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Mariene de Castro com tempero romântico, sem abandonar o samba baiano

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RIO - O batuque com sotaque baiano — e carioca, afinal é de samba de que se fala aqui — está lá. A ligação com o universo da religiosidade afro também, assim como as canções de Roque Ferreira. Ou seja, em “Colheita” (Universal), Mariene de Castro reafirma o caminho que tem traçado até aqui. Só que agora com um tempero que ela ainda não havia explorado: o terreno das canções declaradamente românticas.

Em meio à malícia de verdadeira baiana, à força rítmica dos orixás, surgem versos de amor vindos de diferentes mundos, passando pelo “brega” de Márcio Greyck (“Não, é impossível, não consigo viver sem você”), o samba clássico e classudo de Cartola (“Nada mais nos interessa/ Sejamos indiferentes/ Só nós dois, apenas dois/ Eternamente”), o pagode de Arlindo Neto, Marquinhos Nunes e Renatto Moraes (“Você aparece/ Meu corpo estremece”) e a dolência sertaneja da parceria Djavan e Dominguinhos ( “O teu beijo em meu destino/ Era tudo o que eu queria/ Ser meu homem, meu menino/ O ser amado de todo dia”).

— A minha base está lá, a minha raiz. Mas sou uma pessoa romântica e notei que, até agora, tinha falado pouco de amor. Meus temas eram muito ligados à cultura popular — avalia Mariene. — Neste disco, é a primeira vez que canto canções assim, como “Impossível acreditar que perdi você” e “Nós dois”. Há um sentimento mais leve na minha voz, talvez pelo momento que estou vivendo. Desbravei um caminho em Salvador, sou mãe de quatro filhos. Agora consegui conquistar um lugar, os filhos estão crescendo, mais independentes. Isso me leva a um momento de contemplação.

“Não tive pressa”

A contemplação vem depois de quatro discos: “Abre caminho” (2004), “Santo de casa — Ao vivo” (2010), “Tabaroinha” (2012) e o também ao vivo “Ser de luz — Uma homenagem a Clara Nunes” (2012). “Colheita”, portanto, é seu terceiro álbum de estúdio — e chega no momento em que devia chegar, acredita Mariene:

— Tudo o que construí foi feito em cima do que acreditava — diz a artista, que surgiu defendendo o samba de roda e as tradições baianas dentro de um mercado difícil, dominado por gêneros popularíssimos como o axé e o pagode. — Não tive pressa. Refleti sobre o convite de fazer um disco em tributo a Clara Nunes, mas vi que era um curso natural da carreira. Temos que perceber os sinais que a vida dá e desenvolver isso de uma forma positiva.

A safra de Mariene tem inéditas, como a faixa-título, de Nelson Rufino. Zeca Pagodinho — que participa da gravação — tinha separado a música para seu próximo CD, mas a ofereceu à cantora. A lista de participações mostra o grau de respeito que Mariene conquistou: Maria Bethânia, Beth Carvalho, Hamilton de Holanda e Jaques Morelenbaum.

— São tantos frutos... Ninguém está ali por estar — sintetiza Mariene.


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