RIO - Depois de um desnecessário tributo a Clara Nunes (“Ser de luz”, de 2013), a baiana Mariene de Castro volta ao que faz melhor neste “Colheita”, recheado de participações luxuosas: o samba de roda da Bahia, de forte influência africana, de compositores como Nelson Rufino e Roque Ferreira, com eventuais incursões por outras praias, dentro e fora do samba.
O disco, aliás, pode ser dividido basicamente entre o grupo de canções vigorosas, com cheiro e batuque de terreiro, e aquele das mais românticas, que vão de Cartola a Márcio Greyck, nas quais Mariene nem sempre se apresenta com a mesma segurança e personalidade.
“Oxóssi”, de Roque Ferreira, abre o disco com um cartão de visitas da Bahia contemporânea: os tambores d’África, o violoncelo de Jaques Morelenbaum e a brejeirice de Mariene no auge (a produção do disco, brilhante, é assinada por Max Pierre). Logo em seguida vem o clássico brega “Impossível acreditar que perdi você”, de Márcio Greyck e Cobel, em versão agradável, ponteada pelo acordeom de Cicinho de Assis. No entanto, “Tirilê”, que vem em seguida — estabelecendo uma dinâmica de maior e menor intensidades alternadas —, deixa claro que os refrãos fortes e as batidas que falam ao quadril concentram o melhor da cantora.
Nada disso quer dizer, claro, que sambas românticos como “Mágoa”, de Toninho Geraes e Roque Ferreira, não estejam entre os pontos altos do disco. As participações de Maria Bethânia (em “A força que vem da raiz”, mais uma de Roque), Zeca Pagodinho e Rildo Hora (“Colheita”) e Beth Carvalho (no standard “Samba da bênção”) abrilhantam “Colheita”, mas nada como Mariene em estado puro.
Cotação: Bom