Quantcast
Channel: OGlobo
Viewing all articles
Browse latest Browse all 32716

Criado para discutir novos rumos da MPB, Coletivo Chama vira programa de rádio, TV e turnê internacional

$
0
0

RIO - Todas as sextas-feiras, às 20h, os músicos cariocas Thiago Amud, Pedro Sá Moraes, Renato Frazão e Thiago Thiago de Mello apresentam um programa temático na Rádio Roquette Pinto chamado “Rádio Chama”. Se o mote do dia é “cavalo”, por exemplo, escolhem canções em que o animal apareça como alegoria ou metáfora. Misturam “Amon Rá e o Cavalo de Tróia”, de João Bosco, com “Feeling pulled apart by horses”, de Thom Yorke; “O homem e o cavalo”, de Tonico e Tinoco, “Wild Horses”, dos Rolling Stones, ou “O burrico e o cavaleiro”, do próprio Frazão. Entre uma música e outra, fazem graça, contam causos, até relincham.

Num programa “Preguiça”, vão de Dominguinhos, Billie Holliday, Xangai, Chico Buarque, Cesar Altai. No que trata de “desespero”, a lista de canções tem Noel Rosa, Maria Callas, Dori Caymmi. Já fizeram programas de temas diversos, como “Vícios”, os divertidos “Imprudência” ou “Acaso” (os podcasts estão disponíveis no site PodOmatic).

O programa é uma das muitas atividades do Coletivo Chama, turma de sete músicos que têm se reunido semanalmente, há quase dois anos, para discutir “a canção entendida como arte”, como gostam de dizer. São encontros informais, cada semana na casa de um, para trocar referências, fazer reflexões sobre a cena atual, formar parcerias — apesar de cada um já ter sua carreira independente, foi inevitável que começassem a trabalhar uns com os outros. Na página do grupo no Facebook, definem-se como “uma cena de compositores que alia um espírito inquieto de renovação a uma relação profunda com as tradições musicais e artísticas”.

— Uma parte da razão de ser do coletivo é que existe uma cena muito maior do que o grupo, músicos brilhantes e que ainda não estão em um lugar definido no mapa da música brasileira. Queremos entender o caráter especial dessa geração, que não somos nem de perto só nós — explica Thiago Amud, que acaba de ter o disco “De ponta a ponta tudo é praia-palma” listado entre os melhores de 2013 pelo GLOBO, admitindo que a defesa e a constituição de um grupo para tal possa soar arrogante. — Existe um ecossistema que saiu um pouco do âmbito do que é hoje considerado MPB. Hoje o que é considerado MPB tem mais a ver com os clássicos ou vertentes mais pop. Que tem muita coisa boa, claro, mas de comunicação mais imediata. Quem está experimentando, correndo riscos, acaba um pouco escondido.

Filho do poeta Thiago de Mello, foi o também músico Thiago Thiago de Mello quem acendeu o pavio do Coletivo Chama em meados de 2010. Doutorando em Ciências Sociais pela Uerj, escrevia uma tese sobre a nova MPB, mais especificamente sobre músicos e compositores que estavam fazendo experimentações de linguagem, revisitando gêneros tradicionais, e que por isso muitas vezes não se inseriam na “nova geração da MPB” esquadrinhada por gravadoras, revistas culturais ou crítica musical. Passou um ano entrevistando músicos. Em muitos deles, notou pontos em comum de um discurso anárquico, como Ivo Senra, Cesar Altai e Sérgio Krakowski (que não aparece na foto por estar nos Estados Unidos). Com outros, como Pedro Sá Moraes e Thiago Amud, já tinha afinidade. A eles juntou-se ainda Frazão, do grupo Escambo.

Logo as discussões semanais começaram a render frutos: vieram as parcerias musicais. Pedro e Ivo musicaram um poema de Amud chamado “Olho de pedra”; Thiago Thiago fez “Pagode do Sumaré” com Frazão, depois outras duas com Amud: “Passarinhão” e “Desdêmona”. A esta altura, o músico e sociólogo já tinha virado doutor (a tese fora publicada com o nome “MPB não é tudo: os discurso de renovação da musica brasileira”) e foi a sua mania de “chamar” tudo (“chama uma musica”; “chama uma cerveja”) que acabou batizando o grupo. Na sequência, surgiu a ideia de criar um programa de rádio em que pudessem fazer uma curadoria das próprias referências, o “Rádio Chama”. Que os provocou a formular um programa de TV, já em negociação com um canal fechado.

— A ideia é passar para o vídeo o espírito atemporal do “Rádio Chama”: gravações exclusivas, clipes e entrevistas mostrando a nossa perspectiva sobre música inovadora, inclassificável, de hoje e de ontem — explica Pedro, um daqueles casos de músicos brasileiros que são mais conhecidos fora do que dentro do país.

E é justamente por Nova York que o grupo começa a se apresentar como um coletivo (leia a matéria do New York Times sobre o grupo). Na noite do último dia 9, eles tomaram o avião para a cidade americana, onde começariam uma turnê que terminaria no Canadá, no festival Brazilian Explorative Music, que tem no cardápio justamente músicos brasileiros com trabalhos mais arriscados ou inventivos.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 32716