A cena é repetida cinco vezes. E não tem jeito: Ariana parece não estar concentrada nas gravações de “Flor do Caribe”, realizadas no vilarejo de Sibaúma, no Rio Grande do Norte. É preciso ter paciência até que a cabra chegue à exata posição idealizada pelo diretor-geral Leonardo Nogueira. O desassossego do animal respinga diretamente em José Loreto, seu parceiro de cena na próxima trama das 18h, que estreia no próximo dia 11. Cada vez que Ariana foge da câmera — em um movimento seguido por um balido —, o ator precisa refazer toda a sua parte. Ele, no entanto, garante que já está mais do que adaptado à situação.
— Temos que ser tolerantes. A gravação acontece quando ela quer (risos). É animal, então faz xixi, cocô e quer comer o tempo todo. Às vezes, vamos no improviso mesmo. Ela tem que fazer o “bééé” no fim da minha frase, mas faz no meio. E aí deixamos rolar — explica Loreto, revelando que ficou “instigado” ao saber que contracenaria com uma cabra.
E muito antes de Ariana — batizada como uma homenagem ao escritor e dramaturgo Ariano Suassuna — figurar como estrela nos bastidores da trama, um grande trabalho de pesquisa foi realizado para a escolha da cabra perfeita para o papel. O animal, na verdade, é representado por seis cabras. Todas idênticas, da espécie Saanen, originária da Suíça. Elas se caracterizam pelas orelhas pequenas e pela pelagem branca.
— Compramos dois filhotes que cresceram sendo adestradas e temos mais quatro adultas — diz a produtora de arte Lara Tausz.
Lara conta que Ariana precisava ter “cara de anjinho”, um “jeito dócil” e uma sintonia “bonita e lúdica” com seu parceiro de cena. Cada uma das “atrizes” pesa, em média, 40 quilos:
— Tem cabra que é mais selvagem, e não combinaria com essa relação que Candinho (personagem de Loreto) e Ariana têm. As dessa raça são leiteiras, dóceis e lindas. Foi difícil, mas encontramos um criador e todas elas são primas e idênticas.
Após a escolha, houve, ainda, encontros para que Loreto e suas colegas de cena se familiarizassem. O ator conta que já ordenhou cada uma delas. E que, como cachorros e gatos, cabras também gostam de carinho.
— Acho que já rola uma compaixão (risos). Elas me reconhecem, sabem que eu sou o cara que dá a ração — gaba-se Loreto, que as chama por apelidos como Algodão Doce e Santinha de Vitral.
Na história de Walther Negrão, Loreto é o ingênuo Candinho, “pastor de uma cabra só”, como ele próprio define. Neto de Veridiana (Laura Cardoso), ele vive da venda do leite caprino, tirado diante do freguês. Lunático, conversa com animais e bebês, acredita em duendes e extraterrestres, e adora contar histórias para crianças. Um tipo que lembra outros como Tonho da Lua, vivido por Marcos Frota em “Mulheres de areia”, ou Chicó, personagem de Selton Mello no filme “O auto da compadecida”.
— Jayme falou que Candinho é aquele típico personagem que seria muito bem feito por atores como Matheus Nachtergaele. Então, tomei como um elogio. Acho que ele vai agradar muito — empolga-se Loreto, cujo último papel foi o galanteador Darkson de “Avenida Brasil”. — Esse de agora é o oposto. Um cara nada sexy, Candinho nem pensa nisso. Mas, mais para a frente, vai se envolver com uma mulher — adianta.
E, como na trama de João Emanuel Carneiro, Loreto divide a cena com a namorada, Débora Nascimento. Além da troca de figurinhas sobre a profissão, a dupla bate seus textos juntos:
— Ela até me atrapalha porque gosta de lê-los em voz alta (risos). Mas esse é o lado bom de namorar gente com a mesma profissão que você.
Embora desta vez eles não vivam um par romântico em cena, o ator garante que não há espaço para ciúmes:
— Eu não tenho. E só se Débora tiver da cabra (risos).
*A repórter viajou a convite da TV Globo.