RIO — O som segue por debaixo dos caracóis do cabelo de Vanessa da Mata, ondulando em várias tonalidades. Num lugar distante do passado ficou a garota que, sentada nos degraus de um teatro vazio em São Paulo, foi apresentada a Gilberto Gil como “uma menina” de quem todos ainda ouviriam falar, como lembra o próprio Gil no texto de apresentação do disco.
No seu sexto trabalho, ela fixa seu nome num singular patamar da MPB, entre a cantora pop, que a massa reconhece de hits como “Não me deixe só” e “Boa sorte/Good luck”, e a intérprete de fino trato, que é capaz de reconhecer a força de Sly & Robbie (a mais potente cozinha do reggae, que a acompanhou em “Sim”, seu terceiro disco) e que traz para o seu lado, desta vez, craques como Fernando Catatau, Marcelo Jeneci, Lincoln Olivetti e Money Mark.
Num disco de forte marca feminina, é apoiada neles e nos fortes ombros dos produtores Liminha e Kassin que Vanessa resume sua carreira e tenta avançar, entre as curvas do reggae estilizado (“Toda humanidade veio de uma mulher” e “Homem invisível no mundo invisível), brilhando na alegria (“Rebola nêga”, com seu balanço sincopado) e na tristeza (com a dramática “Ninguém é igual a ninguém”, colorida pelo teclado de Jeneci). Nos extremos, a dispensável versão de “Sunshine on my shoulders" (de John Denver) e o poderoso encanto de “Homem preto”.
Cotação: Bom