RIO - “Bloco do eu sozinho” é um disco do Los Hermanos, mas também daria um ótimo subtítulo para as edições da festa MAU, nas quais o DJ Maurício Lopes faz uma jornada de oito horas, semelhante à estabelecida para tradicionais ambientes de trabalho, na cabine de som, comandando o baile sem outros colegas no line-up. Verdadeira instituição da noite carioca underground e eletrônica, a tradicional edição rola na próxima segunda-feira, no Fosfobox. Para quem quer fugir da folia ao som de techno, house, electro e outras vertentes musicais, é uma verdadeira aula de música eletrônica.
— Na verdade, nos anos 1990 era mais comum os DJs cuidarem do som a noite toda, até mesmo porque não havia tantos DJs assim. Era comum a gente dizer que estava saindo para ouvir o Ricardinho NS, o Felipe Venâncio ou o José Roberto Mahr — explica ele. — A geração nova, acostumada a sets de 1h30m a 2 horas, acha estranho, mas era assim. Na festa Oops!, o que fizemos foi apenas dar um nome a algo que já existia, e isso acabou virando uma identidade minha.
Modéstia a parte, são poucos DJs, hoje, que têm conhecimento musical e fôlego para manter o público nas mãos por tanto tempo. Além de pesquisar as novidades durante toda a semana para tocar os lançamentos na pista, Maurício ainda revisita seu arquivo de clássicos. Sempre sobra material, mesmo depois de oito horas non-stop no comando.
Além de evitar sair na noite anterior, Maurício ainda tem seus truques para conseguir ficar tanto tempo na cabine. Um deles são as faixas longas, de mais de oito minutos, necessárias para as fugidas ao banheiro. A mais clássica deste momento é “Raving lunatics”, do DJ Pierre, com 16 minutos, que rola desde a época do clube Guetto, onde começou a Oops!. O resto fica por conta do improviso, já que não é possível prever as reações do público.
— Não dá pra saber pra onde o set vai. O público pode estar mais calmo, então prolongo a fase mais hipnótica do set. Se já chegarem mais animados, vamos direto à fase mais animada — conta o DJ, que liberou o seu top ten atual para a TransCultura (veja box).
Maurício Lopes começou sua carreira na noite como iluminador da Dr. Smith e colocou músicas na pista, ainda sem saber mixar, numa noite com Mahr no Crepúsculo de Cubatão. Ele começou a tocar em 1992, no Kitschnet, um dos primeiros clubes a apostar no techno. Em 1995, começou a ser convidado de Felipe Venâncio nas sextas-feiras da Dr. Smith. Nos últimos anos, com o fim da Oops!, passou a produzir suas próprias festas, como a Fosfolopes e a MAU, que acontece em várias casas do Rio.
* Fabiano Moreira escreve na página Transcultura, publicada às sextas-feiras no Segundo Caderno