Quantcast
Channel: OGlobo
Viewing all articles
Browse latest Browse all 32716

Steve Jobs no cinema

$
0
0

RIO - Steve Jobs morreu em outubro de 2011 deixando um legado tecnológico incalculável e uma imagem de empresário duro, competitivo, porém extremamente criativo. Segundo Joshua Michael Stern, diretor de “Jobs”, cinebiografia do cofundador da Apple que chega aos cinemas brasileiros no dia 6 de setembro, com ele também morria um certo modelo de economia.

— Quando começamos a filmar, o mundo já estava em recessão, as grandes empresas faturavam mais com menos gente dentro, e toda aquela ideia de Estados Unidos pós-industrial, de segurança financeira e direitos trabalhistas assegurados estava em perigo — explica Stern, em entrevista ao GLOBO, de Los Angeles. — A economia dos próximos cem anos será feita por indivíduos isolados em seus apartamentos, que imaginarão formas de contribuir para a sociedade. Acho que “Jobs” é um veículo importante dessa mensagem neste momento.

Produzido com um orçamento modesto, estimado em US$ 8,5 milhões, “Jobs”, que estreou anteontem nos EUA e foi classificado como correto por alguns críticos e superficial por outros, recria as origens de um personagem controverso, mas fundamental nas mudanças das relações humanas no século XXI. Protagonizado pelo galã Ashton Kutcher (astro da série de TV “Two and half men”), o filme concentra-se na juventude de Jobs, do momento em que ele abandona a faculdade, nos anos 1970, ao período em que é reconduzido à direção de uma Apple em crise, nos anos 1990, dez anos após de ser enxotado de lá. Antes, portanto, de sedimentar seu status de lenda da era tecnológica, e virar exemplo de um novo modelo de homem de negócios.

— Quando a cultura do computador começou, a figura dominante era o executivo da IBM, homens de terno que fumavam charuto e tinham uma visão corporativa do negócio. Steve nunca usou sapatos, não gostava de tomar banho, tinha barba, era contra a imagem difundida pelas grandes corporações. Eventualmente ele se tornou um executivo, porque tinha que fazer as coisas acontecerem. Mas o ambiente é diferente de dez, 15 anos atrás, é mais aberto e criativo — compara Stern.

“Jobs”, na verdade, nasceu da iniciativa de Mark Hulme, um empresário de Dallas sem qualquer vínculo anterior com o cinema. Inspirado pela reação global ao anúncio da aposentadoria de Jobs na Apple, em agosto de 2011, o empresário encomendou um roteiro sobre o magnata da tecnologia a Matt Whiteley, um de seus funcionários do departamento de marketing. Um amigo em comum apresentou Stern a Hulme, que conhecia o trabalho anterior do diretor, “Promessas de um cara de pau” (2008), comédia envolvendo eleições presidenciais americanas estrelada por Kevin Costner. O cineasta iniciou o homem de negócios no universo de agentes e executivos de Hollywood, onde o projeto conseguiu a adesão de Ashton Kutcher.

A escalação do protagonista

Em nenhum momento passou pela cabeça de Stern que a reputação do ator como comediante e produtor de reality shows como “Punk’d” pudesse afetar a credibilidade de um filme sobre um dos principais nomes por trás da revolução digital.

— Acho que foi por isso mesmo que o escolhi — afirma Stern. — Sabia que as pessoas ficariam curiosas ou até mesmo seriam céticas em relação à escalação de Ashton. Mas sempre acreditei que os comediantes são pessoas sérias, e ele não é uma exceção. Eu estava diante de um ator que não somente se parecia fisicamente com Steve como também tinha interesse por tecnologia. Ele fez de tudo para me convencer de que era o cara ideal para o papel. Quando saí da primeira reunião com ele, pensei: o jovem Steve Jobs tinha reputação de ser um ótimo vendedor de ideias, e Ashton tem muito desse comerciante.

Lançado na esteira de uma resistente crise econômica, que transformou grandes corporações em vilões no cinema, “Jobs” procura reabilitar a figura do empresário de visão, que não pensa só no lucro, mas nos benefícios de suas criações. Comparações com “A rede social” (2010), de David Fincher, sobre Mark Zuckerberg, criador do Facebook, outra figura revolucionária, são inevitáveis. Mas Joshua Michael Stern prefere minimizá-las.

— Os ambientes são os mesmos, os bastidores do mundo tecnológico, mas suas histórias são diferentes. O filme de Fincher descreve o surgimento de uma ferramenta poderosa; o nosso é uma biografia, cobre 25 anos da trajetória de um personagem — defende o diretor. — Comparações são bem-vindas. Há espaço para muitos filmes do gênero. É como fazer um western após tantos outros.

Na época em que o empresário Mark Hulme deu início ao projeto de “Jobs”, chegava às livrarias “Steve Jobs”, alentada biografia autorizada do magnata californiano escrita pelo jornalista Walter Isaacson e publicada no Brasil pela Companhia das Letras. Lançado um mês após a morte de Jobs, o livro logo virou best-seller, confirmando a popularidade do personagem. Restaria algo de inédito a ser contado em filme?

— O livro de Isaacson é narrado sob a perspectiva de Steve, e se concentra mais no período do tratamento do câncer que ele enfrentou, até sua morte. Descreve, basicamente, fatos e histórias de conhecimento público. Nosso filme se prende à origem de tudo. Trata de como um cara comum, de uma família de operários, construiu uma das maiores companhias do mundo. Termina logo antes do lançamento do iMac, o computador pessoal com o qual as pessoas identificam o nome de Steve Jobs, e que dá início à era moderna da Apple — diz o diretor.

A produção refaz o caminho que Jobs percorreu ao abandonar a faculdade até se transformar em bilionário, passando pela criação de um protótipo de PC na garagem da casa dos pais, fruto da inestimável parceria com o fiel amigo Steve Wozniak (Josh Gad), com quem fundaria a Apple. Foi ali que a dupla recebeu o primeiro “estímulo empresarial” do investidor Mike Markkula (Dermot Mulroney).

Diante de adjetivos como “careta” e “superficial”, que surgiram nas primeiras críticas ao filme, Stern releva:

— Este é o primeiro filme sobre Steve Jobs (há outro a caminho, com roteiro de Aaron Sorkin, criador da série de TV “The Newsroom”). Então, optamos por uma estrutura mais tradicional. Preferimos contar a história do homem, e não nos perdermos com truques.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 32716


<script src="https://jsc.adskeeper.com/r/s/rssing.com.1596347.js" async> </script>