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‘Aida’ em versão minimalista

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RIO - Para uma geração de cariocas nascidos nos anos 80, apresentações de “Aida” são tão raras quanto um cometa Halley. Ausente há 27 anos no Rio, a antepenúltima das 28 óperas de Verdi volta enfim ao palco do Teatro Municipal — e de uma forma nunca vista antes por aqui. Esqueça as montagens épicas e grandiloquentes pelas quais a obra ficou conhecida: a “Aida” que estreia no próximo sábado, às 20h — com temporada até 1º de maio — aposta todas as fichas no minimalismo. A força romântica do compositor italiano continua presente, mas agora realçada pelo cenário moderno e arejado de Helio Eichbauer e a direção sugestiva de Iacov Hillel. Sem falar na presença da soprano italiana Fiorenza Cedolins, uma grande verdiana, que reveza o papel-título com a brasileira Eliseth Gomes e contracena com o seu compatriota, o tenor Rubens Pelizzari.

— É incrível que uma obra de tamanha importância tenha ficado tanto tempo abandonada pela cena carioca, e por isso queríamos uma versão especial — explica Isaac Karabtchevsky, maestro e diretor artístico do Municipal, que regerá a ópera. — Pensamos numa “Aida” que escapasse dos modelos Cinecittà, com grandes montagens barrocas. É uma visão mais clean, que privilegia a parte musical.

Apresentada pela primeira vez em 1871, no Cairo, a ópera se inspira nas descobertas arqueológicas sobre o Antigo Egito para contar a história de amor entre um oficial egípcio (Radamés) e uma escrava etíope (Aida), com as duas nações divididas pela guerra. É a última obra de Verdi a beber na fonte do grand opéra francês, estilo marcado por cenários e efeitos cênicos espetaculares. No tocante à produção, a nova montagem é fiel à grandiosidade original (são 250 artistas envolvidos). A transposição do Egito, contudo, troca a representação realista pela abstração. As formas triangulares do cenário remetem às pirâmides e à geometria de Pitágoras, e recebem projeções de imagens de monumentos históricos.

— É complicado mostrar o Egito de forma realista — diz Eichbauer. — Por mais talentoso, o escultor nunca vai reproduzir perfeitamente as esculturas. Optei pela abstração, abrindo e prolongando espaços, o que facilita o deslocamento dos figurantes e reforça o sentimento de solidão dos personagens

Obsessões geométricas

A retomada de “Aida” se deve muito à insistência de Karabtchevsky em contar com as obsessões geométricas de Eichbauer. O cenógrafo estava de férias na praia, repensando a carreira depois de uma exaustiva montagem de “Pelléas et Mélisande” no Teatro Municipal de São Paulo, quando recebeu o convite por telefone. Houve uma hesitação, mas o maestro o convenceu.

— Acompanho apresentações de “Aida” desde menino e sempre achei que era a ópera que eu nunca faria, pela dificuldade de colocar o Egito em cena — admite Eichbauer. — Já tinha participado de outras montagens de Verdi, como “Nabucco” (2000) e “Macbeth” (2005). E então pensei: quem já fez uma produção da complexidade de “Nabucco”, também consegue fazer “Aida”.

Na contramão do realismo psicológico, Hillel constrói um universo onírico. Aida e Radamés representam a oposição entre as imagens pública e privada, a honra e as paixões íntimas.

— A história trabalha com esses dois aspectos, assim como a ópera como um todo se equilibra entre a pompa triunfal e as cenas confessionais, de muita doçura — observa Hillel. — Verdi soube combinar a força dos coros italianos com a fluidez dançante do grand opéra francês.


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