RIO — As gafes perseguem Cannes desde os seus primeiros anos. Em 1959, a comissão de seleção recusou um filme que reverberou pelo mundo inteiro: “Hiroshima, meu amor”, de Alain Resnais. Em 1961, o ministro da Cultura francês, André Malraux, eliminou da competição “O ano passado em Marienbad”, também de Resnais, por considerá-lo “destinado a um público restrito”. Em 1968, a História atropelou o festival: inspirados pelas manifestações estudantis que ocorriam em todo o mundo, um grupo de cineastas, entre os quais Louis Malle e François Truffaut, estimularam um boicote a Cannes, que foi cancelado.
Em tempos recentes, ainda estão frescas na memória do público as tórridas cenas de sexo entre as duas protagonistas de “Azul é a cor mais quente”, de Abdellatif Kechiche, que chocou a parte mais conservadora da plateia, mas acabou levando a Palma de Ouro de 2013. Em 2009, as sequências de sexo e mutilação de “Anticristo”, do dinamarquês Lars von Trier, embrulhou o estômago do público, mas o filme levou o prêmio de melhor atriz (Charlotte Gainsbourg). Três anos atrás, o diretor foi considerado “persona non grata” no festival não por causa de “Melancolia”, o filme que apresentou, mas por ter declarado simpatia às ideias de Hitler em plena coletiva de imprensa.