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Baterista do Blur vira DJ em festa nesta sexta na Lapa

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RIO - A vida de Dave Rowntree tem uma batida variada. Baterista de uma das mais famosas bandas do rock britânico dos anos 1990, o Blur, ele também é, dependendo do momento, DJ, radialista, advogado criminalista, piloto amador de avião, dono de uma empresa de animação digital e, se o povo assim desejar, político.

— Não há horas suficientes no dia para tudo o que eu gostaria de fazer — resume.

Há cerca de dois anos, num dos vários hiatos da carreira do Blur, Rowntree, 50 anos, virou DJ, atividade que o traz hoje ao Rio, como atração principal da festa Paradiso & Nugrooves.

— Na verdade, eu costumava fazer uma parceria como DJ ao lado de Graham (Coxon, guitarrista do Blur), mas com a agenda intensa da banda, acabei deixando isso para lá. Até que, estranhamente, há dois anos recebi um convite de um cara na Itália, querendo me agenciar. Achei legal e topei, pareceu-me um bom momento para voltar — revela ele, que despista na hora de falar de suas habilidades. — Não acredito muito em DJs que se concentram mais no que estão fazendo do que no público. Acho que a discotecagem é uma performance musical, e se você não pensar assim estará enganando quem está na pista.

Recentemente também, Rowntree (cujo pai era engenheiro de comunicações na Força Aérea Real inglesa) ganhou um espaço na programação da rádio independente XFM, onde comanda, desde então, um programa semanal, tocando rock das mais variadas origens e fazendo entrevistas.

— Tenho me divertido muito, acho que é um trabalho que complementa a atividade de DJ — diz ele, que tem o lendário e saudoso radialista da BBC John Peel como referência. — Sempre escutei os programas dele e cheguei a encontrá-lo pessoalmente num minishow do Blur em sua casa.

Filiado ao Partido Trabalhista, Rowntree já se candidatou ao parlamento britânico duas vezes, em 2007 e em 2011, ambas sem sucesso. Mas ele não credita isso ao fato de ser mais conhecido como baterista de uma banda de rock.

— Acho que as pessoas simplesmente preferiram votar no outro cara — brinca. — Mas não me considero um político tradicional, sou apenas um voluntário do partido. Ajudo no que posso.

Formado em Direito, também tardiamente, ele diz que acha o trabalho de advogado criminalista “empolgante”.

— Trabalhar com música e com leis parece algo muito técnico, mas ambas as atividades nos colocam em contato com o povo. E eu adoro isso.

Para hoje à noite, Rowntree diz que vai tocar “rock indie para dançar, de White Stripes a Black Keys”. E avisa como vai reagir se alguém pedir para tocar “aquela” do Blur.

— Vou ter que dizer que esqueci o disco em casa.


Fernanda Gentil quer engravidar a tempo de 'curtir a licença-maternidade' e cobrir Olimpíadas de 2016

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RIO - Sucesso na Copa do Mundo, Fernanda Gentil trocou de casa até dezembro para apresentar a edição paulista do “Globo esporte” enquanto Tiago Leifert se dedica ao “The voice Brasil”. Mas a família, que vive no Rio, está sempre na cabeça da jornalista, que tem planos de ser mãe brevemente, bem antes dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro:

- Assim consigo curtir a licença-maternidade e voltar a tempo da cobertura das Olimpíadas, caso seja escalada - revela Fernanda, de 27 anos, casada com Matheus Braga.

Fernanda conta que, apesar de estar vivendo em São Paulo, não perde o contato com a família. Ela bate ponto no Rio quase todos os finais de semana:

- E meu marido vem com a minha família nos outros e até durante a semana. Já avisei que eles têm carta branca, espero que venham bastante. Aliás se puderem chegar de surpresa, vou adorar (fica a dica)!

A repórter e apresentadora respondeu a algumas perguntas feitas pela Revista da TV sobre carreira, futuro e família.

O que você quer passar como apresentadora (mesmo que temporariamente) do "Globo Esporte"?

Quero que o público tenha as informações que procura e, ao mesmo tempo, que aprenda, se distraia e se divirta. Se ligarem o 'Globo esporte' e se sentirem bem assistindo a mim, estou realizada.

Como é falar especificamente para o público de SP?

É justamente bem específico. Significa me aprofundar ainda mais nos clubes paulistas, estudar bastante e tentar entender o que o torcedor quer saber do seu clube. Ou seja, um grande e ótimo desafio que tenho pela frente!

Como ficou sua rotina? Virá ao Rio toda semana? Seu marido vai visitar você?

A fase mais complicada da mudança foi justamente planejar a minha rotina em relação à vida pessoal. Mas ajustamos tudo: vou ao Rio quase todos os finais de semana. Meu marido vem com a minha família nos outros e até durante a semana. Já avisei que eles têm carta branca, espero que venham bastante. Aliás se puderem chegar de surpresa, vou adorar (fica a dica)!

Do que sente mais falta no Rio?

Da minha família.

Do que está gostando mais em SP?

Do trabalho e dos restaurantes.

Este ano tem sido movimentado, você ficou pouco em casa? Pode falar sobre isso?

Foi movimentado, mas quando a gente quer encontra solução para tudo. Meu marido foi comigo em quase todos os compromissos. Eu sempre aviso com antecedência para ele conseguir se organizar no trabalho. Me viro para ver e estar com meu afilhado, minha cachorra, meus pais, irmãos e amigos. Para mim, não adianta estar na correria, trabalhando muito, ganhando visibilidade, se não consigo parar e curtir um tempo com a família. As duas "vidas" andam lado a lado, e inclusive a pessoal é fundamental para que a profissional dê certo. Por isso sempre dou meu jeito de estar com quem me faz e me quer bem.

Quais seus projetos profissionais para 2015?

Assim como em qualquer ano, em 2015 espero estar preparada para o que vier. Se precisarem de mim em qualquer programa, matéria ou cobertura, quero estar preparada. Tenho em mente que preciso ser sempre um "coringa" de confiança. Se precisar, é só chamar e vou me esforçar bastante para corresponder.

E a vontade de ter um bebê antes dos Jogos Olímpicos? Ainda pensa nisso?

Penso. Assim consigo curtir a licença maternidade e voltar a tempo da cobertura, caso seja escalada.

Desde a Copa, você foi em praticamente todos os programas da Globo e ganhou uma popularidade incomum para a maior parte dos jornalistas. Como está lidando com isso?

Fui mais vista, só isso. Não mudou meu jeito de ser, pensar ou trabalhar. Fico feliz porque sei que os convites só aconteceram pelo trabalho que fiz na Copa. E fazer um bom trabalho em uma Copa do Mundo era o meu maior sonho.

Tem vontade de ser apresentadora de algum programa no futuro?

Se eu acreditar no projeto e puder dar a minha cara a ele, sempre vou ter vontade. Foi assim com o ‘Rumo à Copa’, tem sido com o ‘Globo Esporte’, e tomara que seja também em outros programas futuramente.

Leonardo DiCaprio e Jonah Hill voltarão a atuar juntos em suspense de Paul Greengrass

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RIO - Depois da parceria bem sucedida em "O lobo de Wall Street" (2013), Leonardo DiCaprio e Jonah Hill voltarão a atuar juntos, dessa vez em um drama de Paul Greengrass, diretor de filmes como "Capitão Phillips" (2013), "O ultimato Bourne" (2007) e "Voo United 93" (2006).

O filme, ainda sem título, vai se passar durante os Jogos Olímpicos de Verão de 1996, em Atlanta, nos Estados Unidos. Hill vai viver o segurança Richard Jewell, que, após achar uma mochila contendo bombas no parque olímpico, conseguiu evacuar a área. Investigações posteriores, porém, apontaram-no como suspeito do crime. Segundo o site "Deadline", DiCaprio vai interpretar o seu advogado.

Inocentado pela polícia das acusações, Jewell morreu de causas naturais em 2007.

O roteirista Billy Ray vai escrever o filme, baseado em uma reportagem da revista "Vanity Fair". Ray colaborou com Greengrass em "Capitão Phillips".

Chimamanda Ngozi Adichie: ‘É impossível falar sobre racismo sem causar desconforto’

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A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie - / Divulgação

O título do terceiro romance de Chimamanda Ngozi Adichie, “Americanah” (Companhia das Letras, tradução de Julia Romeu), é uma expressão usada na Nigéria para se referir a quem volta dos Estados Unidos deslumbrado e passa a desdenhar de tudo em sua terra natal. Mas a protagonista do livro, Ifemelu, não se encaixa nessa descrição. Uma jovem nigeriana de classe média que estuda em Princeton, ela consegue dupla cidadania mas nunca se sente integrada ao novo país, onde passa 13 anos. O “h” na palavra do título marca a diferença e o estranhamento vividos pela imigrante que não chega a se tornar americana.

Experiência compartilhada pelos principais personagens de “Americanah”, sobretudo Ifemelu e Obinze, namorados de faculdade na Nigéria que se separam quando ela decide emigrar. Nos Estados Unidos, Ifemelu se confronta pela primeira vez com o racismo e precisa aprender a manejar os complexos códigos sociais do país. Enquanto isso, Obinze, filho de uma respeitada professora universitária, arrisca-se em Londres como imigrante ilegal e, deportado, faz de tudo para reconstruir a vida em Lagos, a megalópole nigeriana. Partindo da decisão de Ifemelu de voltar para Lagos, o romance narra idas e vindas do casal por três continentes e mais de uma década.

Em 2013, “Americanah” recebeu o National Book Critics Circle Award, concedido pela associação de críticos dos Estados Unidos. Foi o primeiro grande prêmio internacional para a escritora de 36 anos, que já havia recebido boas críticas pelos romances “Hibisco roxo” (2003) e “Meio sol amarelo” (2006), ambos lançados no Brasil pela Companhia das Letras. Enquanto os livros anteriores eram ambientados na Nigéria, “Americanah” é fruto das reflexões de Chimamanda sobre o trânsito cultural: ela nasceu em Enugu, no sudeste nigeriano, foi estudar nos Estados Unidos aos 19 anos e hoje vive entre Lagos e Baltimore.

BLOG SOBRE RACISMO NOS EUA

A maior descoberta de Ifemelu nos Estados Unidos é o racismo. Nascida no país com a maior população negra do mundo, ela compreende aos poucos os “tribalismos de raça, ideologia e religião” dos americanos, escreve Chimamanda. Ifemelu despeja suas inquietações e protestos num blog batizado como “Raceteenth ou Observações diversas sobre negros americanos (antigamente conhecidos como crioulos) feitas por uma negra não americana”. Num dos posts, resume assim suas impressões: “Querido Negro Não Americano, quando você escolhe vir para os Estados Unidos, vira negro. Pare de argumentar. Pare de dizer que é jamaicano ou ganense. A América não liga. E daí se você não era negro no seu país? Está nos Estados Unidos agora”.

— Os nigerianos não se preocupam com a questão da raça. Na Nigéria, muitos leitores me dizem que não entendem o debate sobre esse tema nos Estados Unidos. Quando as pessoas me abordam em Lagos, o que querem saber é se Ifemelu e Obinze vão ficar juntos — diz Chimamanda, em entrevista por telefone, de Baltimore. — Mesmo na África existem percepções diferentes sobre isso, claro. É impossível ser da África do Sul e não ter consciência de raça. Mas na Nigéria e na África Ocidental, simplesmente não é um tema tão presente. Temos muitos problemas, mas esse não é um deles. Então, quando cheguei aos Estados Unidos, eu não pensava em mim mesma em termos de uma “identidade negra”. Aos poucos fui entendendo as dificuldades vividas aqui pelos negros.

Os textos ácidos do blog de Ifemelu expõem vários ângulos desse problema, do preconceito enfrentado por mulheres negras que se recusam a alisar o cabelo à hipocrisia no debate público sobre desigualdade racial: “Nos Estados Unidos o racismo existe, mas os racistas desapareceram”, ela escreve. Em outro post, alerta os leitores: “Se estiver falando com uma pessoa que não for negra de alguma coisa racista que aconteceu com você, tome cuidado para não ser amargo. Não reclame. Diga que perdoou. (...) Nem se incomode em falar de alguma coisa racista que aconteceu com você para um conservador branco. Porque esse conservador vai dizer que VOCÊ é o verdadeiro racista e sua boca vai ficar ainda mais aberta”.

OBAMA: ESPERANÇA E DECEPÇÃO

O racismo também atravessa a trajetória de outros personagens. Dike, primo de Ifemelu que nasce na Nigéria e se muda ainda criança com a mãe para os Estados Unidos, é visto como um alien na escola: “Eu me sinto como se tivesse legumes no lugar das orelhas, imensos brócolis saindo da cabeça”, diz. Em Londres, Obinze entra no circuito clandestino de trabalhos degradantes, casamentos arranjados e documentos falsos, ao lado de outros africanos, asiáticos e sul-americanos. Um dia, lê nos jornais que um ministro britânico quer que imigrantes falem inglês em casa: “Esses artigos eram escritos e lidos, de forma simples e histérica, como se seus autores vivessem num mundo onde o presente não tinha ligação com o passado e nunca tivessem considerado que esse era o curso normal da história: a chegada em massa à Inglaterra de negros vindos de países criados pelo Reino Unido”, escreve Chimamanda.

Outro político retratado em “Americanah” é Barack Obama. A primeira eleição dele, em 2008, tem lugar de destaque na narrativa. A princípio descrente, Ifemelu se encanta por Obama ao ler seu livro de memórias, “A origem dos meus sonhos”. Ela e os amigos se engajam na campanha, mas se decepcionam com suas evasivas sobre racismo. Ainda assim, a descrição da vitória de Obama capta a sensação de esperança daquele momento: “Meu presidente é negro como eu”, diz Dike a Ifemelu.

— Eu não esperava que a eleição de Obama fosse acabar com o racismo nos Estados Unidos, nem mesmo melhorar a relação entre as raças. Em certo sentido, o problema até ficou mais escancarado. Muita gente rejeita o governo de Obama não por discordar de suas políticas, mas por ele ser negro — diz Chimamanda.

Ela não se inclui entre os eleitores de Obama que se desapontaram com seu governo. Mas critica a postura do presidente nos debates sobre racismo no país, como o que acontece desde o assassinato do jovem negro Michael Brown por um policial em Ferguson, Missouri, em agosto.

— Eu gostaria que Obama falasse sobre racismo sem apenas tentar fazer com que as pessoas se sintam bem consigo mesmas. É impossível tocar nesse tema a sério sem causar desconforto.

NOVA PERSPECTIVA SOBRE LITERATURA AFRICANA

Chimamanda diz ter se surpreendido com a boa acolhida de “Americanah” nos Estados Unidos, mesmo discutindo o racismo no país e ridicularizando o “multiculturalismo” das elites liberais: uma personagem branca é descrita como alguém que pensa que “cultura é uma propriedade estranha e pitoresca de pessoas pitorescas, uma palavra sempre acompanhada do adjetivo rica. Ela jamais acharia que a Noruega tinha uma cultura rica”. Na Nigéria, o livro fez barulho pela ironia com os migrantes que retornam: algumas das cenas mais cômicas se passam no Clube dos Nigerpolitas, cujos frequentadores passam o tempo reclamando da falta de restaurantes vegetarianos e cafés refinados em Lagos.

— No fundo, é uma brincadeira com meus amigos e comigo mesma. Eu amo Lagos. Não é uma cidade bela, no sentido mais óbvio da palavra, nem quer ser. Mas é uma cidade com uma energia única — diz Chimamanda, que acaba de criar o blog “As pequenas redenções de Lagos”, no qual escreve sobre a vida na cidade, assinando como a personagem Ifemelu.

Chimamanda faz parte de uma geração de jovens escritores que transitam entre África, Europa e Estados Unidos, assim como o também nigeriano Teju Cole, o etíope Dinaw Mengetsu e o serra-leonês Ismael Beah, entre outros. Em seus livros, artigos e entrevistas, ela faz alusões à tradição literária do continente, citando com frequência escritores de seu país como Chinua Achebe e Esiaba Irobi, célebres na África mas ainda não tão conhecidos no resto do mundo.

— Muita gente pensa na literatura como um remédio: “Tome isso, é ruim mas vai te fazer bem”. Isso é bobagem. A literatura feita na África precisa ser mais conhecida não porque vai “fazer bem” aos leitores, e sim porque é boa. A maior parte dos livros sobre a África que os leitores do resto do mundo conhecem foi escrita por autores de fora da África. É preciso mudar essa perspectiva.

Livro inédito de James Joyce revela origens do clássico ‘Finnegans Wake’

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O escritor irlandês James Joyce. - / Roger Viollet/Getty Images

No prefácio de “Giacomo Joyce”(Iluminuras,1999), de James Joyce, o tradutor José Antonio Arantes conta que, em 1993, “Finn’s Hotel” deveria ter sido lançado pela Viking Press, mas Stephen Joyce, neto do escritor irlandês e administrador do seu espólio, não permitiu a publicação da obra, formada por excertos de “Finnegans Wake” descobertos por Danis Rose ao pesquisar os manuscritos do romance.

Desde aquela época, “Finn’s Hotel” gera controvérsias nos meios acadêmicos. Para o curador da Fundação James Joyce de Zurique, Fritz Senn, “‘Finn’s Hotel’ não é um livro de Joyce, é uma coleção dos primeiros rascunhos de ‘Finnegans Wake’. Já Danis Rose acredita que em algum momento Joyce quis publicá-los como um livreto”.

“Finn’s Hotel”, independentemente de ter pequenas anotações não aproveitadas por Joyce em “Finnegans Wake”, ou de ter sido concebido como um livro autônomo, é um mimo para os leitores e admiradores da obra de James Joyce, que agora a Companhia das Letras oferece na tradução de Caetano Galindo.

Quando se lê “Finn’s Hotel”, é, no entanto, inevitável compará-lo com “Finnegans Wake”. Os pequenos “épicos” do livro recém-lançado ensaiam muito timidamente uma brincadeira com a linguagem, que ganhará dimensões extraordinárias no “Wake”. Em “Finn’s Hotel”, Joyce não mistura 65 línguas, como o fez no seu último romance, mas explora aliterações, assonâncias e neologismos, que vão reaparecer mais tarde em “Finnegans Wake”, como se pode verificar no seguinte trecho de “A tale of a tub” (“Uma história de um tonel”): “where pious Kevin lives alone on an isle in the lake” (“onde pio vive Kevin solitário numa ínsula do lago”).

Há outras passagens, todavia, que dialogam efetivamente com o último romance de Joyce, como “Here’s Lettering You” (“Eis que te carto”), que nada mais é do que uma carta assinada por Anna Livia Plurabelle Earwicker, que será a futura heroína de “Finnegans Wake”, casada com Humphrey Chimpden Earwicker, e também autora de uma carta cujo conteúdo inocenta seu marido de um suposto crime. “The Staves of Memory” (“Bordões da memória”) vai se transformar, no “Wake”, no capítulo quatro do livro II: as quatro ondas irlandesas do conto serão, no livro seguinte, os quatro juízes que registram o sonho de H.C.E.

EDIÇÃO GANHA COM TRADUÇÃO

O conto intitulado “Here Comes Everybody” (“Homem comum enfim”) foi, sem a menor sombra de dúvida, reformulado e absorvido pelo segundo capítulo do livro I de “Finnegans Wake”, mesmo que Danis Rose afirme categoricamente que “esses episódios ‘bônus’ nunca foram absorvidos pelos textos posteriores de Joyce [...]”. Além disso, Kevin ou Kevineen, o personagem de alguns contos de “Finn’s Hotel”, como o já citado “A tale of a tub”, metamorfoseia-se, no Wake, em Shaun ou Kev, um dos filhos de H.C.E e Anna Livia.

“Finn’s Hotel” foi escrito em 1923, justamente quando Joyce teria começado a escrever “Finnegans Wake”. Em 11 de março de 1923, Joyce enviou uma carta para Harriet Weaver, sua mecenas, em que dizia: “Ontem escrevi duas páginas — a primeira desde o Sim final de ‘Ulisses’. [...] Il lupo perde il pelo ma non il vizio, dizem os italianos”. Segundo Richard Ellmann, essas duas páginas teriam sido inseridas de forma amplificada no final do capítulo 3, do livro II, do “Wake”. Passados alguns dias, em 23 de março de 1923, Joyce enviou outra carta a Weaver e, dessa vez, já lhe apresenta uma ideia concreta do que estava escrevendo: “eu tentarei lhe enviar a ‘exegese’ do episódio de Cila e Caríbdis antes de ir para o hospital”.

O título de um dos contos de “Finn’s Hotel” é “Issy and the Dragon” (“Seus encantos dela”, na tradução de Galindo), e permito-me aqui especular que esse título teria relações com o episódio de Cila e Caríbdis, citado por Joyce na carta enviada a Harriet Weaver. Lembro que Issy é uma das protagonistas do “Wake” e incorpora nesse romance muitas figuras mitológicas, entre elas Cila, uma bonita moça transformada em monstro marinho, numa das versões do mito. Caríbdis é também um monstro marinho feminino ou, quem sabe, um dragão, como Joyce, a meu ver, parece ter se referido a ele no título do conto.

“Finn’s Hotel” é uma pequena amostra do “Work in Progress”, como Joyce chamava seu novo romance ainda sem título, o qual daria origem, em 1939, ao exuberante “Finnegans Wake”. Joyce via cada capítulo do “Wake” como uma história independente, cada capítulo valeria por si só, de modo que o romance seria feito de pequenos (ou grandes) contos, os quais não apresentam títulos.

A edição ganha com a tradução humorada, embora bem pouco ortodoxa, de Galindo, mas perde por não ser bilíngue e por ter colocado juntos dois textos bastante diferentes entre si, “Finn’s Hotel” e o relato autobiográfico “Giacomo Joyce”, este já traduzido para o português por Paulo Leminski e José Arantes. Diria que os dois livros têm em comum apenas a concisão narrativa e o fato de Joyce tê-los abandonado, os quais foram “resgatados” posteriormente por Stanislaus Joyce e Danis Rose.

A Companhia das Letras poderia apostar no futuro numa edição juvenil da obra, aproveitando a leveza e a brevidade das narrativas, para que o jovem leitor possa conhecer Joyce e sua linguagem experimental.

Os mil nomes de Gaia: a necessidade de repensar a relação do homem com o planeta

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RIO - Terra, mundo, Pachamama... Há muitas maneiras de nomear nosso planeta, mas poucas causam mais controvérsia no momento do que o termo Gaia — uma divindade primordial que, no imaginário dos gregos antigos, regia os elementos da natureza. Resgatado nos anos 1970 para ilustrar a hipótese do ambientalista James Lovelock e da bióloga Lynn Margulis de que o planeta é como um ser vivo que se autorregula, o nome está no centro de uma reação intelectual à crise climática, à perda da biodiversidade e à probabilidade de um colapso global. Gaia ressurge agora como teoria científica e conceito filosófico, um ponto de partida privilegiado para se problematizar as relações entre homem, natureza e tecnologia. Algumas destas propostas estarão em pauta no colóquio “Os mil nomes de Gaia: do Antropoceno à idade da Terra”, que acontece a partir de segunda e até sexta-feira na Fundação Casa de Rui Barbosa. Idealizado pela filósofa Déborah Danowski, pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro e pelo antropólogo e filósofo francês Bruno Latour, o evento reúne diversos pensadores brasileiros e estrangeiros para debater novas maneiras de imaginar e ocupar o espaço do mundo, mesclando ciências exatas e humanas.

Entre os 29 participantes, há visões divergentes. Para a filósofa belga Isabelle Stengers, que fará a conferência de encerramento do colóquio, Gaia é uma intrusa, que desafia nossas categorias de pensamento, e com a qual nem mesmo as grandes potências mundiais podem negociar. Já para a filósofa francesa Emilie Hache, que participará de uma mesa-redonda na sexta, Gaia coloca de ponta-cabeça o nosso antropocentrismo, alertando que a espécie humana nunca será mais forte do que o planeta, e que a coabitação é mais viável do que a dominação. Embora seja reconhecida pela comunidade científica, a teoria tem detratores — Bruno Latour, que abre o evento com a conferência “O que significa obedecer às ‘Leis de Gaia’ ao tentar manter o antigo imperativo ‘só se vence a Natureza obedecendo-lhe?’”, já admitiu que foi diversas vezes “aconselhado a não utilizar o termo”, nem a confessar seu interesse pelas ideias de Lovelock.

— Gaia é um dos nomes que vêm sendo convocados em todos os cantos do mundo para se pensar ontológica e politicamente os modos possíveis de enfrentamento e de resistência à radical degradação atual das condições de existência não só dos humanos, mas de uma enorme quantidade de outros viventes sobre (e sob) a Terra — explica Déborah Danowski. — A urgência de abordar a questão se dá porque simplesmente não podemos viver em um mundo 3 ou 4 graus mais quentes que o atual, não há registro de nada semelhante a isso na história da “civilização”. Entretanto, os governos mundiais, com os seus timidíssimos e até covardes acordos internacionais, têm se mostrado incapazes de fazer qualquer coisa a respeito.

CONEXÕES FALHAS NA UNIVERSIDADE

Professor da Divisão de Ecologia Humana da Universidade de Lund (Suécia), o antropólogo Alf Hornborg, que falará terça-feira no evento, confessa ter um certo ceticismo em relação ao nome Gaia, embora acredite que ele possa ser usado em um sentido mais amplo e “menos antropomórfico” para nos lembrar que “o sistema Terra e sua biosfera têm lógicas próprias, indiferentes à espécie humana”.

— Cabe a nós humanos escolher se respeitamos e nos conformamos a esse sistema (por exemplo, minimizando o uso de combustíveis fósseis) ou se continuamos a gerar mudanças na biosfera que tornarão difícil a sobrevivência das nossas espécies — sugere o antropólogo, em entrevista por e-mail.

Decisiva para o nosso futuro, a escolha passa, segundo ele, pelo desenlaçamento das redes que fundem as dimensões materiais do ambiente e os processos culturais da sociedade. Para Hornborg, autor do livro “The power of the machine: global inequalities of economy, technology, and environment” (O poder da máquina: desigualdade global da economia, tecnologia e meio ambiente), já é “evidente” que o que acontece com a biosfera está estreitamente conectado com aspectos econômicos e culturais, como nosso padrão de consumo. Apesar de imagens de satélites mostrarem como a distribuição de infraestrutura tecnológica coincide com a distribuição de dinheiro no mundo, e apesar de o desenvolvimento ter comprovadas consequências ambientais, a ecologia, a economia e a engenharia continuam, na avaliação do antropólogo, separadas nas universidades.

— O ponto de vista do mundo dominante falha em ver essas conexões. Uma das razões é que temos tendência em distinguir objetos materiais, como as máquinas, com as relações sociais que os geraram, como a troca desigual de recursos no mercado mundial. Quando o capital se torna tecnologia, ele se torna moralmente neutro e inocente. Outro ponto é que não entendemos as relações entre economia e física. Assim como (o economista romeno) Nicholas Georgescu-Roegen demonstrou há mais de 40 anos, a produção de commodities é, na verdade, a destruição dos recursos. A criação do valor de consumo é, também, a criação de entropia. Ao contrário do que muitos pensam, isso não é inevitável. Isso é a consequência do uso generalizado do dinheiro, uma instituição que precisa ser fundamentalmente repensada.

Segundo Émilie Hache, mestre de conferência e professora do departamento de Filosofia na Universidade de Nanterre (Paris), a questão não é se perguntar “por que” as relações entre ciência, tecnologia e meio ambiente são ignoradas, mas sim “por quem”. Em seu livro “Ce à quoi nous tenons, propositions pour un écologie pragmatique” (Aquilo a que damos valor, propostas para uma ecologia pragmática), Emilie parte da crise ecológica nos anos 1980 para entender seu sentido científico e político. O que implica repensar a dimensão moral da ecologia, já que as ações humanas geraram novas responsabilidades sobre o que será deixado às gerações futuras.

— Não creio que o “mundo” tenha dificuldades de entender as questões ao mesmo tempo econômicas e sociais da nossa relação com o meio ambiente — diz ela. — Mas se aceitarmos esta formulação, diluindo as responsabilidades, então podemos esperar que a civilização desmorone e que daqui a um século, ou dois, historiadores se interroguem sobre a incapacidade do nosso mundo em tomar as medidas necessárias, mesmo tendo todos os dados científicos para isso.

EGOÍSMO DA ESPÉCIE HUMANA

Uma visão comum entre a maior parte dos convidados do evento é a de que Gaia exige o fim da visão utilitarista que opõe homem e natureza. Bruno Latour defende que esta última não pode ser pensada de forma independente das relações entre os humanos e os não humanos. A natureza não seria um valor em si. Para Émilie, porém, o problema está menos na concepção moderna de natureza, a qual já se tem uma fácil relação crítica, e mais na “dificuldade de substituí-la, de mudar o imaginário”.

— A natureza está em todos os lugares, no direito, nas normas, na biologia, no social... — enumera Émilie. — Não é tanto um conceito, mas um operador, que serve a hierarquizar, desvalorizar e dominar tudo que ele ataca: as mulheres, as pessoas de cor, os outros seres vivos... A natureza não tem nada a ver com a ecologia. Precisamos de articulações que abracem as questões ecológicas em outros problemas: ecologia e feminismo; ecologia e desigualdades sociais; ecologia e racismo; ecologia e etologias...

Os pesquisadores ainda tentam entender por que a espécie humana não cria pontes de colaboração, mesmo diante de uma situação de emergência climática. Parte dessa dificuldade talvez possa ser atribuída à prevalência, no século XX, da ideia de que somente o egoísmo e a competição exerciam um papel na regulação do planeta. Cientista, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Antonio Nobre acredita que a noção implícita de que o processo essencial da seleção natural embutia em si o “enobrecimento do egoísmo” foi um erro grave, que teria bloqueado a visão de outros processos essenciais para o funcionamento do conjunto. Hoje, porém, novas descobertas indicam que, em Gaia, quanto mais rico e complexo um sistema, menor o papel da competição e maior o da colaboração.

— A explicação da seleção natural para a variedade de organismos era sem dúvida melhor do que as explicações anteriores, mas ela não era idêntica em tudo o mais com explicações que viriam depois — explica Nobre, que falará na terça-feira sobre “Os fundamentos belíssimos da vida na regulação planetária”. — Um vasto campo de complexidade, invisível antes do surgimento da biologia molecular, permaneceu ignorado no auge do desenvolvimento do darwinismo. E suspeita-se que parte maior da complexidade bioquímica na base do funcionamento dos sistemas vivos ainda permaneça oculta. Por exemplo, a explicação mais simples, como aquela na base da teoria da evolução baseada apenas nos mecanismos demonstrados da seleção natural, não dá conta de clarificar o papel da vida na regulação do ambiente planetário. Ademais, existem explicações simplíssimas ilustrando o papel central da colaboração na evolução de complexidade, que são rejeitadas apenas porque não batem com o que tornou-se um dogma excludente, o da competição e da sobrevivência do mais apto.

No elenco de 'Império', Josie Pessoa diz que o namorado adora seu cabelo vermelho

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RIO - Aos 26 anos, Josie Pessoa tem visto sua popularidade se multiplicar desde a estreia de “Império”. A atriz conta que surgiram fã-clubes não só para ela e Eduarda, sua personagem, mas também para o casal que ela poderá formar com João Lucas (Daniel Rocha). Atuando desde os 6 anos de idade, ela diz que já levou até bronca no banco, na semana passada, porque Du fez um pacto com a vilã Maria Marta (Lilia Cabral).

Eduarda é boazinha ou vilã?

Ela sempre foi traçada como um anjo da guarda do João Lucas. Mas, agora, tem essa aliança com a Maria Marta, não sei... Ela é muito misteriosa, mas vai começar a falar que sua família é pobre, pede para ficar na casa do João Lucas. Vai ficar no ar se ela gosta dele ou se está tentando conquistá-lo por interesse.

Qual a cor do seu cabelo?

Meu cabelo é castanho, tive que ficar loura para “Além do horizonte” e, por isso, nem tive que descolorir os fios para pintar de vermelho. O Papinha (o diretor Rogério Gomes) pediu para eu buscar referências para a Eduarda antes da novela. Levei algumas, mas ele bateu o olho no cabelo vermelho.

Como seu namorado reagiu?

A gente está junto há quatro anos. Ele adora essas mudanças. A cada dia, está com uma mulher diferente, já fui morena, loura, ruiva...

Nosso olhar e o seu reverso

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Uma réplica do Parangolé de Hélio Oiticica - / Nos Parangolés dionisíacos de Hélio Oiticica há uma união entre antagonismos aparentes/Deborah Engel/Divulgação

RIO - Parece tão simples olhar para alguém ou para alguma coisa: abrem-se os olhos e vê-se aquilo diante do qual estamos postados. Circulamos cotidianamente entre as coisas identificando-as a partir do que já vimos e já sabemos. Todavia, nem tudo é assim tão simples. Felizmente. Para além da visão cotidiana das coisas do mundo — e sem sair do mundo — temos, em ocasiões raras, mas significantes, a sensação de ser fisgado por algo naquilo que vemos. Aí já não se trata da relativa banalidade de perceber os objetos que nos cercam, mas de ver em um deles, através dele, algo que nos atravessa o olhar, que nos atinge em cheio e que não sabemos exatamente o que é e como isso acontece.

É ainda mais desconcertante a sensação de que lá, onde está aquilo que olhamos, é também de onde somos “olhados” e, por mais contraintuitiva que possa parecer a seguinte afirmação, é só nesse ponto que caberia dizer com propriedade que, então, “olhamos e vemos”. Foi tratando desta experiência de reversibilidade do olhar que Merleau-Ponty escreveu em “Olho e o Espírito”, “que não basta pensar para ver: a visão é um pensamento condicionado, nasce por ocasião do que acontece no corpo, é excitada a pensar por ele.”

Essa afirmação, difícil, abrupta, exigente quanto à nossa capacidade de situar-nos do outro lado dessa dinâmica do olhar, também encontra força nas elaborações teóricas de Didi-Huberman, quando este escreve algo como: “O que vemos só vale — só vive — em nossos olhos pelo que nos olha”.

Buscando traduzir esta ideia, sempre correndo o risco de vê-la diluir-se na simplicidade, podemos rememorar um desses momentos em que cada um de nós tenha parado — se detido por um tempo mais ou menos longo — diante de uma obra de arte; um quadro, digamos. Mas para tornar a coisa toda mais clara, digamos que todos nós já tenhamos fixado o olhar em alguém que, por alguma razão, nos interessou particularmente. Esta experiência, tão universal quanto vibrante, grávida de consequências em seus possíveis efeitos, faz pensar no que terá feito com que, diante de tanta gente nas cidades, o olhar tenha pousado — e permanecido — por tempo que terá sido suficiente para que “um qualquer” se torne um.

Algo, em alguém, cintilou como um olho que brilhou no escuro; como um diafragma que nos olhava de lá. Estaríamos ainda em busca de alguma coisa ou, de outro modo, teríamos, nesse momento, obtido a sensação necessariamente fugidia de que encontramos algo? Estaríamos em busca de alguma coisa ou, melhor: será que nesse ponto reencontramos algo que julgávamos perdido? Estaríamos autorizados a avançar a ponto de irmos longe o suficiente para afirmar que o que nos olha é no final das contas um vazio delineado pela coisa perdida?

A ideia de ser olhado pelo objeto pode parecer imensamente estranha, de modo que nos remeta às experiências da loucura: delírios, alucinações e vivências de redimensionamento do eu. Mas agora é diferente. Num primeiro momento, investigamos expressões mais francas de enlouquecimento, como a melancolia, para desembocarmos agora numa loucura que se suavize em formas mais cotidianas.

Em outros estudos, estivemos diante de fronteiras, por vezes intransponíveis, na borda de regiões das quais apenas a criação — a artística e a psicótica — pôde nos dar notícias. Agora, nos aproximamos das neuroses e das perversões, colocando ao lado do terreno menos doméstico das psicoses, outros campos, estes, um pouco mais familiares e, por isso mesmo, suportes de outras camadas da experiência: o sonho, o som de dentro e o olhar de fora.

A empreitada é complexa, na mesma medida em que é desafiadora. Temos como pano de fundo a cidade em que vivemos, capaz de acolher — quase simultaneamente, com a mesma veracidade e voracidade — agrupamentos de gente dispostos a manifestações de cunho político, mas também outras legiões, que vêm à rua para “brincar” o carnaval. Que desconcertantes similaridades guardam esses grupos aparentemente tão antagônicos, mas que, como na obra de Helio Oiticica, podem ser tomados como dois cordões que se entrelaçam e que se separam continuamente? Há em Oiticica uma bipolaridade da experiência na qual os metaesquemas apolíneos conviverão com os parangolés dionisíacos. Como é observar a cidade e ao mesmo tempo estar nela? Como é estar diante de um quadro e ser olhado por ele?

Os pontos de fusão e de cisão do político e do festivo; daquele que olha e daquele que é visto e, por fim, do olho que vê e da fenda da qual emerge a obra, nos conduzirão por caminhos que atravessam cidades e subjetividades e que, mais uma vez, relampaguearão coisas que dirão respeito à arte e à loucura.

*Guilherme Gutman é médico e psicanalista; professor do Departamento de Psicologia da PUC-Rio; Luiz Camillo Osorio é professor do departamento de Filosofia da PUC-Rio e curador do Museu de Arte Moderna (MAM-Rio). Ambos são organizadores do curso “Ver e ser visto”, que acontece no MAM entre os dias 20 de setembro e 22 de outubro


Festival com Arnaldo Antunes, Nação Zumbi, Ney Matogrosso e Elba tem transmissão online

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BELO HORIZONTE — Com nomes de peso, a quarta edição do Festival Natura Musical quer mostrar que está antenada aos tempos modernos. Em sua segunda versão com transmissão simultânea, terá quatro shows ao vivo pela internet, através de um canal da Vevo. O festival de MPB, que é gratuito, acontece neste domingo.

Ao total, os 15 shows de várias atrações recheiam uma programação das 10 às 22h. Entre as principais figuras, estão Ney Matogrosso, Elba Ramalho (com Mariana Aydar), Nação Zumbi (com BNegão), Fernanda Takai (com Samuel Rosa), Karina Buhr, Arnaldo Antunes (com Marisa Monte). As atrações se dividem entre as praças JK, da Liberdade e da Estação, e podem ser vistas no site da Natura Musical.

Apesar do vasto número de atrações, apenas quatro shows serão transmitidos: os de Fernanda Takai, Elba Ramalho, Nação Zumbi e Arnaldo Antunes. Quem quiser, pode conferi-los também em aplicativos da Vevo nos dispositivos da Apple e no Xbox.

Transmissões do Festival Natura Musical, 14 de setembro (domingo):

16h30m: Fernanda Takai, com participação especial de Samuel Rosa

18h: Elba Ramalho, com participação especial de Mariana Aydar

19h30m: Nação Zumbi, com participação especial de BNegão

21h15m: Arnaldo Antunes, com participação especial de Marisa Monte

Programação:

Praça da Estação

14h00 Marcela Bellas (BA) com participação especial de Juliana Sinimbu (PA)

15h00 5 a Seco (SP)

16h30 Fernanda Takai (MG) com participação especial de Samuel Rosa (MG)

18h00 Elba Ramalho (PB) com participação especial de Mariana Aydar (SP)

19h30 Ney Matogrosso (MT/RJ)

21h15 Arnaldo Antunes (SP) com participação especial de Marisa Monte (RJ)

Praça JK

Vinil é Arte (MG)

15h00 Siba (PE) com participação especial de Chico Lobo (MG)

16h30 Felipe Cordeiro (PA) com participações especiais de Luê (PA) e Dona Jandira (MG)

18h00 Karina Buhr (BA/PE) canta Secos e Molhados

19h30 Nação Zumbi (PE) com participação especial de BNegão (SP)

Praça da Liberdade

10h00 Érika Machado (MG)

11h15 Giramundo (MG)

Oficina de atividades lúdicas

14h30 Disco Baby (SP) e Anderson Noise (MG)

16h30 Pequeno Cidadão (SP)

O folk independente de Suzanne Vega

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RIO - Suzanne Vega está de preto na foto e não é por acaso. Uma rápida pesquisa na internet vai confirmar que esse é o tom preferido da cantora e compositora americana, que provou o sabor do sucesso com os hits “Luka” e “Tom’s diner”, ambos de 1987. A paixão é tanta que ela incluiu uma música chamada “I never wear white” (“Nunca uso branco”) em seu mais recente álbum, “Tales of the realm of the Queen of the Pentacles”, lançado no Brasil pelo selo Lab 344. Na letra, afirma, com estilo: “Minha cor é preta, preta, preta/ Preto é para os segredos/ Os fora da lei e os dançarinos/ Para o poeta da escuridão”.

— Realmente, adoro a cor preta. Comecei a usar quando era adolescente e fazia dança moderna. Acho que revela a minha personalidade — diz ela. — Além do mais, alguns dos meus heróis, como Bob Dylan, Lou Reed e Leonard Cohen, todos usavam paletós e roupas pretas.

Primeiro álbum de Suzanne em sete anos (ela tem 55), “Tales of the realm of the Queen of the Pentacles” veste a cantora com o manto da independência, na estreia do seu próprio selo, Amanuensis Productions. A empreitada se justifica. Depois do estouro com “Solitude standing” — de onde saíram “Luka” e “Tom’s diner” —, Suzanne manteve uma produção de bom nível, como os elogiados “99.9°F”, de 1992, e “Nine objects of desire”, de 1996, nos quais cobriu seu som folk com uma tapeçaria eletrônica, mas não bisou as doses de sucesso. Apesar de cultuada e respeitada por suas letras minuciosas e requintadas, acabou sendo dispensada da A&M, sua antiga gravadora, e da renomada Blue Note, por onde lançou “Beauty & crime”, em 2007.

— Não sei se as grandes gravadoras são um mal necessário, mas a triste verdade é que as pessoas não compram mais música e se orgulham disso — afirma. — Então, tive que buscar novas formas de me promover e me manter.

Ironicamente, “Tom’s diner”, hit nas pistas em 1990 em remix do grupo britânico DNA, foi a música usada nos primeiros testes do MP3, o mesmo formato que abalou o mercado fonográfico e fez com que artistas como Suzanne perdessem espaço e receita. A canção, inspirada pelo restaurante de Nova York usado no seriado “Seinfeld”, teve também seus vocais sampleados à exaustão por artistas de hip-hop, numa conexão que só agora ganha da artista um inesperado retorno. Em “Don’t uncork what you can’t contain”, ela usa, pela primeira vez, os recursos do sample, com um trecho de “Candy shop”, provocativa música do rapper 50 Cent.

— Não somos tão distantes assim. Ele cresceu a algumas quadras de onde minha tia vivia, no Queens. E eu, perto do Harlem — explica ela. — Mas usei esse sample apenas porque ele caiu como uma luva na canção.

No extremo unplugged de sua música, Suzanne diz que vê com desconfiança mais um revival do som folk, por conta do sucesso de bandas como Mumford & Sons e da repercussão de filmes como “Inside Llewyn Davis: balada de um homem comum”, dos irmãos Coen, inspirado em Dave van Ronk, mítica figura do circuto folk dos anos 1960 em NY.

— A cada cinco anos acontece um revival folk, então nem me impressiono mais — garante. — Mas teria gostado mais do filme dos irmãos Coen se não soubesse dessa inspiração. Afinal, Van Ronk foi um gigante, em todos os sentidos, bem diferente do protagonista do filme.

Formada em Letras, autora do livro “The passionate eye”, lançado em 1997, da elogiada peça “Carson McCullers talks about love”, encenada em 2011, e influenciada por poetas como Leonard Cohen e Bob Dylan, Suzanne revela um lado pouco conhecido, o misticismo, ao citar uma figura de tarô no título do novo trabalho.

— Gosto de pensar que sou muito racional e pé no chão, mas há um lado da minha personalidade ligado em magia e misticismo — conta ela. — Mas não seria capaz de jogar cartas para ver se terei sucesso com esse disco. Aí já seria demais.

Na lista da ‘Seriais’, reunimos os escritórios de advocacia mais agitados das séries de TV

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O elenco de “The good wife” - / Reprodução

RIO - O escritório de advocacia de Annalise Keating não é o único cheio de histórias para contar. Cenário comum a muitas séries, esses ambientes podem fazer rir e também chorar.

1. “The good wife”. A dona de casa Alicia Florrick (Julianna Margulies) não podia esperar tantas emoções ao arranjar um emprego na firma de Chicago que tem Will Gardner, um amor antigo, como um dos associados.

2. “Ally McBeal”. Na Cage, Fish and Associates, tudo era possível. A maluquinha Ally e os outros membros da equipe são advogados competentes, ainda que não tenham uma postura lá muito convencional.

3. “The practice”. Também do criador de ‘Ally Mcbeal’, David E. Kelley, a série pegava pesado no drama. No escritório de Bobby Donnell, os conflitos entre ética e a defesa dos clientes eram frequentes.

4. “Angel”. Esses são os verdadeiros advogados do diabo. O Wolfram & Hart é chefiado por demônios ancestrais. Tudo bem para uma série de vampiros, certo? A firma está em outras obras criadas por Joss Whedon.

5. “Petrocelli”. Esta só está na memória de quem é bem grandinho. A série dos anos 1970 mostrava a firma de um homem só: Tony Petrocelli, um advogado que abandonou um escritório em Boston (sempre ela...) para trabalhar por amor à causa.

Atriz conta ter verdadeira 'obsessão por cabelos' e quer fazer programa sobre o tema na TV

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A atriz Julia Lund - / Divulgação

RIO - Em cartaz com a peça "A conferência dos pássaros" no Oi Flamengo, no Rio, a atriz chora ao assistir aos programas do Animal planet, não perde o "Casa brasileira", e conta se identificar com a protagonista da série "Homeland".

Quais são suas séries preferidas na atualidade?

Adoro “Sessão de terapia”. Assisti às duas primeiras temporadas, e estou acompanhando a atual. Outra série a que assisto é “Mad men”. Don Draper é um dos personagens mais complexos e instigantes criados pela TV americana. E acho “Homeland” uma das melhores séries que vi nos últimos tempos, vi as três temporadas numa tacada.

Você se identifica com algum personagem de seriado?

Geralmente crio uma “identificação” com personagens com que não me identifico, ou seja, que não me vejo ou me reconheço neles de um modo direto. Por exemplo, a Carrie (Claire Danes) de “Homeland” é genial. Adoraria fazer uma personagem assim.

Que atração você gostaria de rever?

“Anos dourados” revi agora no canal Viva, e poderia ver muitas outras vezes, não me canso. Atualmente, pude sentir o gostinho de estar no ar no “Vale a pena ver de novo” com “Caras & bocas” onde fazia a Hannah, uma judia ortodoxa.

Não perde por nada:

Não perdia “O rebu”. Tenho assistido a “Império”. Também amo o “Casa brasileira” do GNT.

Qual programa de TV a faz chorar?

Os programas do “Animal planet”, fico emocionada vendo a constante luta dos animais pela sobrevivência.

O que te faz rir na TV?

Adoro o “Tá no ar: A TV na TV”. Acho que é um humor bastante liberto de amarras. O humor precisa de liberdade para existir, não dá para ter tanto freio, ele precisa de espaço. Também me divirto com o “Tapas & beijos”. A Andrea Beltrão e a Fernanda Torres são uma dupla imbatível, e o elenco como um todo é ótimo, todos são engraçadíssimos.

Personagem de humor inesquecível:

Eu amo o Mussum. Gostava muito de “Os trapalhões” nos velhos tempos, tanto na TV como nos filmes. O Mussum inventava um jeito de falar. Eles conseguiam fazer um humor que não necessariamente atacava ou alguém para ser engraçado, eles não eram críticos e ácidos. Era um outro tempo e um outro tipo de humor, mais leve, que se aproxima mais do que a gente entende por brincadeira, daquilo que é lúdico, que faz rir de um jeito mais puro, e menos intelectual, talvez.

Talk-show:

“Saia justa”.

Desenho animado preferido:

Eu amava o Gato Félix. Acordava às 6h da manhã para assistir, e na época que passava eu era bem pequena, então lembro da minha mãe me perguntando o que eu estava fazendo acordada aquela hora. Eu adorava, porque ele carregava uma mala com ele, e tirava de lá o mundo inteiro, uma série de coisas. Hoje fico pensando se esse fascínio tem alguma ligação com o fato de eu ter me tornado atriz. Se a gente pensar nos antigos atores que rodavam pelo mundo carregando aqueles canastros, que eram aqueles baús que guardavam uma série de figurinos e elementos de um monte de personagens. Enfim, mas naquela época eu não pensava nisso, claro, eu adorava o desenho pelo que ele era.

Cena de novela inesquecível:

A cena da Maria Clara (Malu Mader) dando porrada na Laura (Claudia Abreu) dentro do banheiro, na novela “Celebridade”. Lembro também da Letícia Sabatella com o Ângelo Antônio numa cena de despedida com a música do Cazuza ao fundo... Na novela “O dono do mundo”. E mais recentemente as cenas da Adriana Esteves, como a Carminha, em “Avenida Brasil”, todas maravilhosas.

Que papel de novela gostaria de ter feito?

Laura, personagem da Claudia Abreu na novela “Celebridade” de Gilberto Braga.

Apresentador ou apresentadora mais versátil da TV?

Gosto muito da Marília Gabriela, que é sempre interessante de assistir, tanto por ela como entrevistadora, como pela escolha dos convidados. E o curioso também é que, ao longo de todos esses anos, ela consegue se renovar ou manter um frescor mesmo mantendo uma mesma estrutura, um programa de entrevistas básico, que não cai para o programa de variedades.

A que assiste quando tem insônia?

Vejo no computador algumas séries que ainda não chegaram aqui.

O que você vê e ninguém acreditaria?

Programas sobre cabelo. Não que ninguém acreditaria, mas as pessoas acham curiosa a quase obsessão que tenho sobre o tema. Criei, com uma amiga, um blog/site chamado Hairdrama e queremos transformá-lo em um programa de TV.

Melhor programa para ver acompanhada:

Eu e meu namorado gostamos muito de assistir a documentários e filmes antigos.

Rosana Lanzelotte transforma portal em referência da música clássica brasileira

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RIO — O Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, abriga “Musica Brasilis — Rio 450 anos de música”, exposição interativa que passeia por séculos, indo do repertório musical entoado pelos índios tupinambás até o funk atual. A mostra, que segue em cartaz até novembro, é atualmente a parte mais visível do trabalho a que se dedica a cravista carioca Rosana Lanzelotte há cinco anos: o portal musicabrasilis.org. br, que disponibiliza partituras, jogos, vídeos de “escuta guiada” e todo tipo de informação sobre repertórios brasileiros de várias épocas. Hoje, com cerca de 6 mil acessos mensais, ele se transformou na principal referência para a música clássica brasileira na web.

Desde que trocou o piano pelo cravo e foi para a Holanda para estudar com o renomado Jacques Ogg, Rosana abraçou de vez a música antiga e o gosto pelo garimpo de partituras por bibliotecas públicas e acervos particulares daqui e da Europa.

A alma garimpeira foi ainda mais atiçada quando, ao longo da realização do projeto Música nas Igrejas, que durou 20 anos, se viu desafiada a desencavar, contra todas as dificuldades, partituras de obras sacras brasileiras. Mas uma situação, em especial, a marcaria: em 2005, participou do Ano do Brasil na França, e os franceses queriam tocar algo que fosse além do Villa-Lobos que já conheciam.

— Não havia partituras disponíveis. Não é inacreditável? Você sabia que a “Brasília — Sinfonia da Alvorada”, do Tom Jobim, nunca foi editada? — diz Rosana, 53 anos, sentada em frente ao espaço que leva o nome do compositor.

Com a constatação de que a música clássica brasileira acabou representada só por Villa-Lobos, ela decidiu tomar para si o desafio de sanar essa escassez. Criou o portal que resgata e difunde repertórios brasileiros, em grande parte inacessíveis por falta de edições voltadas à execução. O site já virou até ponto de recado para estudantes e profissionais, daqui e do exterior, interessados em música brasileira.

— Tem gente que pede ajuda porque quer achar um artista ou uma obra. A equipe, então, tenta fazer a ponte.

E o site não está nem traduzido para o inglês. Torná-lo bilíngue é um dos investimentos que ela quer fazer tão logo consiga verba. Hoje, o Musica Brasilis disponibiliza cerca de mil obras de 300 compositores, possui um patrocínio de R$ 100 mil ao ano e mantém 15 pessoas ligadas à sua atividade.

DOUTORA EM INFORMÁTICA

O site funciona em um anexo instalado na casa da própria Rosana. Como boa canceriana, casa é palavra de importância capital. Ela gosta de receber amigos. Não raro, faz reuniões de trabalho na sua sala. E os almoços de família sempre acontecem em torno de sua mesa.

— Venho de família italiana, gregária. Então faz parte. Eu adoro — conta.

A atividade mais recente de Rosana, das mais atuantes cravistas do país, une à música outro interesse: a informática, disciplina na qual ela se tornou doutora. Pode parecer estranho para alguém que toca instrumentos antigos e revira o passado. Ela garante que não. A tecnologia está justamente a serviço do resgate.

— As pessoas acham que, por ter uma partitura guardada na biblioteca, ela está preservada. Mas não é bem assim. Elas precisam ser editadas. E estão com a grade inteira. O músico, para tocar, precisa ter só a parte do seu instrumento — explica.

Rosana é obstinada. E perfeccionista. Para Dom Felix Ferrá, especialista em canto gregoriano, amigo e parceiro desde o Música nas Igrejas, ela é do tipo que, quando decide fazer algo, faz, não importa se o custo ou o envolvimento acabarem por se revelar maiores do que o imaginado.

— A Rosana tem muito fôlego. Ela está no início desse projeto e, do que conheço dela, sei bem que ele não vai parar por aí — diz o monge.

Não vai mesmo. Ela quer ampliar, não só as ferramentas de busca do portal, mas também incrementar a área pedagógica. Sem falar, é claro, no acervo. As últimas aquisições foram obras de Glauco Velásquez (1884-1914) e Alberto Nepomuceno (1864-1920), que alimentaram a série Circuito BNDES Musica Brasilis, percorrendo Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte e em breve Fortaleza, com concertos. E ainda pretende criar um museu da história da música.

— A gente tem um museu do futebol. Por que não um da música? A exposição “Musica Brasilis — Rio 450 anos de música”, é um embrião do que podemos fazer.

A iniciativa de Rosana tem entusiastas como o economista e músico Manoel Corrêa do Lago, que presta consultoria ao portal.

— Colaboro com ideias. O Musica Brasilis funciona como um imenso museu interativo. E muda o acesso à criação brasileira. Coloca em outro patamar — acredita ele, que diz que mesmo com toda a determinação, Rosana é uma pessoa fácil de lidar. — Ela é muito exigente com ela, mas é conhecedora do métier e sempre te responde muito rápido. Além disso, é receptiva às ideias dos outros.

Rosana pode ser da área da música antiga. Mas seu portal, não. A lista de histórico dos compositores vai do A de Adoniran Barbosa ao Z de Zequinha de Abreu. E tem partituras de muita gente: de 218 obras de Ernesto Nazareth — coleção que motivou a criação do portal — a Padre José Maurício, passando por Henrique Oswald e Leopoldo Miguez. Começou agora a disponibilizar para venda partituras na loja virtual da Apple.

— Disponibilizamos três partituras. Uma de Villa-Lobos, outra de Radamés Gnattali e de Villani-Côrtes, que saem a US$ 9 ou US$ 10 — explica Rosana.

Esse pluralismo encanta gente de outras praias, como a compositora Jocy de Oliveira, expoente da música contemporânea brasileira.

— Estou pronta para enviar várias partituras para colocar no site — diz Jocy. — Rosana é inteligente e é curiosa. Curiosidade é muito bom.

A carreira de recitalista continua. A rotina diária começa com três horas de estudos dedicados ao cravo. Depois, almoça com os pais. As tardes são dedicadas ao portal e a tudo que ele envolve. Para o equilíbrio e a boa forma, o dia é encerrado com aulas de yoga, que antecedem o jantar com o marido, o empresário Antônio Carlos Vidigal.

Quando tem uma brecha, Rosana viaja. Passou a semana passada em Paris. Mas, mesmo lá, continua a trabalhar. Anda em negociações para trazer ao Brasil a exposição Great Black Music — que como o título adianta, é sobre música negra —, abrigada de março a agosto deste ano na Cité de la Musique.

Desde que criou o portal, Rosana diz que ganhou ainda mais desenvoltura para negociar. Perdeu a vergonha, especialmente, para pedir.

— Sabe por quê? Porque agora, quando estou pedindo, não é para um CD que estou gravando, ou um concerto que quero fazer. O Musica Brasilis é tão maior... É sobre resgate de coisas que podem desaparecer. E, tenho certeza, vai sobreviver a mim. Então, perdi mesmo o pudor.

‘How to get away with murder’, nova série de Shonda Rhimes com Viola Davis, estreia lá fora

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Viola Davis vive Annalise Keating, sua primeira protagonista na TV - / Reprodução

RIO - Infelizmente, “How to get away with murder” só chega ao Brasil em 2015, segundo o canal Sony, que exibirá a série aqui. Mas quando a nova produção estrear nos EUA no próximo dia 25 — e Shonda Rhimes mandar um beijinho no ombro para as inimigas sendo a única produtora executiva a contar com um horário nobre só seu, toda quinta, com o trio “Grey’s anatomy”, “Scandal” e “HTGAWM” — temos certeza que você não vai escapar de ouvir os comentários sobre a série, desde já uma das mais aguardadas da nova temporada.

Assistimos ao primeiro episódio da série na última TCA Press Tour, em Los Angeles, evento em que os canais apresentam aos jornalistas suas novidades, e a trama promete! Viola Davis é a protagonista Annalise Keating, uma professora de Direito que apelida o curso ministrado por ela de “how to get away with murder” (algo na linha de “como cometer assassinato e ficar livre”). Na estreia, vemos a mestra recrutando um time de alunos para trabalhar na firma de advocacia que ela mantém. Mas os jovens vão se meter numa enrascada e precisar realmente se livrar de uma acusação de assassinato.

O episódio é sofisticado, cheio de idas e vindas no tempo, nem sempre nos apresentando os personagens de forma mastigadinha. Demanda atenção, mas oferece qualidade em troca. O criador da série é Peter Nowalk, parceiro de Shonda de longa data. O elenco jovem dá conta do recado direitinho e, além de nomes menos conhecidos tem, por exemplo, Liza Weil (a eterna Paris Geller de “Gilmore girls”) como uma assistente de Annalise, e Katie Findlay (de “The killing” e “Carrie diaries”) como a vizinha gótica de um dos alunos.

O modelo novelão de “Scandal” está lá, mas o suspense e as reviravoltas parecem apimentar bem mais esta produção. E, além do mais, convenhamos, Viola Davis está alguns degraus acima de Kerry Washington... A tendência é ser um programaço.

Sétima temporada de ‘A fazenda’ estreia com regras mais rígidas e novos animais

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RIO — A sétima temporada de “A fazenda”, que estreia nesta segunda-feira na Record, às 22h, será a mais interativa de todas as edições do programa. É o que afirma Rodrigo Carelli, diretor-geral do reality. O telespectador terá à disposição novos canais de comunicação, além de acompanhar a movimentação e os conflitos entre as 16 celebridades confinadas em Itu, no interior de São Paulo, durante 24 horas pela internet.

— O público (que já vota para eliminar os concorrentes) decidirá coisas relacionadas ao dia a dia dos participantes e até sobre as provas — conta Carelli, citando as enquetes que serão lançadas ao longo da temporada.

Assim como nos anos anteriores, há um mistério em torno dos peões da atração. Durante a coletiva de imprensa da nova edição, na última quarta, foram revelados apenas os nomes de dois dos 16 integrantes que irão concorrer ao prêmio de R$ 2 milhões: o ex-atleta e comentarista esportivo Robson Caetano e a modelo Lorena Bueiri, famosa pelo título de Gata do Paulistão.

Este ano, Britto Jr. terá a ajuda da jornalista Dani Duff, que irá apresentar provas que envolverão merchandising. Titular da atração desde a estreia da primeira temporada, em maio de 2009, Britto diz que a oferta de interação para o público veio acompanhando a evolução da tecnologia.

— Além disso, houve o amadurecimento da equipe a cada temporada. Fomos aprendendo juntos — acrescenta Britto.

Ainda nesta edição, a apresentadora e modelo Gianne Albertoni e a atriz Carla Diaz irão dividir o comandando do “Fazenda on-line”, que trará reportagens especiais para a internet. A atração da web terá três edições semanais com transmissão ao vivo.

Durante o período de confinamento, os concorrentes terão que cuidar de 16 diferentes espécies de animais. Além das já esperadas galinhas, cavalos e porcos, eles agora irão conviver com um emu (a segunda maior ave do mundo) e um búfalo.

A dinâmica do jogo será diferente das temporadas anteriores, adianta Carelli. Nesta primeira semana não haverá eliminação. O diretor admite que novos participantes poderão entrar no confinamento ao longo da edição. E destaca que comportamentos inadequados, como as polêmicas cusparadas da edição passada, poderão ser punidos este ano.

Agora, a segunda-feira será o dia da votação entre os participantes, uma espécie de “pré-roça”, com a indicação de três pessoas. Na terça, será formada a roça propriamente dita com a prova do fazendeiro — o público começará a votar pela eliminação de um dos concorrentes, que acontecerá na quinta. Na sexta, haverá a prova da chave e, no sábado, a festa. Os programas de quarta e domingo mostrarão, respectivamente, a repercussão da roça e da festa.

— Assim serão as semanas típicas, mas nesta primeira a dinâmica será diferente e surpreendente. Os participantes que estudaram muito as temporadas anteriores vão ficar sem chão nesta edição — alertou o diretor.


Marco Pigossi: 'Entre parafusos, livros, pneus e roteiros, sigo carregando um largo e incompreensível sorriso'

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Acelera, troca de marcha, curva a 300 metros, outra a 500 metros, reduz a marcha, olha que vista, buraco, curva a cem metros, troca a marcha, que lugar lindo...

Uma estrada, você, a moto, e nada mais.

É mais ou menos isso que acontece quando se está em cima de uma moto. Aquelas horas ou minutos que passamos e temos a liberdade de não pensar. Não se tem tempo para autorreflexões, críticas, elogios, planos de um futuro perfeito, celular ou internet, e não podemos levar o stress junto, pois a bagagem é reduzida e em algum momento você vai perceber que ele ficou no caminho. O futuro é ali na frente e que assim seja para sua própria sobrevivência.

Refletindo sobre minha própria história e como tudo começou, arrisco ir um pouquinho além. Acredito ainda que a moto teve grande influência na escolha da minha profissão. Ator. Explico: depois de um hobby como este, que outra profissão eu poderia escolher!? Que outra profissão existe que é uma eterna aventura, que não se repete nunca, que não é feita por obrigação mas por simples prazer e amor, que se brinca o tempo todo, que assim como a moto usa de meios alternativos, caminhos diferentes e inexplorados para se chegar a algum lugar, que é instigante e caótica ao mesmo tempo, inconstante e firme, bela e vulgar, perigosa e inofensiva?

Se aventurar na vida artística através de Rilke é como fazer aulas de direção. Você pode até fazer depois de velho, mas é quando jovem que tudo irá fazer mais sentido e você terá mais tempo de entender que nem sempre o jovem poeta está errado e que algumas coisas, diferente do que seu professor de direção ensinou, são mais práticas. Passeamos por Grotowsky, Stanislavski e Meyerhold entendendo que eles são fundamentais, assim como aquela moto enorme que tínhamos no pôster na parede do quarto quando crianças, mas às vezes percebemos que o verdureiro ou o padeiro do seu bairro podem ser mais valiosos para a construção de um personagem. Do mesmo jeito que uma pequena scooter pode se sair melhor num trânsito caótico de cidade grande. Buscamos Euclides da Cunha e o Grande Guimarães e seus sertões para se chegar a algo que se aproxime de um Chicó de Ariano Suassuna, não pegamos o caminho mais fácil e óbvio. Enlouquecemos no processo de ensaios e na criação. Mergulhamos, arriscamos estradas que não conhecemos e não sabemos aonde ela nos levará, não importa! O caminho é sempre mais gostoso que chegar. Chegar é o fim, e você não quer que acabe.

Entre motociclistas, independente da moto que tenha ou para onde vai, se usa couro ou poliéster, há uma solidariedade, ou mais, uma relação de fraternidade. Quando se cruzam em estradas, se cumprimentam, se ajudam e trocam dicas e informações. São as mais variadas tribos, e temos a impressão de que todos em algum momento de suas vidas cruzaram com Nelson Rodrigues, e eliminaram todo e qualquer tipo de preconceito, aceitando a vida como ela é.

E no meio desse caos em que vivemos, continuo sabendo que tenho não exatamente aonde ir, mas por onde ir. Entre parafusos, livros, pneus e roteiros, sigo carregando um largo e incompreensível sorriso no rosto, por ter escolhido a moto e o teatro como estilo de vida.

Marco Pigossi é protagonista da novela "Boogie Oogie" e o colunista convidado deste domingo da Revista GLOBO

Exposição provoca reflexão sobre a percepção da verdade

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RIO - A luz que vaza por baixo da porta e pela fechadura indica que há algo na sala contígua. Mas ao se abrir a porta a luz apaga - trata-se de um quarto escuro. A ideia de ilusão, cara à arte, perpassa os cerca de 50 trabalhos, entre eles "Las puertas" (2004), do argentino Leandro Erlich, na mostra "Ilusões", inaugurada neste sábado ao público na Casa Daros.

Com curadoria de Hans-Michael Herzog e Katrin Steffen, a exposição reúne peças da Coleção Daros Latinamerica, provocando uma reflexão do espectador sobre o que vê.

—A arte é a coisa mais real do mundo. Quem sabe a realidade não é uma ilusão? - diz Herzog, em provocação que reflete aquela que impõe ao visitante.

Do mesmo Erlich, há mais duas obras na mostra, uma delas a instalação "Cambiadores" (2008), conjunto de 24 provadores de roupa dispostos como um labirinto de espelhos e passagens. O coletivo cubano Los Carpinteros, cujos integrantes vivem entre Havana e Madri, comparece com "16m" (2010), comprimento dos 200 paletós enfileirados, com um buraco que perpassa todos.

— Em Madri há um êxodo de homens, toda manhã, de paletó. Isso nos impressionou muito — diz Marco Antonio Castillo, que deixa a parte metafórica da obra a critério de cada um.

Na próxima sala está "O presságio seguinte" (1997), do brasileiro José Damasceno, uma obra de extrema tensão, em que um manequim é mantido paralelo ao chão com a força de centenas de cordas. Foi a partir dessas peças, e ainda as de Luis Camnitzer, alemão criado no Uruguai e atualmente vivendo em Nova York, que se organizou a mostra, conta Herzog.

De Camnitzer, há um conjunto de 37 trabalhos, em que o artista brinca com o sentido das palavras, num jogo afinado entre imagem e significado. Quatro vídeos curtíssimos (em torno de 30 segundos cada), do mexicano Mauricio Alejo, pegam o espectador: o que parece uma linha no meio da tela, a sombra de um galho, ou ainda o que parece um buraco... não são linha, nem sombra, nem buraco.

"Ilusões" tem ainda quatro obras da mexicana Teresa Serrano, artista que sempre discutiu as relações de poder, principalmente em relação à mulher. Em "Blown mold" (2012), ela usa a técnica de moldagem de vidro a sopro para reproduzir quatro chapéus da Igreja Católica: o solidéu, a mitra, o barrete e o chapéu Saturno, numa metáfora da fragilidade daqueles que os usam; em "Del mismo diámetro" (2012), põe lado a lado os solidéus das religiões judaica, cristã e islâmica, evidenciando a medida idêntica dos três: 17 centímetros.

A relação de poder também está presente em outros dois trabalhos. "Opus" (2005), do cubano José Toirac, apresenta, em looping, uma sucessão de números citados pela inconfundível voz de Fidel Castro em seus discursos. E os colombianos Fernando Pareja e Leidy Chavez mostram uma animação tridimensional, sem título, de 2012, que fascina o visitante num primeiro instante - bonequinhos que, somente com o efeito de luz, avançam para a frente, lançando-se num vazio. Os bonecos são, na verdade, mulheres idosas, e a cena reflete a situação da população civil da província dos artistas, Cauca, presa num conflito armado entre exército, milícias e guerrilha.

Serviço:

“Ilusões”

Onde: Casa Daros — Rua General Severiano, 159, Botafogo (2275-0246)

Quando: Deste domingo a 13/2/2015; qua a sáb, das 11h às 19h, dom e feriados, 11h às 18h

Quanto: R$ 12 (grátis às quartas)

Classificação: Livre

Livro reúne a história política do Brasil contada em mais de 200 canções

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RIO - "Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós, e que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz...", cantou a Imperatriz Leopoldinense em 1989, levando o caneco daquele carnaval. Para quem não se lembra, o refrão-libelo dos compositores Niltinho Tristeza, Preto Joia, Vicentinho e Jurandir, um clássico de qualquer roda de samba, celebrava a República, então uma vetusta senhora comemorando cem anos.

E foi a partir dela, a República - hoje um pouco mais rejuvenescida e buliçosa, às vésperas de mais uma eleição presidencial -, que o historiador André Diniz e o pesquisador de música brasileira Diogo Cunha deram início a um levantamento do tamanho de uma Marquês de Sapucaí em domingo de carnaval: a lista das canções brasileiras que contam a história política do país.

Da queda da monarquia ao governo Dilma, os dois chegaram a 200 músicas, cujas histórias, esmiuçadas, compõem o livro que acaba de ser lançado pela Zahar "A República cantada: do choro ao funk, a história do Brasil através da música".

- A pesquisa começou há quase dez anos, era um Frankenstein, muito grande. São cem anos de música e de história do Brasil - relata Diniz, que abandonou a ideia na gaveta e nesse meio-tempo lançou o "Almanaque do carnaval", o "Almanaque do choro", o "Almanaque do samba" e as biografias "Joaquim Callado, o pai do choro" e "O Rio musical de Anacleto de Medeiros". - O grande barato foi compreender que a música brasileira não é só boa para ouvir, ela é boa para conhecer a história do país, para entender os muitos países que existem dentro do Brasil. O livro recupera a história política, quando o mais comum é recuperar a história cultural. Não foi simples. Nosso corte foram os acontecimentos políticos mais importantes desse período entre 1889 e 2014. Tanto é que nós citamos todos os presidentes. Todos foram cantados.

A varredura passa por lundus, modinhas, hinos, enredos de clubes de carnaval, polcas, maxixes, choros, marchas, ranchos, sambas, bossas, rocks, raps, funks. Todos os principais episódios históricos do país foram referenciados por músicas, como indica a pesquisa da dupla - das crises do governo do marechal Floriano Peixoto (fez muito sucesso no carnaval de 1893 a pagodeira "Florianal", que satirizava o então presidente, mas não da forma que o leitor pode estar pensando) às manifestações de 2013 (representadas pela música "Vem pra rua", do grupo O Rappa). Uma das conclusões de Diniz é que não há um período mais crítico do que outro.

- As pessoas tendem a achar que na ditadura militar a música foi mais crítica. Na ditadura, o processo crítico foi mais complexo, mas não necessariamente mais profícuo. A ditadura é um momento em que a música faz uma interlocução com outras linguagens, e desse ponto de vista é um momento singular. Mas há muitos momentos em que a música se colocava também como bandeira. Por exemplo, a geração do BRock estava tão sufocada que, quando se expressa, vai num crescente que diz até que vai matar o presidente (refere-se à música "Tô feliz (matei o presidente)", do rapper Gabriel O Pensador, composta no governo Collor). Cada momento tem sua reflexão crítica própria.

O pesquisador Diogo Cunha, coautor, com Diniz, dos livros "Nelson Sargento" e "Na passarela do samba", lembra que nem só de grandes episódios se alimenta a crônica pulsante das canções brasileiras. Pelo contrário. Muitos acontecimentos corriqueiros e notícias comezinhas também foram lembrados pelo cancioneiro popular.

Ele cita um episódio ocorrido durante a gestão turbulenta do marechal Hermes da Fonseca, que foi presidente entre 1910 e 1914 e era chamado nas ruas de "Dudu". Certa vez, ele pegou dinheiro emprestado de um banco inglês e decidiu aplicá-lo num russo. Mas o montante do militar foi confiscado pelo governo para financiar a ditadura comunista. O povo não aguentou. Tornou-se popular a canção "Ai, Philomena", do compositor J. Carvalho, lançada em 1915: "Ai, Philomena, se eu fosse como tu/ Tirava a urucubaca da careca do Dudu".

Outra história garimpada por eles foi a da marchinha "Seu Julinho", composta por Sinhô para enaltecer Júlio Prestes, então candidato à Presidência numa eleição que caiu num domingo... de carnaval. Dizia a letra: "Eu ouço falar/ Que, para o nosso bem, Jesus já designou/Que seu Julinho é que vem".

- Muitas músicas sumiram por serem datadas, e por isso nos causaram tanta surpresa quando as descobrimos - nota Cunha, para quem a maior surpresa foi a descoberta da música "Rei Chicão", de Wilson Baptista, uma clara alusão ao presidente Getúlio Vargas. - Na letra, ele diz "Hoje quem sobe o morro vê aquele velho caído no chão, não conhece sua história, ele foi o Rei Chicão/ Foi há mais de trinta anos, ajudou a vencer a revolução, as autoridades lhe entregaram o morro, ele então coroou-se Rei Chicão" (cantarola). Quase não é conhecida, é uma canção belíssima.

De todos os presidentes, Getúlio Vargas foi o mais cantado, contam os pesquisadores, que dedicaram a ele um capítulo. Em 1932, Lamartine Babo compôs a marcha "Gê-é-Gê"; em 1938, a dupla Nássara e Cristóvão Alencar tornou popular a cantiga "A menina presidência". No carnaval de 1956, a Mangueira defendeu o samba "O grande presidente", de Padeirinho. Anos depois, a dupla Alvarenga e Ranchinho cantou "Quem não conhece esse baixinho, tão gordinho, que agora tá quietinho?

Já morou lá no Catete quinze anos, hoje tá só 'urubuservano'". Nem Chico Buarque resistiu: em parceria com Edu Lobo, compôs "Doutor Getúlio" ("Abram alas que o Gegê vai passar..."). A lista é tão rica que em 1989 foi lançado um álbum por Beth Carvalho e João Nogueira intitulado "O grande presidente: homenagem à memória do presidente Getúlio Vargas".

O contrário também está no livro, que é recheado de informações históricas complementares e curiosas: a música preferida de Getúlio era "A jardineira", dos compositores Benedito Lacerda e Humberto Porto. Nos momentos de aflição, contam Diniz e Cunha, Getúlio pedia para o "cantor das multidões" Orlando Silva entoar os versos da "camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu".

Juscelino Kubitschek também foi bastante cantado, bem como os desmandos de Jânio Quadros e o poder escasso de João Goulart (foi para ele que Herivelto Martins compôs "Que rei sou eu?", canção que ironizava seu esvaziamento político com os versos "que rei sou eu/ sem reinado e sem coroa, sem castelo e sem rainha?").

A ditadura militar ganha um capítulo detalhado, com linha do tempo para ajudar o leitor a não se perder no período que deu à história da música popular pérolas como "Cálice", "Vai passar" ou "Para não dizer que não falei de flores" - aliás, quem pensaria que o presidente militar Costa e Silva, por exemplo, adorava "Carolina", de Chico Buarque?

- A história da música brasileira é riquíssima, cheia de detalhes surpreendentes e saborosos, mesmo num tema que em princípio soa árido, como a política - reforça Diniz. - A crítica está por toda parte, quem acha que a música brasileira é alienada é porque não a conhece.

Um dos exemplos é o da "Geração Coca-Cola", referência à música homônima do grupo Legião Urbana: listadas, as canções com referências políticas da geração Diretas Já somam quase 30 exemplos. Entre elas, "Homem primata", dos Titãs; "Inútil", do Ultraje a Rigor"; "O eleito", de Lobão em parceria com Bernardo Vilhena, que atacava até a faceta de escritor do então presidente Sarney; "Que país é esse?", também do Legião Urbana; "Ideologia", de Cazuza; e "É", de Gonzaguinha.

Dos tempos mais recentes, já nos anos 1990, os pesquisadores garimparam preciosidades como um samba-enredo de Lenine e Bráulio Tavares para o bloco de carnaval Suvaco do Cristo fazendo críticas à gestão do ex-presidente Collor (“E a República? República dos vira-latas, das concordatas, do economês/ República do golpe baixo, é muito escracho com a cara de vocês”); uma música de Gaúcho da Fronteira ironizando a ex-ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello (“Tia Zélia disse e falou: não é como antigamente/ O povo que se prepare, no pacote tem presente”); e o samba-jingle “Se não fosse a ajuda da rapaziada”, um escracho do repertório de Bezerra da Silva, do mesmo período, que cantava “É o candidato caô, só visita o morro quando é tempo de eleições”.

- O final dos anos 1990 também é rico em canções críticas, mas muitos só se lembram das mais conhecidas, como Herbert Vianna cantando os “trezentos picaretas com anel de doutor” ou o “Rap da felicidade”, do Cidinho e Doca — lista Cunha, lembrando ainda que o paralelo paulistano do famoso verso “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci...” é o refrão do pagode “Senhor presidente”, do grupo Negritude Júnior: - “Senhor presidente, espero que se encontre bem, pois a nossa gente ainda anda esmagada no trem, idosos vendendo pipoca e amendoim, que país é este, meu Deus, o que será de mim?”.

O livro, que será lançado no próximo sábado com uma roda de samba temática no Candongueiro, em Niterói, tem ainda referências ao grupo pernambucano Nação Zumbi (“A cidade”); ao grupo de reggae Tribo de Jah (“Globalização”, música que cita até a crise dos tigres asiáticos na virada dos anos 2000); ao rapper Gog (“Ei, presidente”); à dupla de repentistas Caju e Castanha (“A Fome Zero zerou”); e até ao grupo de funk Gaiola das Popozudas (“Funk do Lula”, que começa com os versos emblemáticos “Conheci o Lula no Complexo do Alemão, e ele não tirou o olho do meu popozão” e termina com “O funk não é problema, para alguns jovens é a solução, quem sabe algum dia viro ministra da Educação”).

Se estas eleições ainda não renderam nenhuma música, a conclusão a que se chega ao final da leitura do livro é que é só uma questão de tempo. Um último exemplo? Na campanha presidencial de 2010, durante um corpo-a-corpo, o então candidato José Serra fora atingido por uma bolinha de papel, incidente que o levou ao hospital para um raio x. O episódio não demorou muito para ser transformado em samba, no caso, “Bolinha de papel”, de autoria de Tantinho da Mangueira e do atual presidente da Portela, Serginho Procópio.

Serviço:

“A República cantada: do choro ao funk, a história do Brasil através da música”

Autores: André Diniz e Diogo Cunha

Editora: Zahar

Quanto: R$ 39,90

Um papo sobre design, decoração e moda

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RIO - Era para ser um papo sobre a evolução do mobiliário nacional, mas a colunista e editora do caderno Ela Ana Cristina Reis e o arquiteto Chicô Gouvêa falaram também de decoração, moda e comportamento na palestra "Arte e decoração", nesta sexta-feira, na IDA, feira de design e arte paralela à ArtRio, organizada com apoio do GLOBO.

- De 20 anos para cá, o interesse pelo produto nacional aumentou muito. Quem diria que as formas europeias sairiam de moda para dar lugar a móveis com tramas do Piauí? - comentou Ana Cristina.

A transformação no design de móveis ao longo do tempo, tema de exposição que Chicô organizou com o antiquário Arnaldo Danemberg há alguns anos, rendeu bons momentos.

- Para a mostra, pesquisei o século XX, e o Arnaldo, que é um superespecialista, ficou com os séculos XVI ao XIX. Descobrimos que a papeleira virou escrivaninha, e a cômoda deixou de existir - lembra Chicô, lamentando não haver uma herança forte do design africano ou indígena. - Dos índios, citaria apenas a rede como peça relevante.

Apesar disso, ele exaltou a integração como a marca da estética brasileira:

- Somos uma mistura de negro, índio e branco, por isso temos uma explosão de criatividade, que vai das escolas de samba à construção de um edifício.

Para ilustrar a conversa, a jornalista selecionou capas do Ela dos últimos 15 anos que comprovaram esse novo olhar, focado agora em nomes como Rodrigo Almeida, Hugo França, Irmãos Campana, Etel Carmona e Zanini de Zanine, que estava na plateia - e teve um de seus trabalhos comentado por Ana:

- Zanine transformou chapas da Casa da Moeda em poltronas. Domingos Tótora cria peças que parecem pedras ou ovos pré-históricos usando papelão. É a era da reciclagem - disse Ana.

Chicô, que é arquiteto, mas volta e meia se aventura no território do design, contou que não ousaria fazer uma cadeira.

- Precisa ser especialista, entender de ergonomia. Só faço mesas, pois preciso apenas de linhas retas, é mais fácil - admitiu ele, que é dono da loja Olhar o Brasil. - Tenho uma paixão pelas formas brasileiras. Levo isso para dentro das casas.

‘Guardiões da Galáxia’ alcança marca de US$ 600 milhões

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RIO — O blockbuster “Guardiões da Galáxia”, parceria da Marvel Studios e da Disney, chegou a mais de US$ 600 milhões em bilheteria no mundo no seu sétimo final de semana de exibição. Nesta sexta-feira, o longa tornou-se o primeiro filme a alcançar a marca de US$ 300 milhões nos EUA, tornado-se o filme do verão na América do Norte.

Entre os filmes de super-heróis, o longa de James Gunn já ultrapassou outros títulos da Marvel como “Homem de Ferro” (US$ 585 milhões), “Thor” (US$ 449 milhões) e “Capitão América: O Primeiro Vingador” (US$ 371 milhões). A lista é mais impressionante na América do Norte, onde já ultrapassou uma série de títulos, incluindo “Man of Steel” (US$ 291 milhões), “O espetacular Homem Aranha” (US$ 262 milhões) ,“Capitão América: O Soldado Invernal” (US$ 259 milhões), “X -Men: Dias de um Futuro Esquecido” (US$ 232 milhões) e “Thor: O Mundo Sombrio” (US$ 206 milhões).

“Guardiões da Galáxia” conta com um elenco de atores experientes, como Glenn Close, Benicio del Toro e as vozes de Vin Diesel e Bradley Cooper. Os protgaonistas, no entanto, ficam a cargo de Chris Pratt, Zoe Saldana e Dave Bautista.

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