RIO - A experiência que o espectador tem em Inhotim, um parque que une arte contemporânea à natureza, no interior de Minas Gerais, talvez não seja intransferível. Ao menos é esta a aposta dos curadores do instituto, que inaugura agora o Inhotim Escola na capital, em Belo Horizonte, a cerca de uma hora de distância do parque que congrega arte e mata.
Instalada na Praça da Liberdade — onde está o projeto do governo mineiro para ocupar prédios históricos com ações de cultura —, a escola do instituto vai ocupar dois edifícios, mas, a princípio, começa as aulas sem sede.
‘O que é transportável?’
Os prédios destinados a Inhotim (o Palacete Dantas e o Solar Narbona) serão restaurados e, como a obra não tem previsão de conclusão, os curadores decidiram usar espaços de parceiros (como a Fundação Clóvis Salgado) na mesma praça. Na última sexta-feira, Tunga fez a primeira palestra do Inhotim Escola, na Biblioteca Pública Luiz de Bessa. Neste sábado, há duas mesas-redondas previstas, uma às 10h, outra às 14h. Participam Camila Mota, Ernesto Neto, Rodrigo Moura, Arto Lindsay, Jorge Macchi e Rivane Neuenschawander, que falarão sobre natureza, poesia e tempo.
Quem coordena o projeto é a curadora Júlia Rebouças, 29 anos, há seis no corpo curatorial de Inhotim. Ela conta que, feito o convite para integrar o circuito na Praça da Liberdade, debruçou-se na criação de um projeto, mais discursivo e reflexivo das práticas do instituto em Brumadinho:
— A gente pensou: como é que vamos ocupar um prédio do começo do século XX, no Centro de Belo Horizonte, quando na verdade Inhotim está ligado àquele espaço, a Brumadinho, à natureza? Então, veio a pergunta: o que é transportável na experiência Inhotim?
A resposta diz respeito ao conceito do instituto. Assim, a ideia é que a escola discuta, com seminários e encontros, a própria experiência, ainda um tanto única no circuito brasileiro de artes plásticas. Em Brumadinho, as 70 obras contemporâneas exigem um olhar demorado do visitante, que é convidado a se deslocar entre as espécies botânicas que compõem o cenário.
Filmes e exposição
Embora não seja possível repetir a experiência fora da mata, Júlia diz que o instituto planeja também fazer exposições em Belo Horizonte. Do total de 600 obras que compõem o acervo de Inhotim, bancado pelo empresário Bernardo Paz, menos de cem são expostas. Há, diz a curadora, “muito potencial para se explorar”.
— A experiência Inhotim é insubstituível, mas é potente o suficiente para se desdobrar em outros espaços, de outras maneiras — avalia ela. — Pensamos que Inhotim tem potencial para sair de Inhotim. A experiência lá é tão transformadora porque tem muitas camadas de trabalho social, educativo, prática e reflexão, e acho que podemos carregar isso para muitos lugares.
Com a escola, Inhotim poderá criar projetos mais rápidos — o comissionamento de artistas para realizar obras em Brumadinho, por exemplo, é trabalho longo, que pode durar anos. Na Praça da Liberdade haverá espaço, diz Júlia, para “processos menos permanentes, mais fluidos”.
Neste ano, há na programação do Inhotim Escola uma mostra de filmes, um curso introdutório sobre arte — voltado para um público menos especializado — e uma exposição, com obras do acervo e de artistas de fora da coleção.