RIO - Nos últimos três anos, os óculos de Leonardo Medeiros se tornaram uma espécie de marca do ator. Não por escolha própria: aos 49 anos, Leonardo tem hipermetropia, miopia e presbiopia (“que é velhice, né?”, ele diz). Ou seja, sem os óculos, o ator não enxerga absolutamente nada.
— Não consigo ler o texto de perto e, como não vejo de longe, se estiver sem os óculos não vejo nem o colega na minha frente (risos). É um saco você não conseguir enxergar o móvel do cenário, esbarrar nas coisas. Ou são as lentes multifocais ou tenho que optar por ser caolho — ele comenta, bem-humorado.
No caso de seu papel atual, o na trama de “Em família”, o acessório combinou bem com o visual do advogado Fernando. Ex-marido de Juliana (Vanessa Gerbelli), o personagem é um dos tipos mais ponderados da trama de Manoel Carlos. Tanta sensatez pode até ser encarada como chatice por alguns.
— Ele vai contemporizando. Está sempre trabalhando com a coerência. Então pode ser visto como chato porque atrapalha o sonho dos outros — ele argumenta.
Pai de dois filhos — Antonio, de 14 anos, e Clara, de 4 — Leonardo diz que entende o drama de Juliana.
— Essa coisa de ter ou não filhos é algo recente. Há 20 anos era fora da média não querer casar ou ser mãe. Hoje é natural. Para nós, classe média, ter um filho é muito caro. A indústria tira proveito do amor que você tem pela criança— analisa ele.
Para o ator, o autor Manoel Carlos tenta, em suas tramas, resgatar valores familiares. Ao mesmo tempo, mostra que o casamento tem prazo de validade.
— O casamento dura um tempo e acaba, e é nessa hora que você tem que se separar, senão a coisa fica uma chatice, sem sentido, com as pessoas presas, empurrando a relação com a barriga — explica Leonardo, separado. — Foram atitudes drásticas, mas me separei duas vezes com filhos pequenos. Não me arrependo, às vezes penso que poderia ter sido mais paciente, mas talvez eu me tornasse um boçal levando à frente algo que não daria certo.
Morando em São Paulo, Leonardo fica no Rio somente para as gravações. Quando está em casa, costuma passar o tempo vendo séries como “Sherlock” e “Game of thrones” e lendo ficção científica, seu gênero preferido. No geral, se acha um cara absolutamente desinteressante.
— Sou normal, não tenho nada a dizer. Fico sempre meio escondido por conta disso, minha vida é essa — minimiza: — Pessoa interessante é a Giovanna Antonelli. Ela é luminosa, agradável. Tem esse talento de ser sociável, está sempre rindo. Me arrancar um sorriso é difícil. Sou tímido, retraído, introspectivo.
Com tendência a se “aprofundar demais nas coisas”, o que o torna um cara “denso”, com propensão à tristeza, Leonardo procura sempre dar leveza a seus personagens. Aliás, ele gosta de encarar a profissão como uma grande brincadeira.
— Na TV é tudo rápido, instantâneo, o que exige do ator perspicácia e prontidão. Adoro receber o texto em cima da hora para gravar. É um exercício delicioso — empolga-se ele.
Diretor de peças teatrais, Leonardo sabe a importância de um ator obediente para um trabalho bem-sucedido. Por isso, critica a falta de profissionalismo existente no Brasil:
— O ator brasileiro é mal-educado, não tem escola, é autodidata, trabalha na intuição, sem ferramenta. Quer estar sempre no oba-oba.