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Coletânea póstuma com poesias do ex-senador Paulo Alberto Monteiro de Barros chega às livrarias

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RIO - Ele entrou para a história como cronista, com uma parte de sua carreira escrita nas páginas do GLOBO, como colunista de televisão. Mas o grande sonho do escritor Artur da Távola — pseudônimo do jornalista, advogado, professor e político Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros — era ser reconhecido como poeta. Chegou a publicar um livro com suas poesias, “Calentura”, de 1986, mas a obra não teve muita repercussão. Artur da Távola morreu em 2008, aos 72 anos, em decorrência de problemas cardíacos. Agora, ele ganha segunda chance de ter sua obra poética reconhecida como gostaria, com a chegada às lojas de “O jugo das palavras”, lançado em evento na última segunda-feira, na Livraria da Travessa do Leblon, reunindo 24 poemas inéditos, em edição organizada por Mirian Ripper, viúva do intelectual, e publicada pela Record.

— Ele deixou inéditos que renderiam cinco livros de poesia. Escolhi aqueles que julguei serem a melhor expressão da sua personalidade, das suas angústias essenciais, que também transpareciam nas suas crônicas — afirma Mirian. — Também privilegiei poemas que falam das dúvidas existenciais que ele tinha. A morte era uma questão que o angustiava, um tema recorrente na produção cronística. Ele costumava dizer que tinha a fé como esperança, mas gostaria de tê-la como certeza.

O gosto de Artur do Távola pela literatura vinha da juventude, dos tempos em que era líder estudantil no Rio de Janeiro, ensaiando os primeiros passos na carreira política. O poeta Affonso Romano de Sant’Anna, que também participava do movimento, só que em Minas Gerais, conheceu-o naquela época, e assina o prefácio da edição.

— Ele sempre foi um grande comunicador e a poesia era mais uma das formas de expressão usadas por ele. Suas sessões de autógrafos costumavam ter grandes filas. Esse livro é uma publicação afetiva, ele merece essa homenagem — afirma Sant’anna.

Como comunicador, Artur da Távola — um dos fundadores do PSDB e membro da assembleia constituinte de 1987 — teve também um trabalho importante na televisão. No Chile, para onde foi depois de ter o mandato de deputado estadual cassado pelo regime militar, tinha um programa na telinha e outro no rádio. No Brasil, quando foi eleito deputado (e, mais tarde, senador) apresentou um programa sobre música clássica na TV Senado por quase 20 anos. Também foi diretor da Rádio Roquette Pinto, cargo que sempre sonhara ocupar.

Outros inéditos

A paixão de Artur da Távola pela música clássica está registrada em alguns dos poemas publicados na nova coletânea. É o caso de “Pequena ode a Johannes Brahms”, em que escreve: “A musicalidade de Brahms é a mistura exata/ De cultura, inspiração, realidade e contenção.” Em outro, ele faz uma homenagem ao francês Claude Debussy.

Na introdução, Távola mostra uma visão platônica do trabalho poético. O autor afirma que “o poema não é poesia”, mas apenas escravo dela. A poesia ficaria numa esfera transcendente. E o papel do poeta é trabalhar para alcançá-la.

Em casa, Mirian Ripper, ainda tem material para outras quatro coletâneas de poesia, organizado pelo autor antes de morrer. Sem falar em um livro inédito de crônicas e outros sobre compositores clássicos.

Leia um trecho:

‘Manifesto’

“Todo verso que cede à beleza arrisca-se”

“A poesia começa quando o poeta pensa que acabou o poema.

O poema não é a poesia. É somente um dos seus condutores, talvez até o melhor aparelhado.

Toda poesia que cede ao poema frustra-se.

Todo poema que cede ao verso perturba-se.

Todo verso que cede à beleza arrisca-se.

Toda beleza que domine o poeta ameaça-o de não alcançar a poesia.

O poema precisa ser escravo da poesia. Deve aviltar-se, ser volúvel, hipócrita ou solitário, mas corajoso o suficiente para compreender e aceitar o seu lugar de coadjuvante.

Há poetas que começam e acabam seus versos no poema e jamais atingem a poesia, mesmo utilizando-se da melhor inspiração e de refinada linguagem.

Poesia, poema, verso e poeta são concomitantes (...)”


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