Embora seu primeiro longa seja uma adaptação de um best-seller infantojuvenil, ambientado num futuro pouco animador, o diretor estreante Wes Ball vê com muita clareza a singularidade de “Maze Runner — Correr ou morrer”. Para começar, ele rejeita o termo distopia, tão usado para se referir às franquias “Jogos Vorazes” e “Divergente”, e que parece ter sido eleito um baú de ouro pelos grandes estúdios de Hollywood nos últimos dois anos.
— Penso que é como se fosse um filme de náufrago. É sobre garotos presos num lugar, tentando criar uma sociedade própria. Não temos um governo autoritário nem um romance — define o cineasta, até então conhecido apenas pelo curta de animação “Ruin”, sucesso no YouTube.
No filme, em cartaz a partir da próxima quinta-feira, um grupo de meninos é confinado, por tempo indeterminado, num local conhecido como Clareira. Eles não sabem como foram parar lá. De vez em quando, uma nova pessoa é levada ao lugar, sem memória. Para além dos enormes muros que cercam o espaço, está o Labirinto, infestado de criaturas assassinas. Alguns poucos — chamados Corredores — se aventuram a explorar a profusão de caminhos, mas nem todos voltam.
— Vejo a Clareira como uma metáfora para o período anterior à fase adulta. Você vive na casa dos seus pais, come o que eles mandam, e tem as paredes que o cercam. Conforme o tempo passa, você começa a testar limites e vai para o mundo perigoso do lado de fora, onde há muitos rumos a tomar — filosofa Ball, antes de ressaltar que seu objetivo principal não foi “cuspir lições”, mas fazer um filme divertido.
Por conta da premissa, “Maze Runner”, baseado no romance homônimo do americano James Dashner, é comumente comparado a “Senhor das Moscas” e “Lost”. Ball conta que o que o atraiu no projeto foi o conceito de irmandade presente na trama.
fuga como objetivo
Isolados, os jovens tentam sobreviver através da ajuda mútua e da formulação de regras. Mas, assim como as outras histórias sobre confinamento forçado, essa microssociedade começa a se desestruturar, e a fuga dela se torna o objetivo principal.
— Meu objetivo foi criar um mundo palpável em que esses garotos pudessem habitar. Alguns possivelmente não querem arriscar o mundinho perfeito que criaram para si mesmos, afinal, descobriram como viver confortavelmente, com comida, abrigos... Mas, em algum momento, precisam sair de lá.
O custo de produção, reduzido para os padrões hollywoodianos — estima-se que o orçamento tenha ficado em torno de US$ 30 milhões (“Menos da metade do primeiro ‘Jogos Vorazes’”, lembra Ball) — levou o diretor a apostar no talento dos atores para cativar o público:
— Atuar tem a ver com reação. O filme é totalmente baseado em pequenas situações que os personagens encaram. Mesmo sem ter noção de seus históricos, você se identifica com eles pela maneira que reagem. A maneira que um desconhecido se comporta diz muito sobre ele.