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Marcado por escândalos no passado, Cannes começa com exibição de ‘Grace’

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RIO — Até mesmo em função de suas dimensões e de seu poder midiático, o Festival de Cannes costuma ser palco de grandes polêmicas, que surgem ao longo de duas semanas de intensa programação. Neste ano, a controvérsia deixa sua marca logo na abertura de sua 67ª edição, amanhã, com a exibição de “Grace — A princesa de Mônaco”, cinebiografia de Grace Kelly (1929-1982), a atriz americana que se casou com o príncipe Rainier III de Mônaco (1923-2005). Objeto de conflitos entre seu diretor, o francês Olivier Dahan, e seu produtor, o americano Harvey Weinstein, o filme protagonizado por Nicole Kidman recebeu outro golpe no mês passado, quando os herdeiros do casal, em mais um sinal de reprovação ao projeto, anunciaram que não participariam da première em Cannes.

— Saiba que não há um boicote — desconversa Thierry Frémaux, diretor artístico do festival francês. — No outono europeu do ano passado, a família real de Mônaco já havia comunicado oficialmente que não apoiava o filme. Então, nunca chegamos a achar que ela estaria presente na estreia de “Grace” em Cannes. Tanto que nem sequer chegamos a convidá-la para a projeção aqui. Mas, se os Grimaldi mudarem de ideia, eles serão muito bem-vindos. E vale dizer que o que faz o brilho da sessão de abertura são os artistas, e teremos muitos deles, incluindo (a diretora neozelandesa) Jane Campion, presidente do júri, e Nicole Kidman, que é uma grande estrela.

Os Grimaldi, nas figuras do príncipe Albert e suas irmãs, Caroline e Stephanie, acusam o filme de ser politicamente “impreciso” e “excessivamente glamourizado”. Ambientado no início dos anos 1960, durante uma disputa política entre o principado e a França em que a atriz teve papel primordial na negociação entre seu marido e o então presidente francês, Charles de Gaulle, “Grace” se alinha ao perfil da seleção de filmes deste ano. Se em 2013 a competição foi marcada por histórias íntimas, neste ano elas partem do particular para falar do mundo. É o que promete, por exemplo, “Maps to the stars”, de David Cronenberg, um olhar amargo e violento de Hollywood a partir de uma família de atores. Ou mesmo de “Relatos salvajes”, do argentino Damián Szifron, sobre as reações de um grupo de passageiros de um voo diante da perspectiva da morte e único representante latino-americano na competição — o cinema brasileiro não disputa a Palma de Ouro desde “Linha de passe” (2008), de Walter Salles e Daniela Thomas.

— O cinema brasileiro parecia muito promissor há alguns anos, mas a sua presença não tem sido forte o suficiente. É preciso que se resolva essa situação — alerta Frémaux, explicando que o que dá o tom de Cannes é a safra de filmes. — O festival nunca decide se a seleção será romântica ou política. Mas você está certo: parece que os diretores estão contando casos particulares para falar sobre o mundo. Ainda há, porém, filmes que evocam a intimidade da alma, como “Winter sleep”, que, em 3h20m, conta uma história de... solidão.

Vários filmes da seleção se debruçam sobre temas atuais — mesmo quando descrevem um passado recente ou um futuro indeterminado. “The search”, de Michel Hazanavicius (“O artista”), se passa na Chechênia dividida pela guerra, em 1999, e é centrado na relação entre a representante de uma ONG (Bérénice Bejo) e um jovem refugiado que escapou do massacre da família.

— As polêmicas são criadas pela opinião do público, pela imprensa, e não pelo festival. Ao mesmo tempo, as controvérsias são bons ingredientes midiáticos, dos quais Cannes precisa também — defende Frémaux.

Quando assumiu o cargo de diretor artístico, 14 edições atrás, Frémaux se encarregou de estreitar relações com Hollywood. A aproximação resultou benéfica para ambos: nos últimos anos, filmes que concorreram e ganharam o Globo de Ouro e o Oscar foram revelados no festival, como o já citado “O artista” (2011) e “Amor” (2012), do austríaco Michael Haneke. Neste ano, astros americanos se espalham por filmes como “The homesman”, segunda incursão do ator Tommy Lee Jones na direção, com Hilary Swank e Meryl Streep. A meca do cinema também estará representada por Cate Blanchett, Gerard Butler e Jonah Hill, que emprestam as vozes a “Como treinar seu dragão 2”, animação da DreamWorks que será exibida fora de competição.

— No cinema, tudo é tratado com afeto, com humanidade. Mais de dez anos atrás, era importante encontrar condições para estabelecer uma relação normal com Hollywood. Neste ano, vamos homenagear os 20 anos da DreamWorks, porque Jeffrey Katzenberg e seu estúdio sempre demonstraram grande lealdade a Cannes. Só assim conseguimos colocar “Shrek”, uma animação, em competição, uma revolução na época — avalia Frémaux. — Os cineastas-autores também estão presentes. Mas a coisa mais linda é ver a conexão entre os filmes exibidos em Cannes e o Oscar: “O artista”, “Amor”, os filmes do Alexander Payne etc. Neste ano, dos cinco indicados ao Oscar de produção estrangeira, quatro fizeram parte da seleção de Cannes. E “A grande beleza” (do italiano Paolo Sorrentino) ganhou! Cannes ainda é “o lugar para se estar”.

Veja quem disputa a Palma de Ouro:

“Adieu au langage”, de Jean-Luc Godard (França)

“Captives”, de Atom Egoyan (Canadá)

“Deux jours, une nuit”, de Jean-Pierre e Luc Dardenne (Bélgica)

“Foxcatcher”, de Bennett Miller (EUA)

“Futatsume no mado”, de Naomi Kawase (Japão)

“Jimmy’s hall”, de Ken Loach (Reino Unido)

“Le meraviglie”, de Alice Rohrwacher (Itália)

"Leviathan”, de Andrei Zviagintsev (Rússia)

“Maps to the stars”, de David Cronenberg (Canadá)

“Mommy”, de Xavier Dolan (Canadá)

“Mr. Turner”, de Mike Leigh (Reino Unido)

“Relatos salvajes”, de Damián Szifron (Argentina)

“Saint Laurent”, de Bertrand Bonello (França)

“Sils Maria”, de Olivier Assayas (França)

“The homesman”, de Tommy Lee Jones (EUA)

"The search”, de Michel Hazanavicius (França)

“Timbuktu”, de Abderrahmane Sissako (Mauritânia)

“Winter sleep”, de Nuri Bilge Ceylan (Turquia)


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