RIO - Considerado por muitos amantes da música clássica o maior intérprete dos compositores Hector Berlioz e Jean Sibelius que ainda estava em atividade, o regente inglês Colin Davis, morto neste domingo, dia 14, fez grandes concertos e gravações com orquestras de primeiro escalão como a Concertgebouw de Amsterdã, a Sinfônica de Boston, a Staatskapelle Dresden, a Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara e, sobretudo, a Sinfônica de Londres, conjunto com o qual teve sua parceria mais frutífera. Foi regente titular dessa orquestra de 1995 a 2006, e, ao deixar o posto, recebeu dela o título de presidente.
Sir Colin Davis (que usava o título nobiliárquico de cavaleiro desde 1980) também foi um renomado regente de óperas, especialmente as de Mozart e Berlioz. Seu repertório, porém, ultrapassava os períodos clássico e romântico e abrangia compositores do século XX, como Stravinsky, Alban Berg ou o seu conterrâneo Michael Tippett. Nos 15 anos que dirigiu a Royal Opera House, em Londres, Davis se aprimorou nessa arte.
Ele nasceu numa família sem tradição musical, na cidade de Weybridge, na região de Surrey. Seu pai era caixa de banco e, em casa, o único contato com a música se dava por meio de um gramofone. Foi ouvindo a 8ª sinfonia de Beethoven que o jovem Davis descobriu a enorme gama de sentimentos e sensações que a música era capaz de transmitir, o que viria a selar seu destino. Não demorou muito até ele começar a estudar um instrumento, a clarineta.
Desde cedo, Davis alimentava o desejo de se tornar regente, porém, o fato de não ter estudado piano, instrumento cujo domínio era considerado essencial para aspirantes a maestro, criou obstáculos. Mais tarde, ele diria que “a regência tem mais a ver com o canto e a respiração do que com o piano”. Suas primeiras experiências com a batuta se deram com a Kalmar Orchestra, um grupo criado por formandos da Royal College of Music. Logo depois, ele foi convidado a reger o semi-profissional Chelsea Opera Group, num repertório que viria a se tornar uma de suas especialidades: Mozart.
Sua primeira grande oportunidade foi um convite para ser regente adjunto da Orquestra Sinfônica da BBC Escocesa, em 1957. Dois anos depois, teve a chance de substituir o grande maestro alemão Otto Klemperer, que estava indisposto, numa montagem operística no Royal Festival Hall. O programa? “Don Giovanni”, obra-prima de Mozart. Em 1967, Davis assumiu, enfim, seu primeiro posto importante numa grande orquestra: o de regente titular da Sinfônica da BBC. Seu talento logo foi reconhecido e lhe rendeu convites para orquestras e casas de ópera estrangeiras, como o Metropolitan de Nova York e a Ópera de Viena.
Davis era conhecido por cultivar uma boa relação com os músicos das orquestras que dirigia e por se interessar na educação dos mais jovens. Ele foi professor na Royal College of Music e na Academia de Música de Dresden. Sem exibir uma personalidade extravagante e temperamental como colegas de profissão de sua geração, ele nunca explodiu como um fenômeno de marketing, mas era profundamente respeitado pelos conhecedores de música. Ao longo de seus 85 anos de vida, construiu um legado que alcançará as próximas gerações através de várias gravações em áudio e em vídeo.