo pé com sua cinematográfica música instrumental, que junta blues, fado, rumba, punk e jazz, em canções que vieram, em boa parte, de seu novo disco, "Odeon Hotel" (2018).44206580040_78d822cca2_o.jpg

Com uma base de bateria, baixo acústico e sax, as tramas de guitarras de Tó Trips e de António Quintino (que substituía Pedro) acenderam a noite encharcada, num show muito fiel ao som dos discos, em que o figurino e as projeções funcionaram em perfeita conjunção com a música para transportar o público a um universo particular de mistério e sonho.

A música no cinema

Encabeçado pelo documentário "Betty, they say I'm different", do inglês Phil Cox, que ajudou a desvendar mistérios sobre a cantora Betty Davis, o Festival Mimo de Cinema também trouxe bons filmes brasileiros sobre música. Com sessões lotadas, "Pesado - Que som é esse que vem de Pernambuco?", de Leo Crivellare esmiuçou a saga dos adolescentes que resolveram trazer o heavy metal para a terra de frevos e maracatus. E "Mussum - um filme do cacildis", de Susanna Lira, pintou comovente retrato do integrante dos Originais do Samba e humorista dos Trapalhões.32137219018_8cf5e3f831_o.jpg

* O repórter viajou a convite do festival

'Duro de matar' 30 anos: como a soneca de um escritor no cinema inspirou um clássico dos filmes de ação

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LONDRES — Esta semana marca os 30 anos do cerco no Nakatomi Plaza, um superprédio fictício em Los Angeles tomado por uma gangue de terroristas alemães. O edifício serve como cenário para "Duro de matar", de John McTiernan, um dos filmes de ação mais cultuados de Hollywood.

Como sabemos, os planos malignos dos bandidos foram frustrados pelo policial John McClane (Bruce Willis), que estava no prédio por acaso — ele foi à festa de Natal do escritório de sua ex-mulher Holly (Bonny Bedelia), para tentar uma reconciliação. Links duro de matar

Apesar da ação se passar no fim de novembro de 1988 (era um filme natalino, afinal), o longa foi lançado inicialmente no dia 12 de julho daquele ano, em Los Angeles, antes de chegar ao demais cinemas americanos três dias depois — no Brasil, o lançamento foi no dia 27 de outubro.

O filme custou, à época, apenas US$ 28 milhões, mas arrecadou mais de US$ 140 milhões, uma marca significativa que serviu como parâmetro e influência para diversos blockbusters de ação que o seguiriam — desde "A força em alerta" (1992) e "Velocidade máxima" (1994) a "A rocha" (1996), "Con Air: A rota da fuga" (1997), até, mais recentemente, "O ataque" (2013), com Channing Tatum e Jamie Foxx. Duro de Matar (Die Hard, 1988) Trailer Legendado HD

O último longa de Dwayne "The Rock" Johnson, "Arranha-céu: Coragem sem limite", lançado em julho, é a mais recente e uma das mais evidentes imitações de "Duro de matar" até hoje.

"Duro de matar" fez de Bruce Willis uma estrela de Hollywood — até então, ele era mais conhecido por seu papel cômico como um detetive particular na série "A gata e o rato" (1985-89), contracenando com Cybill Shepherd. O longa ainda consagrou internacionalmente o britânico Alan Rickman (1946-2016), por sua atuação memorável como o grande vilão Hans Gruber.MV5BMDdiYmExYzEtYzRiMi00MmQ0LThkZDktNjIwOTc3YWQ1NTM1XkEyXkFqcGdeQXVyMDEwMjgxNg@@._V1_.jpg

O filme de John McTiernan tornou-se um fenômeno da cultura pop, gerando quatro sequências até o momento e cultivando uma base de fãs fiel, muitos dos quais afirmam que "Duro de matar" é o melhor filme de Natal de todos os tempos — poucos deles são mais fervorosos que Jake Peralta (Andy Samberg), o protagonista da série de comédia "Brooklyn Nine-Nine".

O que talvez seja menos sabido é que o filme foi baseado em um romance: o thriller "Nothing lasts forever", de Roderick Thorp, lançado em 1979, que não chegou a ter edição brasileira. O livro é uma sequência do trabalho anterior de Thorp, "The detective" (1966), que acompanha o detetive novaiorquino Joe Leland, contratado por uma femme fatale e envolvido numa teia de mentiras.

"The detective" também foi adaptado para o cinema: "A lei é para todos" (1968), de Gordon Douglas, teve Frank Sinatra no papel principal.18598.jpg

A ideia para fazer uma sequência com o mesmo personagem veio a Thorp enquanto ele assistia a "Inferno na torre" (1974), filme de John Guillermin sobre um arranha-céus em chamas estrelado por Paul Newman e Steve McQueen. Segundo a lenda, Thorp cochilou no cinema e sonhou com o seu Joe Leland sendo perseguido em um arranha-céus por bandidos armados.

O resultado disso, "Nothing lasts forever", é bastante similar ao enredo da obra-prima de McTiernan, exceto algumas mudanças de nomes. Leland obviamente virou McClane; Gruber também está no livro, mas é conhecido como Anton "Little Tony the Red" Gruber; a torre em si é a sede da Klaxon Oil Corporation, não o prédio comercial Nakatomi. O sargento Al Powell, interpretado por Reginald VelJohnson no cinema, também está fidedignamente nas páginas.MV5BYTAxMDBkYjAtMTkwOC00Yzc4LWIwNzQtZGJlMWFlNDRjZjg1XkEyXkFqcGdeQXVyMDEwMjgxNg@@._V1_.jpg

Produtores tinham a esperança de que Sinatra voltaria a fazer Leland na sequência, mas o crooner alegou estar muito velho na época — o convite foi feito em meados de 1980, quando Sinatra já tinha seus 70 anos — e o papel foi oferecido para Arnold Schwarzenegger. O fortão também recusou a oferta, e Willis acabou sendo escalado como protagonista.

Embora Bruce Willis não tenha aparecido proeminentemente nos primeiros cartazes do filme devido à sua relativa obscuridade, sua atuação impecável para o papel se mostrou central para o apelo que "Duro de matar" viria a ter. Como o trailer dizia: "John McClane é um homem fácil de se gostar, mas um homem duro de matar".MV5BNTliOTFmY2MtMzYyOC00MzVhLTk5M2UtZDE0NGQ2NTdhZDZiL2ltYWdlL2ltYWdlXkEyXkFqcGdeQXVyMjk3NTUyOTc@._V1_.jpg

O romance de Thorp, porém, não foi a única influência literária surpreendente de "Duro de matar". No roteiro original, o cerco de Gruber durou três dias. Mas McTiernan decidiu mudá-lo para que a ação se passasse ao longo de uma única noite depois de ler o clássico de Shakespeare "Sonho de uma noite de verão".

Relembre principais filmes de Bernardo Bertolucci

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Entre 1962, com "Antes da revolução", e 2012, com "Eu e você", o diretor e roteirista italiano Bernardo Bertolucci (1941-2018) lançou 20 filmes de longa-metragem. Veja abaixo os principais destaques desta filmografia.

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"O conformista" (1970)

Elenco: Jean-Louis Trintignant, Stefania Sandrelli, Dominique Sanda, Enzo Tarascio.

Sinopse: Adaptação do romance homônimo de Alberto Moravia. Um intelectual se aproxima do regime fascista de Mussolini e deve assassinar um antigo professor.

Indicado ao Oscar e Globo de Ouro, Prêmio Especial dos Jornalistas no Festival de Berlim em 1970

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"O último tango em Paris" (1972)

Elenco: Maria Schneider e Marlon Brando

Sinopse: Viúvo americano conhece jovem parisiense no apartamento quem ambos querem alugar e ambos iniciam um romance.

Brando foi indicado ao Oscar de melhor ator e Bertolucci, ao de melhor diretor. A cena em que o personagem de Brando abusa sexualmente da protagonista de Maria Schneider foi recordada pela atriz como "estupro".

34740567_RS Rio de Janeiro RJ 16-01-2013 filme O último imperador. Foto Divulgação.jpg

"O último imperador" (1987)

Elenco: John Lone, Joan Chen e Peter O'Toole.

Sinopse: A vida de Puyi, o último imperador da China, desde sua infância na Cidade Proibida de Pequim até o final de sua vida, como prisioneiro do regime comunista chinês.

Produção grandiosa, foi o grande sucesso internacional de Bertolucci, vencedor de nove Oscars (incluindo melhores filme e diretor) e quatro Globos de Ouro.

35114767_SC Rio de Janeiro RJ 08-02-2012 O céu que nos protege the sheltering sky. Foto Divulgação.jpg

"O céu que nos protege" (1990)

Elenco: Debra Winger, John Malkovich, Campbell Scott.

Sinopse: Casal de americanos viaja para a África em busca de uma revitalização para o seu casamento, mas logo se vê às voltas com novos problemas.

Considerado um fracasso de bilheteria e de crítica, é muito elogiado pela fotografia de Vittorio Storaro e a trilha sonora de Ryuchi Sakamoto.

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"Beleza roubada" (1996)

Elenco: Jeremy Irons, Liv Tyler, Rachel Weisz.

Sinopse: Americana de 19 anos viaja à Toscana para passar uma temporada na villa de amigos da mãe, poeta recentemente falecida.

Sucesso entre críticos mais jovens, lançou ao estrelato Liv Tyler, conhecida pelo clipe de "Crazy", do Aerosmith, banda de seu pai.

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"Os sonhadores" (2003)

Elenco: Michael Pitt, Eva Green, Louis Garrel.

Sinopse: Passado durante os levantes estudantis de Paris em 1968, fala de um universitário americano que chega à capital francesa e conhece um casal de irmãos com quem divide paixões - entre elas, o cinema.

Sucesso de bilheteria internacional, o filme foi saudado como um retorno de Bertolucci ao seu melhor.

O Bonequinho viu: as críticas do GLOBO para os principais filmes de Bernardo Bertolucci

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RIO — Em atividade desde a década de 1960, o cineasta italiano Bernardo Bertolucci saiu de cena nesta segunda-feira, aos 77 anos. Criador de clássicos como "O último tango em Paris" e "O último imperador", ele era considerado um mestre do cinema italiano e mundial, e recebeu uma Palma de Ouro honorária em 2011 no Festival de Cannes pelo conjunto de sua obra.

Ao longo de sua carreira, Bertolucci colecionou clássicos, devidamente analisados pelo Bonequinho do GLOBO. Abaixo, uma lista de críticas que cobrem desde "O conformista" (1970) até seu trabalho derradeiro, "Eu e você" (2012): Links Bertolucci

"O conformista" (1970)

Bonequinho aplaude de pé

Lançado no Brasil em 1971, o filme é uma adaptação do romance homônimo de Alberto Moravia. Nele, um intelectual se aproxima do regime fascista de Mussolini e deve assassinar um antigo professor.Original_movie_poster_for_the_film_The_Conformist.jpg

Naquele ano, o crítico Fernando Ferreira afirmava que o filme era fascinante. "'O conformista' é, também, admirável visualmente. A composição de imagens revela um preciosismo estético que não se vê com frequência, com sua carga de influências expressionistas e a reminiscência de um rebuscamento artesanal confessadamente assimilado no cinema caligráfico de Max Ophüls", apontou.

"O último tango em Paris" (1972)

Bonequinho aplaude de pé

Clássico de Bertolucci, o filme estrelado por Maria Schneider e Marlon Brando, que viria a se tornar também a grande polêmica do diretor, gira em torno de um viúvo americano que conhece uma jovem parisiense no apartamento que ambos querem alugar, onde iniciam um romance.

Lançado no Brasil apenas em 1979, o filme foi analisado em novembro daquele ano por nada menos do que quatro críticos do GLOBO: Fernando Ferreira, Miguel Pereira, José Carlos Monteiro e Maribel Portinari. Todos foram unânimes em dar a avaliação máxima para o longa.63517451_SC - Último tango em Paris de Bernardo Bertolucci.jpg

"'O último tango' é, de fato, uma obra construída em ritmo rigorosamente solucionado e consequente e numa atmosfera onde o violento e contudente jamais excluem o intensamente poético e dramático e a composição requintadamente gerada", disse Ferreira.

Já Mirabel falou sobre o atraso no lançamento do filme, por conta da censura: "Esta sua parábola sobre a incomunicabilidade revela um cineasta com pleno domínio do métier, um dos poucos de sua geração que tem algo realmente de novo a dizer. E se o filme chega aqui com vários anos de atraso, não perdeu a atualidade, no contrário do que aconteceu a outros banidos recentemente exibidos, como por exemplo 'A comilança' e 'Laranja mecânica'".

"O último imperador" (1987)

Bonequinho aplaude de pé

No fim de março de 1988, chegava aos cinemas brasileiros "O último imperador", vencedor de nove Oscars (incluindo melhores filme e diretor) e quatro Globos de Ouro. Com John Lone, Joan Chen e Peter O'Toole no elenco, o filme abordava a vida de Puyi, o último imperador da China, desde sua infância na Cidade Proibida de Pequim até o final de sua vida, como prisioneiro do regime comunista chinês.MV5BMTQ3NTc2MTU2Ml5BMl5BanBnXkFtZTcwNDI0OTkzNQ@@._V1_SY1000_CR0,0,1480,1000_AL_.jpg

O crítico José Carlos Monteiro exaltou a plasticidade da película, que descreveu como "deslumbrante": "os amplos movimentos de câmara destacam o esplendor da corte, os precisos enquadramentos ressaltam a imponência dos ambientes palacianos e a soberba orquestração dos planos salienta o movimento pendular entre o exterior e o interior".

"O céu que nos protege" (1990)

Bonequinho aplaude sentado

Pela primeira vez, Bertolucci não conseguia a avaliação máxima do GLOBO. No ano em que completou meio século de vida, o italiano lançou um filme sobre um casal de americanos que viaja para a África em busca de uma revitalização para o seu casamento, mas logo se vê às voltas com novos problemas.302-O-C-C3-A9u-Que-Nos-Protege.jpg

Para o crítico Luciano Trigo, "o clima opressivo e a exótica geografia do Saara produzem um imediato efeito de estranhamento que torna o espectador cúmplice da solidão do casal. Porém, fica a impressão de que, "menos estrangeiros no lugar que no tempo", Kit (Debra Winger) e Port (John Malkovich) vivem um exílio muito pior que o geográfico. O Bonequinho ainda chamou a película de "obrigatória".

"O pequeno Buda" (1993)

Bonequinho olha x Bonequinho aplaude sentado

Estrelado por Keanu Reeves e Bridget Fonda, o filme começa com monges budistas tibetanos encontrando três meninos (dois nepaleses e um americano). Eles acreditam que um deles por ser a reencarnação de seu grande mestre.

O filme dividiu opiniões e, no GLOBO, acabou ganhando um duelo de Bonequinhos. Ely Azeredo aplaudiu sentado o que chamou de "fábula à moda Spielberg", adicionando que Bertolucci "fez um filme palatável para as grandes plateias": "belíssimo espetáculo. E filme sem maior significação na obra de Bertolucci".MV5BMjAxNTkyNjI1MF5BMl5BanBnXkFtZTgwNzIxMDI0MTI@._V1_SY1000_CR0,0,1508,1000_AL_.jpg

Roni Filgueiras, por sua vez, foi mais cético. Seu Bonequinho só olha. "O que se anuncia como um instigante embate filosófico-cultural resulta em soluções improváveis e dramas superficiais. Paralelamente, corre a fábula — e o melhor do filme — da vida do príncipe Sidarta (Keanu Reeves), o Buda", ponderou.

"Beleza roubada" (1996)

Bonequinho aplaude sentado

Responsável por lançar ao estrelato Liv Tyler, o filme conta a história de uma americana de 19 anos que viaja à Toscana para passar uma temporada na villa de amigos da mãe, poeta recentemente falecida.image.jpg

O crítico Carlos Helí de Almeida considerou a volta do diretor às paisagens italianas uma "formosura espiritual e paisagística": "o diretor preocupa-se em criar ambientes, acentuando o contraste entre a cultura da visitante e a adotada pelos anfitriões".

"Os sonhadores" (2003)

Bonequinho aplaude em pé

Passado durante os levantes estudantis de Paris em 1968, o filme fala de um universitário americano (Michael Pitt) que chega à capital francesa e conhece um casal de irmãos (Eva Green e Louis Garrel) com quem divide paixões — entre elas, o cinema.60184188_Filme - Os Sonhadores.jpg

Foi celebrado como um retorno de Bertolucci ao seu melhor. Para Bruno Porto, crítico do GLOBO, o filme "ameaça ser uma viagem romântica pelo maio de 1968 e vira uma crítica contundente à geração que ia mudar o mundo".

"Eu e você" (2012)

Bonequinho aplaude de pé

"Eu e você" é o primeiro e único filme de Bertolucci na atual década, e também o último de sua carreira. O longa se passa num porão em que o jovem Lorenzo (Jacopo Olmo Antinori) se esconde durante uma semana e no qual sua meia-irmã Olivia (Tea Falco) se abriga ocasionalmente. MV5BODA2NDg3ODg5NV5BMl5BanBnXkFtZTcwOTY4NDA4Nw@@._V1_SY1000_CR0,0,1503,1000_AL_.jpg

Para André Miranda, "Eu e você" é "um retrato da relação entre a dupla e de como um pode descobrir no outro um caminho para se reerguer. Mas a condução por Bertolucci é tão precisa que um porão desarrumado e escuro passa a ser o lugar mais seguro do mundo para aqueles dois".

Crítica: Wilson Moreira, o samba pelos olhos de uma criança grande

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RIO - O samba aparenta não ter mistérios — mas só até o momento em que alguém tenta fazer um. Wilson Moreira era um desses artistas que faziam parecer simples algo que, na verdade, é a longa depuração de um sem número de tradições, tudo dentro da forma restritiva mas muito efetiva da canção. Em seus pouco mais de 80 anos de vida, Wilson trabalhou para se tornar o guardião desse segredo do samba — e o samba está presente, em sua mais destilada essência, nas gravações que compõem “Tá com medo, tabaréu”, aquele que viria a ser seu álbum póstumo.

A realização castiça, carinhosa e sem grandes luxos de Paulão 7 Cordas ressalta a verdade sem a qual o disco desabaria: é a voz castigada de Wilson Moreira (ecoando os Cartolas e Nelsons) que está lá, defendendo seus sambas de uma pureza tal que só mesmo sendo criança de alma para poder compor com propriedade.

Não tem faculdade que não a do samba que ensine tudo o que se deve saber na vida, aponta Wilson em “Notoriedade (o bacharel)”, na qual reconhece a descendência de uma longa linhagem negra expressa ao longo dos anos no jongo, no lundu e no maracatu. “Kabula” (parceria com Toninho Nascimento) aprofunda o estudo das ancestralidades, em especial na sua ligação com a natureza — que, por sinal, emerge como tema primordial das comoventes “O meu passarinho” e “A avezinha”, esta com o seu terno libelo pelos direitos dos animais num mundo adulto, cada vez mais desprovido de sentimento ou de compaixão.

Não precisa de muito para gostar de um samba como “Verão em festa” — “O sol, o luar / o frescor natural / a brisa / vem vaporizada em alegria / me faz sorrir”. Simples assim, mas recheado de vivência. Wilson Moreira deixa a lacuna de uma biblioteca de Alexandria, cuja grandiosidade ele conseguiu sintetizar em “Meu jeito de cantar”: “Vamos pensar em bloco / pelas brisas, levezas, qual flocos / sorrir, saber para ensinar”. É preciso muita sabedoria para voltar a ser criança.

Cotação: Ótimo


Show-tributo celebra memórias de infância de Wilson Moreira vertidas em sambas inéditos

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RIO - A mãe “soberana, universal”; o vendedor de peixe que batia na porta oferecendo “anchova, arraia miúda, sardinha” (“Levando dois paga um/ Camarão, abadejo, atum”); o passarinho que “vinha cantando e me consolando”; a pipa no alto e o grito de “tá com medo, tabaréu?”, provocação com os outros meninos que fugiam de “cruzar” (a batalha no ar, quando um tenta cortar a linha do outro). Todos esses são fragmentos da memória da infância de Wilson Moreira, matéria do disco de inéditas que o compositor (morto em setembro) deixou pronto. Batizado exatamente de “Tá com medo, tabaréu?”, o disco será lançado nesta terça, em show no Teatro Rival.

— São lembranças de um Realengo muito rural, que retratam uma proximidade com a natureza e o respeito a ela — avalia Camilo Árabe, produtor de “Tá com medo, tabaréu?”. — Em meio a isso, elementos de cultura negra que ele trazia muito naturalmente de menino, das rodas de calango. E figuras como o personagem da canção “Vendedor de peixes e frutos do mar”. E as brincadeiras de seu tempo de criança, quando ele tinha o apelido de Amendoim.

O projeto do disco — idealizado por Wilson com sua mulher, a pesquisadora e produtora Angela Nenzy — já vinha da década passada. Mas ele saiu do papel apenas quando Árabe, que conheceu o compositor ao levá-lo para se apresentar em Salvador, começou a articular maneiras de viabilizá-lo. Uma campanha de financiamento coletivo garantiu que o trabalho ficasse pronto, com direção musical e arranjos de Paulão 7 Cordas.

Emoção no estúdio

Wilson tinha cerca de 20 músicas baseadas nesse universo de sua infância. Foram escolhidas dez para o disco, que marca a volta do artista ao estúdio depois de duas décadas.

— Foi um processo delicado, fizemos um calendário de ensaios e gravações respeitando a idade e as limitações impostas pela sua saúde (Wilson sofria de diabetes e tinha câncer na próstata). — conta Árabe. — Mas conseguimos e ficamos muito satisfeitos com o resultado. Wilson parecia sempre estar na primeira gravação de sua vida. Era muito sensível. E se cobrava muito, queria ter um desempenho de menino no estúdio, apesar de estar com 81 anos. Adorava ver os músicos passando as bases, contava muitas histórias, se emocionava com as lembranças.

O show de lançamento foi marcado quando Wilson ainda estava vivo, e a ideia era tê-lo no palco. Com sua morte, a noite desta terça passou a ser não só uma apresentação do disco mas, sobretudo uma celebração de sua obra. Passam pelo teatro Fabiana Cozza, Áurea Martins, Ana Costa, Didu Nogueira, Makley Matos, Marquinhos de Oswaldo Cruz, Paulão 7 Cordas, Tânia Machado, Agenor de Oliveira, Darcy Maravilha, Fernando Bento e Susana Dal Poz.

— Além de oito músicas do disco novo, serão lembrados clássicos de samba — diz Árabe, referindo-se a sambas como “Senhora Liberdade” e “Coisa da antiga”. — É muito bonito que o final da caminhada dele tenha sido sob a regência das crianças. Ele tinha uma pureza que o aproxima delas.

Essa pureza aparece, lembra o produtor, em “Omi beijada”, uma das inéditas do novo disco, que tem versos como “Ibeji/ Germinai pro mal a cura/ Dai justiça e fartura/ Pra pequena criatura florescer/ Concedei/ Divindade à semelhança/ Travessura na lembrança/ Não deixai a inocência se perder”.

Onde: Teatro Rival — Rua Álvaro Alvim, 33/37 (2240-9796).

Quando: Hoje, às 19h30m.

Quanto: R$ 60 e R$ 40 (100 primeiros pagantes).

Classificação: 18 anos.

Seminário ‘BRASIL, brasis’ debate liberdade de expressão na ABL

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RIO — A Academia Brasileira de Letras (ABL) dá continuidade à série de Seminários “Brasil, brasis” de 2018 com o tema A liberdade de expressão: da luta contra a censura às fake news, coordenação geral do Acadêmico, professor, escritor e poeta Domício Proença Filho (quinto ocupante da Cadeira 28, eleito em 23 de março de 2006), e coordenação da Acadêmica, escritora e ensaísta Rosiska Darcy de Oliveira (sexta ocupante da Cadeira 10, eleita em 11 de abril de 2013). Os participantes convidados são a diretora de redação da revista Época, Daniela Pinheiro, e o professor da FGV Pablo Cerdeira.

A Acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira adiantou, sucintamente, o que pretende debater o seminário:

— A liberdade de expressão foi uma conquista da sociedade brasileira, consagrada na Constituição de 1988, depois de um período ditatorial, muito tolhida pela censura. Foi uma conquista difícil e que nos deu, nos anos seguintes, uma grande possibilidade de debater livremente.

Rosiska disse, ainda, que a sociedade se transformou naquilo que deve ser, uma sociedade democrática, um grande campo argumentativo.

— Nesse período, muitas minorias conseguiram colocar suas posições, suas expressões, quando, de um tempo para cá, começaram a aparecer, na própria sociedade, sinais de intolerância, tentativas de censura a obras de arte e exposições. E isso é preocupante.

A coordenadora afirmou, também, que “ao mesmo tempo, na eleição do Presidente Trump, dos Estados Unidos, surgiu o fenômeno das notícias falsas, as fake news, que têm a capacidade de impactar fortemente os resultados eleitorais. Isso é preocupante e coloca em pauta o debate sobre a liberdade de expressão. Como enfrentar, por um lado, os desejos de censura, que não são bem-vindos, e, por outro lado, a defesa dos bons costumes, que se transformam em mal costumes, juntamente com as notícias falsas, que prosperam, e estão, realmente, transformando-se num péssimo hábito”.

Participantes

Diretora de redação da revista Época, Daniela Pinheiro é formada em jornalismo pela Universidade de Brasília. Entre 2015 e 2016, foi bolsista da John S. Knight Journalism Fellowships, na Universidade Stanford. Em seu currículo consta, também, passagens pela Folha de S.Paulo e pelo Jornal do Brasil. Durante dez anos, trabalhou na revista Veja, nas sucursais de Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). Por outros 11 anos, esteve na revista Piauí, onde foi repórter especial e editora do site e de novos projetos. Ganhou quatro vezes o “Troféu Mulher Imprensa” e, três vezes, o “Prêmio Comunique-se”, como melhor repórter de mídia impressa.

Pablo Cerdeira é professor da FGV direito Rio e Coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade – CTS/FGV e membro do Conselho do Cesar – Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, desenvolvendo projetos com foco nos impactos que as novas tecnologias, como os grandes volumes de dados (big data), as redes sociais e a inteligência artificial, exercem sobre a sociedade. Advogado formado pela Universidade de São Paulo em 2002, atua há mais de 15 anos com Direito e Tecnologia. Foi coordenador do Prêmio Innovare e do Justiça Sem Papel pela FGV. Atuou na Reforma do Poder Judiciário e foi Chefe de Gabinete no CNJ em suas duas primeiras composições (2005/2007 e 2007/2009).

Na FGV, criou o Supremo em Números em 2009. Cerdeira foi Subsecretário de Defesa do Consumidor na Cidade do Rio de Janeiro e Chief Data Officer da Prefeitura do Rio de Janeiro, chefiando o Escritório de Big Data da Prefeitura do Rio de Janeiro entre 2013 e 2016. Recebeu o Prêmio Spencer Vampré da Universidade de São Paulo em 2004, no mesmo ano em que foram premiados antigos alunos como Mino Carta, José Mindlin, Lygia Fagundes Telles, Rubens Ricupero, Nelson Pereira dos Santos, Juca de Oliveira, Victor Siaulys entre outros.

Serviço

Teatro R. Magalhães Jr., 280 lugares, Avenida Presidente Wilson 203, Castelo

Data: 27/11/2018, terça-feira, às 17h30min

Entrada franca

Telefone: 3974-2500

No 'Lady Night', Caetano beija Tatá Werneck, faz flexões e relembra experiência com Ayahuasca

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RIO — Sucesso no Multishow, o "Lady night" chega a sua terceira temporada com a apresentadora Tatá Werneck a todo vapor. A"vítima" da vez foi Caetano Veloso que, bem a vontade, participou do programa veiculado na segunda-feira (26). E teve espaço para tudo: desde cena romântica com beijaço entre o cantor e Tatá; até depoimento do baiano sobre a época da ditadura militar no Brasil.

O programa foi recheado de momentos irreverentes, como quando o músico de 76 anos se agachou para fazer flexões no palco, algo que nunca havia feito na TV. "Chupa, Bial", disse a apresentadora. Em outro momento Caetano comentou sobre sua relação com as drogas nos anos 1960 e 1970.

"Bebi muita cerveja e cachaça, depois deixei a cachaça e fiquei só na cerveja. Mas nunca me liguei às outras drogas. Eu nunca tomei ácido. Tomei Ayahuasca. Uma vez, no apartamento, o Gil trouxe animadão, e eu tomei. Realmente eu vi muitas coisas", disse Caetano sobre a experiência com a planta sagrada do Daime.

"Vi corpos de pessoas indianas, homens e mulheres, todos nus, que dançavam formando mandalas, e essas mandalas iam desenhando um rosto, que era o rosto do centro de tudo, um deus, fiquei horas sofrendo por estar maluco e muito consciente de que estava maluco", completou. Lady night

Mas o ápice da apresentação, que arrancou gargalhadas da plateia, foi mesmo o beijo em Tatá. A apresentadora propôs que eles improvisassem uma cena. Ela iniciou a brincadeira dizendo que gostaria dar aulas de violão a Caetano. Fazendo piadas e poses provocativas a atriz partiu para cima do músico e lhe tascou um beijo. Após a investida garantiu ao cantor que estava "higienizada".

Também teve espaço para papo sério no programa. O músico relembrou o período do Regime Militar no Brasil, de 1964 a 1985, dando um depoimento sobre sua prisão e o exílio. Ele ainda criticou quem pede a volta da ditadura. Links Tatá

"Essas ilusões a respeito da ordem, da segurança, durante a ditadura, são ilusórias. Durante a ditadura, eu fui preso, fiquei dois meses na cadeia, sendo que uma semana fiquei numa solitária, deitado no chão, com uma porta de ferro, sem que ninguém me dissesse por quê.Não fui interrogado, que havia também desorganização e desrespeito pela pessoa humana, e eu não sofri tortura. Conheço pessoas que sofreram, algumas morreram, foram assassinadas. Tem gente que fica elogiando, achando que era bom, não era bom. Isso eu não admito", disse.

Caetano ainda refletiu sobre o problema da desigualdade social no Brasil, e sua relação com o passado escravocrata do país.

"Nós somos um país gigante, de tamanho continental, no hemisfério sul, altamente miscigenado, com a maior quantidade de negros que qualquer país do mundo fora da África, e nós falamos português, não é nem espanhol, e ainda horrivelmente desigual. A distribuição de renda no Brasil é uma tragédia! É a doença da desigualdade. Vem da escravidão, e precisa vir a segunda abolição", afirmou.

Afinal, novo 'Rei Leão' é ou não é 'live-action'?

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RIO — O primeiro trailer da nova versão de "O Rei Leão" disparou uma onda nostálgica, deixando fãs ansiosos para conhecer a nova cara do pequeno Simba. O teaser se tornou o mais visto da Disney em suas primeiras 24 horas no ar e, diante do cenário hiperrealista da produção do diretor Jon Favreau, logo levantou uma discussão sobre como definir a refilmagem: afinal, é ou não é live-action?

Links Rei LeãoPara quem ainda está pouco familiarizado com o termo, live-action é a definição usada para filmes nos quais os personagens são vividos por atores reais. Para ficar no próprio universo Disney, um exemplo recente é o filme "Malévola" (vivida por Angelina Jolie). Mesmo tendo apenas animais entre os seus personagens, as técnicas modernas usadas no novo "Rei Leão" deixaram algumas pessoas confusas.

O cineasta Eduardo Calvet, diretor de "Luz, anima, ação", documentário sobre a história da animação brasileira, entende de onde pode vir essa dúvida. Para ele, é crucial a performance dos atores que fazem as expressões dos animais através da tecnologia de captura de movimentos (popularizada principalmente pelo Gollum de "O Senhor dos Anéis). Ele chama ainda atenção para a presença de cenários reais, com retoques de computação gráfica, assim como foi feito em filmes como "Vingadores" e "Star Wars".

aeafeafe.jpg— Essa polêmica é interessante porque estamos num momento muito híbrido. Temos técnicas mistas, conjuntos separados que hoje estão se aproximando. É sim um live action, mas é importante dizer que em nenhum momento há um ator atuando sem o trabalho do animador por trás. Os atores nunca estão livres das cordas manipuladas pelo animador.

Idealizador do festival Anima Mundi, Marcos Magalhães discorda. Para ele, o caso é diferente do novo "Mogli", de 2016, (também dirigido por Favreau). Se nesse caso havia um ator de verdade atuando, no novo "Rei Leão" todos os movimentos dos personagens dependem do trabalho da equipe de animadores. Portanto, o filme de Favreau seria uma animação.

— Não é live-action. Para se chamar assim, teria que haver uma imagem, uma fotografia acontecendo diretamente diante da câmera. No live-action se pega emprestado imagens da realidade, se recria uma realidade.

TrailerReiLeão

Para Magalhães, o trabalho criativo dos animadores acaba sendo preterido nessas superporduções pela atuação de artistas famosos. O novo "Rei Leão" tem no elenco nomes como Donald Glover, Beyoncé e Seth Rogen. Ele argumenta ainda que a captura das expressões pelo motion capture não é tão imediata, e depende muito do processo de animação.

A mesma opinião é compartilhada pelo cartunista e cineasta Otto Guerra, diretor de "Wood & Stock: sexo, orégano e rock'n'roll".

— É uma animação hiperrealista. Já faz um tempo que os estúdios estão fazendo essas produções que simulam a realidade. No trailer, percebe-se que as interpretações são manipuladas, não são reais.

Computadores fazem arte

A Disney ainda não divulgou detalhes dos bastidores da produção ou das tecnologias usadas no filme, com lançamento previsto para julho de 2019. Porém, a discussão sobre a divisão entre perfomance e animação não é de hoje. A medida que os efeitos digitais vão se tornando mais sofisticados, uma quantidade crescente de filmes de ação tem grande parte de suas cenas criadas por computadores — ou seja, por equipes de animadores.

Em 2002, o filme "Stuart Little 2", estrelado pelo ratinho animado entre atores e cenas reais, foi indicado na categoria de animação do Oscar. Apesar de não ter levado a estatueta, acabou gerando um grande debate na Academia sobre as fronteiras entre esses gêneros.

Como lembra Calvet, após o lançamento de "O Senhor dos anéis", houve um debate na Academia sobre a possibilidade de Andy Serkis, ator que interpretou Gollum, concorrer ao Oscar de melhor ator.

— Outro exemplo é Avatar. O que é aquilo? Metade da perfomance dos atores e daquele planeta tem o trabalho dos animadores controlando as "cordas do personagens". E esse filme ninguém discutiu se era ou não live-action.

Uma coisa é certa: o novo "Rei Leão" é bem diferente do original de 1994, este sim, consensualmente, uma animação.

— A versão dos anos 90 é um desenho clássico, em 2D. É uma animação sofisticadíssima — diz Otto Guerra.

Rei leão 1994 trailer

Para Magalhães, a tendência de animações hiperrealistas nascidas com as produções 3D da Pixar, acabam apontando para um empobrecimento da linguagem do gênero.

— Se torna uma obviedade. Eles vão contar uma história poética com imagens que vão ficar obsoletas, porque virão tecnologias mais avançadas que trarão ainda mais possibilidade de realismo. Já o traço de um artista, como os quadros do Van Gogh, ou os desenhos clássicos da Disney, vão sempre ficar no imaginário.

Morre Stephen Hillenburg, criador do 'Bob Esponja', aos 57 anos

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LOS ANGELES — O criador do desenho animado "Bob Esponja Calça Quadrada", Stephen Hillenburg, morreu nesta segunda-feira, aos 57 anos, informou o canal de televisão Nickelodeon no dia seguinte à sua morte.

"Estamos incrivelmente entristecidos pela notícia de que Steve Hillenburg morreu após uma batalha contra a esclerose lateral amiotrófica (ELA). Ele foi um amigo querido e um parceiro criativo de longa data para todos na Nickelodeon, e nossos corações estão com sua família", disse o canal em nota.

Hillenburg revelou em 2017 que estava sofrendo da doença degenerativa, que afeta os neurônios responsáveis pelos movimentos do corpo e causa a perda do controle muscular. Links animação

Nascido no estado de Oklahoma, o americano se formou Humboldt State University em Planejamento e Interpretação de Recursos Naturais, com ênfase em recursos marinhos, em 1984. Segundo a "Variety", antes de enveredar para o ramo do entretenimento, Hillenburg deu aulas de biologia marinha em uma faculdade da Califórnia.

A combinação de paixão pelo assunto e talento artístico o levou a escrever e ilustrar histórias, usadas inicialmente como material didático. Foi nessa época em que criou o que viriam a ser os personagens da Fenda do Biquini, lar do Bob Esponja.

39137183_0307.2003 - Divulgação - E mail - TV EXCLUSIVO - Stephen Hillenburg criador de Bob Esponja.jpgEm 1987, formou-se em animação experimental na California Institute of Arts, tornando-se, em 1992, mestre em belas-artes.

O primeiro grande trabalho na televisão foi entre 1993 e 1996 como diretor e roteirista da série de animação "A vida moderna de Rocko", também da Nickelodeon.

A partir daí, Hillenburg passou a se dedicar integralmente na criação, produção e dirreção do desenho animado que viria a ser "Bob Esponja Calça Quadrada". O primeiro episódio foi ao ar no dia 1º de maio de 1999. Até o momento, o canal já transmitiu cerca de 250 episódios da série, ganhando apelo não apenas entre crianças, mas também em públicos mais velhos.

"Bob Esponja" já venceu dezenas de prêmios (como o Emmy) e foi dublado ou legendado para mais de 60 línguas. Os personagens também tomaram o cinema, em filmes como "Bob Esponja: O filme" (2004) e "Bob Esponja: Um herói fora d'água" (2015). A história ainda foi adaptada para um musical da Broadway, indicado a 12 categorias do Tony Awards deste ano, vencendo a de melhor cenografia.Sponge.jpg

Hillenburg deixa a mulher, Karen, e o filho, Clay.

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