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Veterano diretor húngaro, que estreia filme em SP, segue fiel ao cinema político e desdenha do 3D

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RIO - O senhor sempre valorizou a direção de atores, trabalhando com intérpretes como Klaus Maria Brandauer, Ralph Fiennes, Glenn Close e Jeremy Irons. Agora é a vez de Helen Mirren. Como foi o trabalho da atriz no set?

Helen tentou incorporar lembranças de experiências reais para construir sua personagem, uma mulher endurecida pelas tempestades políticas da Europa. O romance da escritora Magda Szabó (sem parentesco) realçava certas características dela, como sua relação com a natureza e seu orgulho inabalável.

Que imagem da Europa o senhor encontrou na literatura de Magda Szabó e de que maneira ela ajuda a traçar um retrato histórico do continente?

O livro me ajudou a entender as relações de pessoas que fazem de uma ideologia um discurso para a vida. É disso que trata “Atrás da porta”. As personagens Emerenc e Magda cresceram e construíram suas vidas em um mundo no qual a política interferia em contextos familiares. As ideologias determinam a maneira como elas se relacionam. Se meus personagens masculinos são uma metáfora de poder, minhas mulheres simbolizam o instinto de preservação de valores, sintetizam a importância de fazer da vida algo mais do que uma luta pela sobrevivência.

Filmes premiados como “Mephisto” (1981) e “Coronel Redl” (1985) fizeram do senhor um ícone de um cinema politizado, fiel à cartilha das narrativas clássicas dos anos 1950 e 60. De que maneira o seu estilo se encaixa na estética digital dos anos 2000, com o uso do 3D como chamariz de plateias?

A relação de recepção entre o público e os filmes mudou a partir do momento em que um veículo como a televisão simplificou recursos narrativos como os efeitos especiais. A TV obrigou o cinema a ajustar sua linguagem. Já a internet impôs a necessidade de uma narrativa rápida, informativa. A demanda da web é por histórias curtas, que um internauta vai ver sozinho em seu computador. Não há mais troca entre os espectadores, choros, risos, respirações. Há apenas conexões solitárias. O 3D, a meu ver, não passa de um truque tecnológico, que está com os dias contados, porque muitos espectadores sofrem com aqueles óculos.

Mas essas transformações do cinema o afetam de alguma forma?

Não saberia dizer ainda, pois um artista precisa aprender com as mudanças.

Como o senhor analisa a atual situação do cinema húngaro, que, na década passada, encontrou no diretor Béla Tarr sua principal expressão?

Os filmes húngaros perderam boa parte do público em casa, após uma era dourada. Acho que a tarefa de realizadores valorosos como Béla, Kórnel Mundruczó (“Delta”), György Pálfi (“Taxidermia”), Bálint Kenyeres (“Before dawn”) e Benedek Fliegauf (“Ventre”) é descobrir um meio de se se reencontrar com a plateia, porque é para ela que trabalhamos. Será uma tarefa árdua, pois a internet impôs ao audiovisual uma nova experiência sensorial com o tempo.


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