RIO - Da década de 1990 até os anos 2000, o artista paranaense Odires Mlászho se debruçou sobre imagens clássicas de figuras gregas e romanas. Instigava-o a ideia de poder acrescentar um olhar contemporâneo a figuras tão conhecidas (e antigas). Para isso, ele se valeu de um recurso que aparece em toda a sua obra: a colagem. Mlászho passou a aplicar olhares de políticos alemães dos anos 1960 sobre as imagens clássicas.
— O primeiro grupo de imagens, “Retratos romanos”, são esculturas de mármore e bronze de várias épocas, desde figuras anônimas até imperadores. O segundo são retratos de nomes importantes da política alemã. São cortados na altura dos olhos e colados sobre os retratos romanos, “acrescentando” visão às esculturas: é meu olhar sobre o passado, criando uma nova dimensão no presente — diz.
Nascido em 1960, Mlászho começou a carreira de artista plástico tardiamente (nos anos 1990) e, embora tenha obras em importantes instituições, como o MAM e o Masp, de São Paulo, é agora que vive momento de projeção internacional.
O artista foi escolhido pelo curador Luis Pérez-Oramas, da 30ª Bienal de São Paulo (onde também expôs suas colagens), para ser um dos dois representantes (ao lado de Hélio Fervenza) do Brasil na 55ª Bienal de Veneza, em junho. Ainda neste ano, sem data definida, ele expõe na coletiva “Paper”, na prestigiada Saatchi Gallery, em Londres. Lá, mostrará esta série de retratos de figuras clássicas com sua colagem contemporânea.
Relação com a poesia
Pérez-Oramas enfatizou a importância de apresentar à crítica internacional o artista, à margem do mercado, quando o selecionou para o pavilhão brasileiro na Bienal. Entretanto, o próprio Mlászho diz não se sentir marginal.
— Não obstante, claro, é melhor ter visibilidade internacional. Eu me sinto feliz por algo da minha produção, se não o todo, ter afluído naturalmente para o generoso fluxo que vive a imensa produção de arte contemporânea, em qualidade e quantidade. Vivemos um momento supremo na arte como um todo — avalia.
Mlászho deixou a pequena Mandirituba, no Paraná, ainda jovem, mudou-se para Curitiba e, nos anos 1980, migrou para São Paulo, para se especializar como impressor de litografia. Mas o que lhe importa mesmo nessa trajetória é a presença da poesia.
— Gosto sempre de relembrar minha curiosidade sobre poesia, seus movimentos e autores, Ovídio, Erza Pound e a geração beat. — lembra. — Gosto de me definir, de maneira resumida, como um autodidata.
Para ele, essa “é uma categoria de artistas livre de classificações etárias, estéticas, históricas, afetivas, políticas, o que, no fim das contas, nos dá autonomia”. Ele completa:
— Tenho uma grande produção em poesia, sistemática, viva e que é anterior às artes visuais, e que me potencializa prazerosamente em direção ao visual. Gosto de me entender como poeta. Talvez seja essa a minha índole natural mais forte e antiga.