NOVA YORK - Usando um instrumento de raio-X de alta performance, cientistas dizem ter resolvido o antigo debate sobre o tipo de tinta que o mestre espanhol Pablo Picasso (1881-1973) adotou em suas obras-primas.
Era tinta comum, de parede, segundo Volker Rose, físico do Argonne National Laboratory, que liderou o estudo, publicado agora em “Applied Physics A: Materials Science & Processing”.
“Observamos pigmentos retirados da tinta branca de Picasso, feitos de óxido de zinco, e assim pudemos estudar as impurezas que estavam no material”, explicou Rose. Os cientistas também compraram diversas amostras de tintas comuns antigas no site eBay. Depois de comparar tais amostras com os pigmentos usados por Picasso, perceberam que ambos eram formados do mesmo composto químico.
O instrumento usado para a descoberta foi uma nanossonda de raio-X, inserida na tela “A poltrona vermelha” (1931). O uso normal do equipamento serve para melhorar a produção de materiais e de energia. Usando a nano-sonda, os pesquisadores puderam ver partículas de tinta que tinham apenas 30 nanômetros de largura. (Uma folha de papel comum, por exemplo, tem 100 mil nanômetros de espessura.)
Em seu trabalho comum, o físico Volker Rose costuma usar a nano-sonda para estudar o óxido de zinco, um ingrediente frequente das baterias e nas telas de cristal líquido dos computadores e de aparelhos de televisão. Como o óxido de zinco também está presente na tinta branca, a nano-sonda tornou-se uma boa dica para que o físico entendesse melhor o pigmento usado por Picasso.
Muitos historiadores de arte defendem há muito tempo que Picasso estava entre os primeiros grandes artistas que trocaram a tinta tradicional usada nas artes plásticas por tinta comum, dessas usadas para pintar paredes de casas, material que é mais acessível e que cria uma imagem brilhante, sem pinceladas aparentes.