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Em seu segundo romance, Luis Erlanger dá chance ao protagonista de reescrever sua vida

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RIO — O jornalista e escritor Luis Erlanger é bom de títulos. São dele nomes de novelas de sucesso como "Senhora do destino" e "O cravo e a rosa", dos tempos em que dirigiu a Central Globo de Comunicação. E a partir de um título que bolou — "Cinza, carvão, fumaça e quatro pedras de gelo" — nasceu seu segundo romance, a ser lançado na próxima segunda-feira, na Livraria da Travessa do Leblon.

— Eu sabia que o título seria esse. E a história veio prontinha na minha cabeça — conta Erlanger, que costuma dormir com um bloquinho de anotações na cabeceira, avisando que vai dar um primeiro spoiler do livro. — As únicas coisas inevitáveis na vida são cinza, carvão, fumaça e gelo. A partir desses elementos tudo começa e acaba. Viemos do pó e ao pó voltaremos.

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Pois é do gelo que brota a história do protagonista, que acorda gravemente ferido no meio de um lixão, na Baixada Fluminense, acreditando que tentaram matá-lo. Dado como desaparecido, ele começa uma nova vida, com identidade falsa. Em seus planos estão executar corruptos e escrever um best-seller. O tema é contemporâneo. E, no prefácio, Erlanger adverte: "Este livro é uma obra de ficção inspirada livremente em eventos reais. Personagens, situações e outros elementos foram adaptados para efeito dramático". Vindo de um autor com mais de 40 anos de carreira na imprensa, o leitor desavisado — e que não leu seu livro anterior, "Antes que eu morra", em que usava as ferramentas da reportagem a serviço da “desinformação” — embarca na narrativa buscando conexões com a realidade.

— Cascata! Eu não me baseei em nada — confessa às gargalhadas o ex-editor-chefe do GLOBO de 1991 a 1995, que em 2014, após mais de uma década na TV Globo, partiu em busca de "novos desafios na área cultural". — O spoiler dos spoilers é essa advertência. O que dá credibilidade à ficção é cercá-la de verdade.

O autor conta que tem muito orgulho de sua formação de jornalista e fala como esta experiência é útil. O novo livro nasceu com 400 páginas. Pouco antes de mandá-lo para a editora, porém, ele teve problemas no computador e perdeu o arquivo com todo seu conteúdo. Conseguiu recuperar uma versão antiga, e aproveitou para reescrever tudo em apenas 200 páginas.

— Meu apelido nas redações era Erlanger mãos de tesoura. Cortar textos é uma arte tão importante quanto escrever. E, assim, o conteúdo ficou dentro da lógica de um livro que fala que as coisas acabam rapidamente.

Erlanger não pensou só no conteúdo do livro. Idealizou o produto como um todo, pedindo, inclusive, que suas bordas fossem pintadas de preto, para remeter ao carvão. Até um projeto de capa ele elaborou, mas acabou concordando que o resultado ficou muito sombrio, o que a história está longe de ser. Gostou da capa proposta por Renata Zucchini, mas pediu para mudar um detalhe: na versão original, o personagem tinha um rifle na mão que parecia estar apontado para a cabeça:

— Achei que poderia remeter a suicídio. E sugeri trocar por uma arma mais poderosa: um livro. Ficou mais para cima. O livro não é de humor, mas não é denso.

Em "Antes que eu morra", já se valendo de seu humor cáustico, Erlanger aborda uma crise existencial individual que vira uma crise da Humanidade. O protagonsita conclui que o Homem não deu certo.

— Agora, fiz o contrário. E se o ser humano pudesse reescrever a sua vida? Mudei a história da minha vida de forma radical, como meu personagem — lembra ele, que desde agosto vive em Portugal com a mulher, Mariana, e os trigêmeos Leonardo Carolina e Gustavo, Erlanger. — Esse meu protagonista tem uma oportunidade. E passa a fazer as coisas mais doidas, como comprar uma arma para matar corruptos.

As semelhanças com seu personagem central na trama não vão muito além do movimento de mudança:

— Meu protagonista, não eu, faz uma crítica à nossa elite, à qual pertence. Não só a financeira, mas a intelectual também. Mas eu não compartilho da história de que bandido bom é bandido morto.


Estreia no Brasil documentário que desvenda mistérios de Betty Davis, pioneira do funk americano

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Fenômeno editorial planetário, ‘A amiga genial’ enfim chega à TV no domingo

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Saiba de onde vieram os tesouros da mostra 'São Francisco na arte de mestres italianos'

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Julia Vargas e Caio Prado recriam 'Domingo', do Só Pra Contrariar

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RIO - Julia Vargas e Caio Prado estavam definindo o repertório do show que fazem na terça, dia 27, no Teatro Ipanema, pela série A.Nota. O cantor sugeriu que eles incorporassem uma canção realmente popular ao roteiro do encontro e a ideia ficou no ar. Depois, no ensaio, Julia cantarolou o "domingo" do primeiro verso do sucesso do Só Pra Contrariar. No mesmo instante, Caio disse: "é essa!". E foi exatamente "Domingo" que a dupla escolheu para mostrar no Toca no Telhado — acompanhados pelo vibrafone de Lourenço Vasconcelos, exatamente a mesma formação que terão no palco.

— Pensamos em, neste momento, levar aos corações uma canção tranquila, amorosa. Um afago. Tem tudo a ver com nosso momento, a gente quer desabafar, falar de amor — defende Caio. — E ela traz a comunicação com o povo, com a base, que precisamos hoje.

O repertório inclui canções como "Morro velho" (Milton Nascimento), “Para ver as meninas” (Paulinho da Viola), “Asa” (Djavan) e “Maluca” (Luís Capucho), além de músicas dos discos de Julia e Caio.

— Fiz várias encomendas a Caio, já imaginava canções como "Morro velho" na voz dele. Juntos, reparamos que nossos timbres são diferentes mas estamos numa mesma região. Praticamente todos os tons casaram — conta Julia.

Atravessando o show, Caio explica, há a ideia de lançar um olhar para o Rio:

— Esse show canta a vivacidade do Rio também. Traz dois artistas do Rio fazendo música independente, mostrando que ela está viva e, mesmo que sucateada, com uma efervesência muito grande.

A.Nota

Onde: Teatro Ipanema — Rua Prudente de Morais, 824 (2267-3750).

Quando: Terça, 27, às 21h.

Quanto: R$ 20.

Classificação: 14 anos.

Thiago Amud ataca Lobão em canção que fala de 'império de ressentidos'

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RIO - Com a paisagem do Rio de Janeiro ao fundo, o carioca Thiago Amud mirou e atirou seu violão em direção ao também carioca Lobão. O tiroteio foi musical: no projeto Toca no Telhado, em que artistas se apresentam no terraço do jornal O GLOBO, no Centro do Rio, Amud gravou a canção "Caetano tem razão". Nela, ele recorda críticas de Lobão a João Gilberto para falar de um "império de ressentidos" e afirmar que o roqueiro é "tal e qual um tio meu segundo quem Picasso pintava mal porque não sabia alinhar dois olhos num rosto só".

A letra de "Caetano tem razão" nasceu de um e-mail que Amud mandou para a Caetano Veloso há cerca de um ano. comentando os recorrentes ataques e declarações de Lobão sobre ícones da MPB. Em 2011, por exemplo, Lobão criticou João Gilberto pela gravação que o baiano bossa-novista fez de sua "Me chama". Lobão disse que João "tirou o ritmo de tragédia maníaca" da música. Já em 2013, quando lançou seu livro "Manifesto do nada na Terra do Nunca", Lobão posou para uma foto com uma frase escrita no papel: "Chupa Caetano".

'Caetano tem razão', Thiago Amud

Antes, o próprio Caetano havia usado a música para responder ao roqueiro. Em 2008, ele compôs "Lobão tem razão", em que cantava "Mais vale um Lobão / Do que um leão / Meto um sincerão / E nada se dá". O título naturalmente serviu de inspiração para Amud compor a sua "Caetano tem razão".

— Há pelo menos um ano e meio, eu escrevo para o Caetano e-mails que são tentativas de "transpolitização", para pensar essa questão que eu chamo de "olavização" do Brasil — disse Amud, em referência ao auto-intitulado filósofo de direita Olavo de Carvalho. — Na conversa, um dia eu escrevi para ele um texto em prosa, em que falei que ele tinha razão: João é punk, até terrorista. Então o Caetano me contou que o João, depois de ter se sentido agredido pelo Lobão nas falas, chegou até a recusar que tivesse gravado "Me chama".

Eu tenho que respeitar o Lobão, ele tem canções que eu acho muito bonitas. Então vou atacar um cara que tem aspectos que eu admiro? Mas aí ele fala coisas como 'Chico Buarque é um imbecil', então não posso ficar numa retranca de bom moçoAmud já havia cantado "Caetano tem razão" em shows, mas nunca havia gravado a música. Além de lembrar do cover que João Gilberto fez de "Me chama", a letra também ironiza comentários que o próprio Lobão fez sobre o rock nacional: "qualquer país civilizado tem uma cultura de rock desenvolvida, só a porcaria do Brasil fica com essa coisinha brejeira".

— Eu tenho que respeitar o Lobão, ele tem canções que eu acho muito bonitas. Então vou atacar um cara que tem aspectos que eu admiro? Mas aí ele fala coisas como "Chico Buarque é um imbecil", então não posso ficar numa retranca de bom moço — explica Amud. — Esse ataque que eu faço é sutil, não é uma vontade de desautorizar o Lobão. Mas tem que dar uma pancada, ele fica falando por aí que a música brasileira é um bando de bunda mole, sendo que ele se beneficiou da sacação maravilhosa de falar que o rock errou e colocar escola de samba para tocar com ele. Mas, de repente, uma bomba de ressentimento fez ele aderir a um levante neofascista, sem que ele seja isso. Bastava que ele dissesse que tem uma originalidade diferente disso tudo.

A gravação de "Caetano tem razão" foi a 32ª do Toca no Telhado. O projeto já recebeu artistas como Zeca Pagodinho, Novos Baianos, Sublime with Rome, Andru Donalds, Tim Bernardes, Humberto Gessinger, Lucy Alves e Rubel.

Quais as atribuições do cargo de Millie Bobby Brown, estrela de 'Stranger Things', no Unicef?

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RIO — A atriz Millie Bobby Brown, de apenas 14 anos, conhecida por seu papel como a paranormal Eleven na série "Stranger Things", da Netflix, foi anunciada como embaixadora da boa vontade para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), na última terça-feira, sendo a mais jovem a ocupar esse cargo na história. Mas o que faz o ocupante de tal cargo?

Links.MillieCom a função de embaixador do Unicef, a celebridade escolhida para o cargo se compromete a ajudar a melhorar a vida das crianças em todo o mundo. Por serem famosos e atraírem a atenção do público, pessoas como Millie conseguem trazer esses olhares para as dificuldades enfrentadas pelas crianças, em seus países de origem — a estrela de "Stranger Things" é britânica — e nos demais continentes.

E como isso é feito? Por meio de viagens nas quais os embaixadores visitam projetos e programas de ajuda emergencial implementados na maioria dos países.

Em seu discurso de posse para o cargo, a jovem mencionou a já falecida atriz Audrey Hepburn, a "Bonequinha de Luxo", que ocupou o cargo a partir de 1989.

Vídeo.Millie“Ao me tornar embaixadora da boa vontade do Unicef, compartilho o título com uma das minhas heroínas — a falecida Audrey Hepburn, que disse: 'À medida que você envelhece, descobrirá que tem duas mãos, uma para ajudar os outros e outra para si mesmo", disse Brown em uma coletiva de imprensa.

A atriz foi também a pessoa mais nova a figurar na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo da revista "Time", este ano. Em maio de 2019, ela estreia em "Godzilla 2: os reis dos monstros", além de ter sido convidada para ser a protagonista da série “Os Mistérios de Enola Holmes” (“Enola Holmes Mysteries”, em inglês), baseada na obra literária da escritora americana Nancy Springer.

Várias celebridades já estiveram ou continuam nesta função no Unicef. Na lista estão, entre outros nomes: as atrizes Audrey Hepburn, a famosa "Bonequinha de Luxo" (1989), Vanessa Redgrave (1995), Susan Saradon (1999), Mia Farrow (2000), Jessica Lange (2003), Whoopi Goldberg (2003) e Emma Watson (2014); os atores, Roger Moore (1991), Jackie Chan (2004) e Orlando Bloom (2007); na música, Judy Collins (1995), Shakira (2003), Ricky Martin (2003) e Katy Perry (2013); e, entre os brasileiros, Renato Aragão (1991), Sebastião Salgado (2001), Mauricio de Sousa (2007) e Lázaro Ramos (2009).

Jonas Sá canta índios aimorés, o corpo da cidade, sexo e política

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RIO - Nos primeiros minutos de “Puber”, disco de que faz show de lançamento hoje no Manouche, no Jardim Botânico, Jonas Sá se refere a uma flechada que desperta a paixão. Seu cupido é outro, porém.

— Não quero que a flecha de um anjo crave em meu coração, mas a de um aimoré, um guerreiro de um povo dizimado — diz Jonas.

'Puberdade', Jonas Sá

“Aimoré”, faixa que abre o disco, apresenta um tanto do espírito de “Puber”. Há no disco um caráter indígena, presente de forma evidente em canções como “Transamérica” e, de maneira menos óbvia, na percepção do espaço que se mostra em letra e música. Ele aparece também na nudez da poética e dos arranjos — a base são os violões de Pedro Sá (às vezes distorcidos por pedais) e sintetizadores analógicos. Um mergulho mais íntimo em seu universo — há, por exemplo, uma canção sobre sua filha, “Kim” — depois da exuberância de “Blam! Blam!”, seu elogiadíssimo segundo álbum.

— Em vários sentidos, inclusive pela história da Aldeia Maracanã, retomamos contato com o índio. Isso tem a ver com identidade, pertencimento.

'Golpes de estado encobertos por jornais covardes'

“Puber”, o nome expõe, é mudança, amadurecimento. Isso passa pelo reencontro com uma origem funda, mas também pela carga sexual (marcada na obra de Jonas) e política (há versos como “Golpes de Estado/ Encobertos/ Por jornais covardes”).

— Venho de um disco (“Blam! Blam!”) no qual o corpo fala de sensações, é pessoal. Agora canto um corpo político. Por isso que em canções como “Puberdade” a cidade é tão importante quanto as pessoas.

No show, Jonas tem a seu lado Marcelo Callado (bateria e percussões), Pedro Dantas (baixo), Donatinho (teclados) e Guilherme Lírio (guitarra).

Onde: Manouche. Casa Camolese. Rua Jardim Botânico, 983 (3514-8200).

Quando: Sáb, às 21h.

Quanto: R$ 40 (com 1 kg de alimento não perecível) e R$ 60.

Classificação: 18 anos.


Em tempos de 'modernidade líquida', o quilograma é mais um objeto a deixar de ser físico

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Artigo: Então, o que é um quilo?

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Crítica: uma reflexão crítica e bem-humorada sobre a sociedade brasileira, cada vez mais conservadora

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Michael Pollan: 'psicodélicos podem ajudar a lidar com a morte'

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Editora Cobogó, focada em cultura brasileira, completa 10 anos

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Vik Muniz se volta para a arte sacra e usa como matéria-prima recortes de catálogos para recriar pinturas

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Cineasta que dirigiu David Bowie e Mick Jagger, Nicolas Roeg morre aos 90 anos

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RIO - O cineasta Nicolas Roeg, diretor de filmes como "O homem que caiu na Terra" (1976), com David Bowie, e "Inverno de sangue em Veneza" (1973), morreu nesta sexta-feira, dia 23, aos 90 anos. Seu filho, Nicolas Roeg Jr,anunciou a morte no sábado. A causa não foi informada.

Roeg nasceu em Londres, em 15 de agosto de 1928, e começou a carreira em 1947, percorrendo vários postos na indústria do cinema. Foi assistente de montagem, passou à direção de fotografia e, finalmente, em 1970, diretor. Quando assinou seu primeiro filme, "Performance" (1970), já tinha um longo currículo (de 23 anos) na área. A produção não foi bem na bilheteria, mas teve o mérito de chamar a atenção para o cineasta. A crítica louvou a narrativa pouco convencional do filme, que teve como estrela Mick Jagger.

MV5BNTQxODIyNDI3Nl5BMl5BanBnXkFtZTgwMzU1NTU5MTE@._V1_SY1000_CR0,0,1492,1000_AL_.jpgUm ano depois lançou "A longa caminhada", sobre dois irmãos, um garoto e uma adolescente, que são deixados à deriva pelo pai no meio do deserto australiano. Mas foi em 1973 que dirigiu o que muitos consideram um de seus grandes trabalhos: "Inverno de sangue em Veneza", com Donald Sutherland e Julie Christie, um suspense com elementos sobrenaturais, frequentemente citado como um dos melhores filmes de terror já feitos.

Seu primeiro trabalho a chamar a atenção foi o de diretor da segunda unidade de "Lawrence da Arábia" (1962), o épico de David Lean. Ao mesmo tempo, trabalhou com grandes nomes do cinema, fazendo a fotografia de filmes como "Fahrenheit 451" (1966), de François Truffaut e "Longe deste insensato mundo" (1967), de John Schlesinger.


Na TV aberta e no streaming, viajantes no tempo tomam conta da televisão

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RIO - Uma endinheirada família paulista do século XIX é congelada durante um naufrágio e acorda 132 anos depois no Guarujá. Uma enfermeira inglesa do pós-guerra desembarca na Escócia de 1743 e se apaixona por um ruivo rebelde. Um adolescente alemão se entranha na floresta de sua cidadezinha e acaba regressando aos anos 1980, quando seus pais eram estudantes.

Não importa em qual canal ou plataforma, parecem não faltar viajantes no tempo na TV atualmente. Na TV Globo, duas novelas no ar tocam no assunto: enquanto “O tempo não para”, na faixa das 19h, acompanha as aventuras da tradicional família Sabino Machado nos tempos de hoje, em “Espelho da vida”, trama das 18h, a protagonista Cris Valência (Vitória Strada) é capaz de viajar entre épocas por meio de um espelho e, assim, descobrir como foram suas vidas passadas.

— Nada mais atraente do que imaginar que somos senhores do tempo, que, na verdade, nos escapa desde o momento em que nascemos. A ideia de dominar o tempo aguçou a fantasia de escritores e cineastas e atende à fantasia do homem comum, doido para escapar da realidade de seu dia a dia — resume Elizabeth Jhin, autora de “Espelho da vida”, sobre o apelo do assunto.

o tempo nao para.jpgJá o criador de “O tempo não para”, Mario Teixeira, acredita que personagens do passado como Dom Sabino (Edson Celulari) e Marocas (Juliana Paiva) são capazes de despertar no público a saudade de uma época que eles não viveram.

— Os congelados trazem consigo a nostalgia do que não vivemos, podemos pensar em como as coisas aconteceram e como tudo poderia ter se passado. Eles se questionam o tempo todo, se indignam, têm atitudes anacrônicas, controversas. O que para nós é comum, como uma pizza, para eles é uma grande novidade que, às vezes, não faz sentido — explica o autor.

Para Texeira, os personagens anacrônicos conseguiram conquistar o público porque atestam a capacidade de adaptação do ser humano, ao mesmo tempo em que comprovam que o que realmente importa são os sentimentos, e não as diferenças nos costumes.

— Acho que o que encanta as pessoas na nossa história é a procura por sentimentos comuns e reconfortantes que não têm época, como o amor e a amizade. Apesar da urgência da vida, todos queremos trabalhar e amar em paz. Somos iguais. Isso nos faz contemporâneos de Marocas e Dom Sabino — defende.

A noção de que sentimentos ultrapassam as barreiras do tempo faz parte também da premissa de “Outlander”. Baseada nos romances best-sellers de Diana Gabaldon, a série conta a história de amor entre a viajante no tempo Claire Randall (Caitriona Balfe) e o rebelde escocês Jamie Fraser (Sam Heughan), em uma trama que, além das cenas tórridas, inclui aventuras por diferentes períodos históricos. Com a quarta temporada no ar no Fox Premium, a série do canal americano Starz é acompanhada por 5,8 milhões de pessoas por episódio nos EUA e é uma das dez séries mais assistidas no aplicativo da FOX em toda a América Latina. Embora a fantasia seja responsável pelo apelo tão grande, a trama não foge de discutir questões como o papel da mulher na sociedade.79999708_SC - Viagens no tempo TV - a série Outlander da Fox (2).jpg

“A série lida com questões reais o tempo todo, mesmo aparentando ser uma história épica e fantástica. É um lugar seguro”, afirmou em entrevista recente ao “The New York Times” a atriz Caitriona Balfe.

A lista de produções no ar que usam o recurso da viagem no tempo ainda incluem “Dark”, produção alemã soturna da Netflix, a série de aventura espanhola “Ministerio del tiempo” e sua semelhante americana “Timeless” (ambas disponíveis no Globosat Play), a série de super-heróis da DC “Legends of Tomorrow”, no ar na Warner, e a clássica série de ficção científica da BBC “Doctor Who”, cuja nova temporada pode ser vista no serviço de streaming Crackle. Há ainda séries que passeiam por universos alternativos, como “The man in the high castle”, em que os protagonistas vivem em um mundo em que os nazistas venceram a Segunda Guerra Mundial, mas são capazes de se teletransportar para a nossa realidade.

É justamente quando as coisas ficam piores que a gente quer voltar no tempo e ficamos mais atraído por essas séries e filmes. A humanidade é a única espécie da Terra que se arrepende do passado e que gostaria de fazer correções.Doutorando em Filosofia pela USP, o escritor de sci-fi Alexey Dodsworth lembra que, de todos os temas com que a ficção científica lida, justamente a mais improvável delas é a viagem no tempo.

— É muito mais fácil um alienígena nos visitar do que voltarmos ao passado. Apesar de hipoteticamente ser possível, a energia necessária para isso seria equivalente à gerada por uma galáxia inteira — comenta ele, que vê nos tempos de crise um interesse maior por essa possibilidade.

— É justamente quando as coisas ficam piores que a gente quer voltar no tempo e ficamos mais atraído por essas séries e filmes. A humanidade é a única espécie da Terra que se arrepende do passado e que gostaria de fazer correções. É uma fantasia que poucas pessoas não tiveram ao longo da vida delas, de querer mudar coisas na história do mundo e nas trajetórias pessoais de cada um.

Autor de ‘Tupinilândia’, livro que explora a nostalgia dos anos 1980, o escritor Samir Machado de Machado concorda que seja a “saudade de um tempo não vivido” que motive tantas produções do tipo. Mas ele faz um alerta:

— Antigamente, talvez a vida fosse boa para quem tinha dinheiro, mas é bom lembrar que a TV não tem cheiro. Eu não tenho nenhuma nostalgia de tempos anteriores à invenção do chuveiro e da privada — brinca o escritor, que usa o mesmo argumento para falar sério:

— Existem dois tipos de nostalgia: uma de alimentar um sentimento de saudade, e outra em que a pessoa acredita que tudo era melhor antigamente e vive numa paranoia para fazer com que tudo volte a ser como era antes. Mas é bom lembrar que, considerando as liberdades civis, não era interessante ser gay, mulher ou negro em qualquer período anterior aos anos 1960.

Análise: 'A amiga genial' narra amizade nos limites entre a sororidade e a rivalidade

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RIO - Quem conseguiu passar os últimos anos alheio à misteriosa existência de Elena Ferrante pode ter dificuldades para entender por que uma série de TV sobre duas garotinhas gera tanta expectativa. Um ponto elementar a ser dito é que não se costumam fazer séries sobre garotinhas, não com a seriedade e ambição de “A amiga genial”.

A chamada “era de ouro da televisão” das últimas décadas foi construída em cima de protagonistas masculinos complexos. O pioneiro foi justamente um descendente da Itália de Lila e Lenu, o mafioso Tony Soprano. Em uma lista que figuram ainda o Walter White de “Breaking bad” e o Don Draper de “Mad men”, esses eram homens da ação. Humanos, mas capazes de atos atrozes, que precisavam lidar com o próprio mal que botavam no mundo.

Em “A amiga genial”, o mal já está posto no mundo, na banalidade da violência do bairro em que Lila e Lenu crescem — onde meninas podem ser arremessadas da janela pelo pai se quisessem estudar ou estupradas pelos vizinhos se aceitassem passear no carro deles. O mundo em que meninas dos anos 50 cresciam lhes dava pouca margem para agir sobre ele.

É por isso que os ares rebeldes — ou mesmo maldosos — de Lila vão parecer tão atraentes a Lenu. Em um universo que empurra as meninas para a domesticidade e a previsibilidade, cada ato de Lila é uma pequena revolução. Por isso, jogar uma boneca no buraco ou decidir atravessar o túnel que separa o bairro do restante da cidade ganham tons épicos. Lila cria pequenos terremotos, reconfigurando o mundo ao redor. amiga-genial-HBO

Desde a infância em busca de validação, Lenu percebe por meio de Lila que não precisa se contentar apenas em ser a mais aplicada aluna do bairro. Suas ambições podem ser maiores. É a relação com a amiga, sempre testando os limites entre a sororidade e a rivalidade, que vai fazer com que ela passe uma vida tentando superar não só as fronteiras geográficas, mas também os limites invisíveis do bairro, transpondo os muros que classe e gênero lhe impuseram. Ela eventualmente consegue isso, por meio do acúmulo de capital cultural, algo narrado do primário à aposentadoria em detalhes. Links amiga genial

Mas Lila está para Lenu como Capitu está para Bentinho: como só sabemos dela em segunda mão, pelo olhar turvo dos apaixonados, nunca saberemos se ela é tão brilhante ou tão cruel quanto a amiga é capaz de pintá-la. A forma como a narradora descreve a amiga diz mais sobre si mesma do que sobre o seu objeto.

Ao depositar na amiga o ideário da mulher transgressora, capaz de subverter e dominar o bairro, Lenu encontra a desculpa perfeita para justificar suas ações que, como vamos ver ao longo da saga, também fogem do que lhe era esperado. A impressão de que a amiga está sempre um passo à frente, de que ela tem total domínio do mundo em que vivem, lhe serve como provocação para ir atrás dos seus desejos, que deveriam morrer sufocados entre vielas de Nápoles.

A Lila com quem travamos contato é uma abstração dos desejos de Lenu. Mas, em certos momentos, conseguimos enxergá-la despida dos ares míticos que a amiga lhe dá. O que vemos é, sim, uma moça genial, mas massacrada pela única vida que lhe foi permitida ter. É uma história demasiado comum, uma história que não era para ser contada, e sim silenciada, como vemos que a própria tenta fazer já na velhice, ao “desaparecer”. Que bom que havia outra mulher ao lado para impedir isso.

Alvo de rumores de que seria Elena Ferrante, Domenico Starnone usa conflito familiar em livro

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RIO - Quando O GLOBO mencionou Elena Ferrante, o escritor italiano Domenico Starnone repetiu o que diz a todos os entrevistadores que perguntam se ele ou sua mulher, a tradutora Anita Raja, são a autora da “Tetralogia Napolitana” (série que começou com o fenômeno editorial “A amiga genial”):

— Não sou Elena Ferrante. Admiro muito seu trabalho, mas ele não influencia minha vida ou minha literatura — afirmou.

A pergunta não era essa. O GLOBO queria saber se Starnone notara alguma mudança na abordagem ou na interpretação de suas obras desde que começaram os rumores sobre sua ligação com Ferrante. A pergunta ficou sem resposta na troca de e-mails.

No entanto, “Assombrações”, romance de Starnone recém-publicado no Brasil, convida o leitor a pensar sobre os laços que unem as obras dos dois autores italianos. “Laços”, aliás, é o título de outro romance de Starnone, publicado por aqui no ano passado e, para muitos, uma resposta a “Dias de abandono” (Biblioteca Azul), de Ferrante.

“Assombrações” repete o cenário — Nápoles — e alguns temas da tetralogia: os conflitos do filho intelectual com a família proletária, a ascensão social sentida como traição das origens, o esforço para abandonar a vulgaridade furiosa do dialeto napolitano e aprender a escandir em bom italiano. Starnone adiciona outro ingrediente a essa receita italiana: fantasmas, as “assombrações” do título.

O romance é narrado por Daniele Mallarico, um celebrado ilustrador setentão que trocou Nápoles por Milão, mas volta à casa de sua infância por alguns dias. Em um novembro frio e chuvoso, ele vai cuidar do neto Mario, enquanto a filha e o genro viajam para participar de um congresso acadêmico — e tentar salvar o casamento. Mario, aos 4 anos, fala um italiano impecável, sem sombra dialetal, é controlador e sabe até acender o fogão.

Diante de um fantasma

O menino quer brincar o tempo todo, mas o avô precisa trabalhar nas ilustrações de uma nova edição do conto “The Jolly Corner”, do autor americano-britânico Henry James (1843-1916). O conto é a história de um sujeito que volta à sua antiga casa, em Nova York, e topa com um fantasma, ou melhor, com o que ele teria sido se tivesse se tornado um homem de negócios.

É mais ou menos o que acontece com Mallarico: ele recorda os parentes mortos — a mãe que temia o vazio, o pai operário que perdia todo o salário no jogo — e imagina quem teria se tornado se não tivesse abandonado Nápoles confiante em seu talento com os lápis e as tintas. “Assombrações”, aliás, contém um apêndice com ilustrações do italiano Dario Maglionico.

— Cada escolha é um corte, exclui algo de nós, deixa algo para trás. O que somos, ou pensamos ser, é resultado dos golpes de machado com que cortamos o que parecia perigoso ou inconsistente — defende Starnone. — O que cortamos não deixa de ser parte de nós, e às vezes volta, como em “Assombrações”, e nos faz sentir como é artificial e precária nossa identidade.

Mallarico percebe como é precária a sua identidade de artista famoso de Milão quando as ruas de Nápoles o recordam de sentimentos e palavras que não cabem no bom italiano, como a “raggia”, a raiva. Na escola, os professores ensinavam que só os cães eram acometidos pela “raggia”. Os italianos sentiam “ira”. Starnone vive em Roma, mas nasceu em Nápoles.

— O dialeto é a língua das emoções primárias: amor, ódio, sexo, violência — explica. — O italiano vem depois e, às vezes, se almejamos uma história honesta, é preciso recorrer ao dialeto para moldar o mundo que queremos contar.

Starnone ainda cita alguns autores que, diferentemente de Ferrante, influenciaram, sim, sua vida e sua literatura: Henry James, é claro, mas também Dante Alighieri, Matteo Maria Boiardo, Franz Kafka, Italo Calvino e “a incrível Clarice Lispector”.

Após ser 'retirada' de 'The affair', Ruth Wilson estreia em série sobre sua própria avó

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RIO - Um dos contos mais estranhos a chegar às telas é, na verdade, “baseado em fatos”. E, mais importante, esses eventos reais afetaram intimamente a vida da atriz principal. Ruth Wilson encarna sua própria avó, Alison Wilson, em “Mrs. Wilson”, minissérie de três episódios produzida pela BBC que estreia na próxima terça, no Reino Unido.

Na trama, quando o Sr. Alec Wilson (Iain Glen, o Sir Jorah Mormont de “Game of thrones”) morre repentinamente em 1963, a Sra. Wilson descobre que o homem com quem dividiu uma vida e uma cama não é quem ela pensava que era.

É que, logo após a tragédia, uma mulher aparece na casa da viúva alegando ser a verdadeira Sra. Wilson. Alison tenta provar a veracidade de sua identidade — e do amor do falecido marido por ela —, mas acaba entrando num universo sombrio de segredos preocupantes: Alec, na verdade, era um espião britânico.

Esse ousado trabalho, ainda sem previsão de estreia no Brasil, surge após a saída conturbada da atriz da aclamada série “The affair”, pela qual venceu o Globo de Ouro de melhor atriz, em 2015. Sua personagem foi abruptamente assassinada na reta final da quarta temporada, levando fãs e imprensa a questionarem se havia, nos bastidores, algum tipo de conflito entre ela e os produtores. Trailer de Mrs Wilson

É o que a própria atriz deu a entender quando, em agosto, afirmou: “não queria sair da série, mas não posso afirmar o motivo”. Em fevereiro, Ruth Wilson alertou sobre uma suposta disparidade salarial entre o elenco, dizendo que seu parceiro de cena, Dominic West, “definitivamente” ganhava mais.

A produtora do programa, Sarah Treem, rebateu as insinuações. Disse que foi a própria Ruth Wilson quem pediu para deixar a atração. Já o canal Showtime simplesmente alegou que a personagem havia “concluído o seu percurso na trama”. Talvez um dia se saiba qual é a versão verdadeira.

De qualquer forma, o imbróglio não parece ter afetado de forma negativa a carreira de Ruth, que, além de estrelar “Mrs. Wilson”, atualmente roda a esperada série “His dark materials”, também da BBC.

Trata-se de uma adaptação da trilogia literária “Fronteiras do universo”, de Philip Pullman. Ruth vai interpretar a vilã Marisa Coulter, líder de uma facção macabra que sequestra crianças a fim de colocá-las num experimento para impedi-las de cometer atos pecaminosos. É uma trama cheia de metáforas religiosas e existenciais. Vendidos com a alcunha de infanto-juvenis, os livros causaram controvérsia porque apresentaram a Igreja Católica como uma instituição maligna disposta a formar um exército para impedir que as pessoas sejam seres pensantes.

Marisa Coulter foi interpretada por Nicole Kidman na superprodução “A Bússola de Ouro” (2007), de Chris Weitz. Na época, o estúdio da New Line tentou promover o longa como um fenômeno na linha de “O Senhor dos Anéis”. O fracasso na bilheteria, no entanto, fez a empresa abandonar o projeto, e os espectadores ficaram com uma história incompleta. A nova tentativa da BBC, portanto, vem cercada de expectativas.

É um momento decisivo para a trajetória da atriz inglesa que se destacou desde o seu primeiro papel na televisão. Ela começou interpretando Jane Eyre na minissérie de título homônimo, exibida em 2006. De cara, ganhou uma indicação ao Globo de Ouro. De lá para cá, emplacou trabalhos também no cinema, como nos filmes “Anna Karenina” (2012), “O cavaleiro solitário” (2013) e “Walt nos bastidores de Mary Poppins”. Mas foi como a garçonete Alison Bailey, de “The affair”, que ganhou a notoriedade definitiva e que não demonstra sinais de desgaste.

Sucesso na TV, Nicolas Prattes estreia no cinema como serial killer em descoberta sexual

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RIO - Faz só três anos que Nicolas Prattes estreou como protagonista de TV, em “Malhação”. Mas o trabalho foi sucesso imediato e lhe deu uma base sólida de fãs — ele acumula mais de dois milhões de seguidores só no Instagram. Atualmente no ar como o Samuca de “O tempo não para”, o galã de 21 anos decidiu dar uma reviravolta na carreira ao topar estrelar “O segredo de Davi”, que acaba de chegar ao circuito após estreia mundial no Festival Internacional de Montreal, em agosto.

No terror/suspense/drama de Diego Freitas, Prattes interpreta um serial killer que mata integrantes da própria família, enquanto vive uma experiência de descoberta sexual com o colega Jônathas (André Hendges).

— Sou muito medroso e não gostava de terror — admite Prattes durante uma pausa nas gravações da novela, afirmando ter se sentido atraído pelo roteiro de Freitas por ser diferente de todos os seus outros trabalhos. — Mas, para me preparar para o papel, estudei “Cisne negro”, “Donnie Darko”, “Bates Motel” e Hitchcock para entender como os atores trabalham nesse gênero, que aprendi a valorizar. São filmes que fogem à realidade ao mesmo tempo em que falam dela.

Há, de fato, traços de Norman Bates em Davi, um solitário estudante de postura envergada que tem o hábito bizarro de filmar pessoas estranhas na surdina. Charmoso em determinados momentos, o jovem tem uma chave mental que, se girada, leva-o a atitudes psicopatas. Trailer do filme 'O segredo de Davi'

Sua primeira vítima é a vizinha Maria (Neusa Maria Faro), que ele estrangula na mesa da cozinha. Ela, no entanto, volta no dia seguinte — talvez na forma de um fantasma, talvez como projeção da imaginação de Davi — e incentiva o rapaz a seguir com o ímpeto assassino. Todas as suas vítimas reparecem em versões idealizadas e afetivas. A forma como ele passa a matar familiares é um spoiler, mas tanto ator quanto diretor citam o Complexo de Édipo como guia.

— Acho que não disse isso para o Diego, mas me inspirei nele para compor o personagem, porque ambos são tímidos na postura, mas inteligentes; caladões, mas com olhar doce — ri o ator, cujo desmaio no set virou pauta de colunas sociais na época das filmagens. — É um personagem denso e eu estava rodando desde 5h da manhã, sem comer, quando caí para trás. Nunca tinha apagado antes. O ator que contracenava comigo continuou falando o texto, achando que era improvisação minha.

Na faculdade, Davi conhece Jônathas, por quem fica fascinado. Assim como ele, o novo amigo tem impulsos violentos, chegando a matar um pombo sem motivo aparente. Os dois se refugiam numa casa abandonada, onde bebem absinto e dormem juntos, sem roupa. Não fica explícito se há ato sexual envolvido.

— A verdadeira relação entre eles só é explicada nos momentos finais do filme, e algumas pessoas se incomodam com a revelação — afirma Diego Freitas, estreante na direção de longas. — As pessoas esperam que eles fiquem juntos e transem. Já um espectador, em Montreal, pegou minha mão e, chorando, disse que aquela era a história dele. O mais importante é a energia estabelecida entre as duas pessoas. O despertar sexual do Davi tem a ver com traumas passados, que envolvem um pai religioso e abusivo.

Outro elemento importante no filme é a familiaridade de Davi com a tecnologia e computação. Ele mexe com códigos e, tal qual um hacker, consegue acessar sistemas eletrônicos remotos. Sua identidade de serial killer quase é desvendada quando ele próprio posta na internet o vídeo de um assassinato que cometeu. O incidente causa apreensão no personagem até certo ponto; ele também se mostra interessado na popularidade que ganha nas redes sociais.

— Eu sei que meu filme é violento, mas é preciso fazer uma mea culpa: por que sentimos prazer com a violência no universo do entretenimento? Isso é grave, e foi o questionamento que quis inserir — afirma o cineasta de 28 anos, que criou a trama há uma década. — Sou de Mairiporã (região metropolitana de São Paulo), filho de um barbeiro e uma costureira. Era uma vida simples. Quando me mudei para a capital, me senti desamparado e sozinho, porque é uma cidade grande e competitiva, que te observa. Aí tive a ideia: e se o garoto tivesse que matar alguém para ser amado?

Elogios ao trabalho

Colegas de profissão que acompanham a trajetória de Nicolas Prattes não demonstram surpresa com o sucesso ascendente do jovem ator.

Vladimir Brichta, que interpretou seu pai na novela "Rock story", disse que o colega chamou sua intenção no primeiro encontro dentro e fora de cena. Hoje, os dois são amigos na vida real.

— Nos conhecemos no corredor de um dos estúdios da Globo e seus olhos brilhavam, como os daquelas pessoas que amam o que fazem, que têm a boa ambição. Em cena, numa espécie de teste pra direção, pra terem certeza que as nossas escalações de pai e filho não eram um erro, tivemos um conexão imediata. À base de respeito e desafio. A cena pedia isso e o jogo foi imediato. Ele entende rápido o que significa a cena e persegue isso junto com quem está com ele. Isso é uma qualidade importantíssima pro jogo entre os atores. E ele de fato gosta de jogar junto com o outro, admiro muito isso num ator. Não demorou a nos tornarmos amigos, meus filhos amigos dele. Tenho enorme carinho por ele e a certeza de que será dos grandes — declara Brichta.

Juliana Paiva, a Marocas de "O tempo não para", diz que "O segredo de Davi" é um presente que o cinema brasileiro está ganhando, por se tratar, segundo ela, de um gênero pouco explorado.

— Ele está muito entregue ao personagem, que tem muitas camadas — elogia a atriz.

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