RIO — A novela “Além do horizonte” não vai terminar exatamente como Marcello Novaes gostaria. Intérprete do vilão Kléber, que vem ensaiando uma redenção na trama desde que assumiu ser pai de Fátima (Yanna Lavigne), o ator pisou em falso durante a gravação de uma sequência no último dia 12 e fraturou a tíbia da perna direita. O acidente deixou Marcello com os movimentos limitados. Agora, ele não poderá fazer algumas das cenas que estavam programadas na história, que chega ao fim no dia 2.
— Foi uma fatalidade, mas fiquei muito triste porque o personagem estava num momento bacana. Como não estou podendo pisar com o pé direito no chão, um dublê de corpo está fazendo a parte em que Kléber aparece andando. Eu estou gravando apenas os planos fechados sentado ou em pé — conta o ator, que voltou a gravar na última terça, após três dias de repouso.
Por conta do acidente, diz Marcello, os autores Carlos Gregório e Marcos Bernstein precisaram modificar as últimas sequências de Kléber:
— Eles vão tirar algumas cenas. Como acho que, no final, Kléber se voltá contra LC (Antonio Calloni) e Tereza (Carolina Ferraz), para fechar esse ciclo, os autores vão me botar para gerenciar as ações e não com a mão na massa.
Apesar de a novela não ter sido um sucesso de audiência, Marcello defende “Além do horizonte” como “uma obra inovadora que correu o risco de alguns telespectadores não a entenderem”:
— Do meio para o final, os autores acertaram a mão, a audiência subiu e até fomos parabenizados pela Globo. Vamos fechar com chave de ouro.
Ao fazer um balanço do atual trabalho, o ator conta que chegou a pensar em recusar o papel de Kléber, um personagem malvado que viria na sequência do vilão Max, do fenômeno “Avenida Brasil”.
— Tive medo de me repetir. Mas o desafio é tão interessante para o ator, que eu resolvi encarar e tentar fazer diferente. Enxuguei tudo. O Max era um cara que gesticulava e gritava muito, era mais expansivo, tinha toques de comédia. Então, fiz o Kléber bem seco, dos movimentos físicos ao tom de voz, que é mais grave. Acho que a missão está cumprida — avalia.
Outro desafio de Marcello foi lidar com as restrições da classificação indicativa do horário. Para evitar que “Além do horizonte” fosse recomendada para menores de 12 anos, o que impediria sua exibição antes das 20h, a emissora teve que tirar as cenas em que Kléber aparecia com um revólver em mãos. Palavras como “canalha” também ficaram fora do vocabulário do vilão.
— As mudanças mexeram com a composição do meu personagem. Como manter a credibilidade de um vilão que perde suas ferramentas, seu facão, seu revólver? Minutos antes da novela passa o telejornal local com imagens tão violentas... Tem que haver um controle sim, mas, às vezes, acho um pouco radical — pondera.
Na trama, a maior mudança envolvendo o personagem foi o reconhecimento da paternidade de Fátima e a aproximação com a jovem. O que deixou Marcello satisfeito:
— A história da Fátima humanizou o personagem, mostrou o lado frágil dele. Ninguém é tão mau, nem tão bom. E a redenção é uma realidade na vida de uma pessoa que errou e resolveu mudar, desperta a identificação do público.
A relação paterna, inclusive, é intensa na vida de Marcello. O ator cuida de perto de Diogo, de 19 anos (do relacionamento com a empresária Sheyla Beta), e de Pedro, de 17 (que teve com sua ex-mulher, Letícia Spiller).
— Como a minha casa hoje não tem criança e tem um estúdio de música, que é o hobby dos meus filhos, eles preferem ficar mais comigo do que com as mães. Mas costumam dormir dois dias por semana na casa delas, não há regras. E tenho com eles uma relação aberta, sincera. Tenho sorte de ter dois caras que são muito bem educados, situados e com predisposição ao diálogo — observa ele.
É com a serenidade dos 51 anos que o ator garante: “a maturidade é uma excelente ideia”. A forma física que chamava atenção desde os tempos do descamisado Raí (personagem da novela “Quatro por quatro”, de 1994), o ator diz manter praticando esportes e com uma alimentação saudável:
— Mas sem radicalismos. Bebo refrigerante, como carne e fritura quando dá vontade. Não é gostoso se privar totalmente dos prazeres da vida — avalia.
O ator acredita que todos têm uma vaidade. E comenta a sua relação com o espelho:
— Tem dias que fico satisfeito com o que vejo. Em outros não. Às vezes, fico preocupado. E, em outras, estou superdescansado, no meu sítio (em Teresópolis), me olho e falo “meu Deus, hoje eu nem preciso pentear o cabelo, vou sair assim na rua” (risos). Mas não me cuido muito bem. Vivo recebendo orientações de minha mãe e da minha assessora de imprensa, só que me esqueço de passar protetor solar, por exemplo. Mas vou melhorar.
A assessora de imprensa é Camila Lamoglia. A relação de trabalho entre os dois, que são namorados desde janeiro, começou há 6 anos.
— Quando paro para pensar nas mulheres que tive, por quem me apaixonei, como a Letícia (que fazia Babalu, seu par romântico em “Quatro por quatro"), foram coisas que aconteceram, eu não fui atrás. Conforme ficamos mais maduros, vamos entendendo melhor os acasos.
O ator também diz respeitar a casualidade ao falar do futuro profissional:
— O João Emanuel Carneiro (autor de “Avenida Brasil") vai fazer outra novela (em 2015). Ele é jovem, talentosíssimo. Será que vai ter um papel para mim? Será que ele e Amora (Mautner, diretora-geral da novela) vão me convidar? Antigamente eu ficava mais ansioso, falava “nossa, eu preciso trabalhar”. Agora sei que temos que fazer bem hoje para colher frutos amanhã.