RIO - Gustavo Da Lua gira em torno do próprio eixo. Quem for ouvir as músicas do seu álbum de estreia, “Radiantesuingabrutoamor”, disponível em streaming há algumas semanas, vai encontrá-las rodando em uma ordem inversa à do disco físico, que chega às lojas no começo do mês. Ou seja, a primeira a tocar vai ser “Camel toes”, com sua levada de surf music, que, na verdade, é a faixa que encerra o CD e o vinil, que sai em maio. Segundo o percussionista da Nação Zumbi, a ideia era mostrar que a ordem dos fatores não altera o seu produto final, lançado de forma independente.
— Achei que seria legal oferecer à esses primeiros ouvintes uma disposição inversa do disco original, com as faixas em ordem trocada, para mostrar que a unidade do disco poderia se manter mesmo assim — explica ele.
Independentemente da ordem, as 13 potentes faixas do disco — que tem flertes com coco, carimbó, bolero, hip-hop e Jovem Guarda — revelam um artista surpreendentemente seguro à frente do próprio trabalho, após anos atuando com a Nação, com o Sheik Tosado (do qual foi um dos fundadores, ao lado de China) e com Otto, Los Sebozos Postizos e Seu Jorge & Almaz.
— É um resumo de tudo o que eu gosto, de tudo o que ouvi, de tudo o que eu toquei. Quis fazer um disco bem livre — conta Da Lua, natural de Olinda e residente de São Paulo há 12 anos.
O desejo de partir em viagem solo se deu em 2010 quando Da Lua foi convidado por Fernando Catatau para interpretar uma das músicas que o líder do Cidadão Instigado estava compondo para a trilha do filme “Transeunte”, de Eryk Rocha. Foi a partir dali que o percussionista partiu em busca de sua própria voz e do seu próprio estilo.
— Comecei a compor mais intensamente desde então, até chegar às 13 faixas do disco. Foi um desafio encontrar não apenas minha própria sonoridade e estilo de compor, mas também a minha própria voz, já tendo trabalhado com tantos cantores, inclusive o Chico (Science) — diz ele sobre o disco, que tem participação de Rodrigo Brandão, Pupilo, Jr Black e do próprio Catatau. — Acho que acabou ficando um grande tratado sobre relacionamentos amorosos, com muito ritmo por trás. É o batuqueiro se encontrando como compositor.