RIO - Na suíte de Henri Castelli, numa pousada em Pipa, no Rio Grande do Norte, os livros “O evangelho segundo o espiritismo”, de Allan Kardec, e “O poder do agora — Um guia para a iluminação espiritual ”, de Eckhart Tolle, dividem espaço na estante com uma carta — escrita pela mãe do ator em 1997 — e um desenho que Henri, ainda criança, fez de seu pai, que morreu de infarto quando ele tinha 11 anos.
— Estou fazendo essa novela para ele — avisa, referindo-se a “Flor do Caribe”, próxima trama das 18h, com estreia prevista para março.
Ao som de “Knowing me knowing you”, do ABBA — ele assistiu ao musical “Mamma mia” sete vezes durante os dois anos em que viveu em Nova York —, Henri, aos 34 anos, conta que está em “um momento muito importante”.
— Venho me perguntando o que houve comigo. Mas nada que esteja sendo ruim, muito pelo contrário. Está sendo bom. Estou me conhecendo. Entendendo por que estou aqui — reflete.
Entre as mudanças, o ator afirma que está menos “moleque”. Deixou as “bagunças” de lado. A vontade de sair todas as noites também cessou. E até a paixão fanática pelo São Paulo, clube do qual é sócio há 16 anos, ele jura ter controlado:
— Eu ficava mal-humorado quando o time perdia. Não tinha vontade de gravar, não queria fazer nada. Moro atrás do estádio, faço academia lá, jogo tênis, mas não estou nem aí para os resultados do time.
De bermuda e blusa brancas, Henri, umbandista, diz que essa fase atual é resultado da “evolução espiritual”, que busca em preces diárias. Como princípios, ele enumera, estão a fé na vida futura, a busca pela verdadeira caridade e a correção das imperfeições.
— Espiritismo, para mim, é um estado consciencial. Medito para aprender a perdoar e a tirar de mim os pensamentos ruins. Eu só estou na carne para isso, para ser feliz — filosofa. — As pessoas só buscam ajuda na hora que precisam. Eu era assim. Outro dia fui tomar um passe e o cara perguntou o que eu estava fazendo lá. Respondi que temos que ir sempre.
Há alguns anos Henri frequenta um centro de umbanda em Maceió — “caí lá num momento da vida em que estava precisando muito” — e sempre que pode volta ao local, onde está envolvido com vários projetos de caridade. Também é ao centro que recorre em questões profissionais. Agora, Henri não tem dúvidas de que tinha que viver Cassiano, o protagonista de “Flor do Caribe”. Até por amizade ao autor Walther Negrão, de quem se tornou íntimo após “Como uma onda”, em 2004.
— Estava numa fase ruim, sofrendo críticas. Ele mandou um e-mail, que guardo até hoje, me elogiando. Ficamos amigos. Fui assistir ao primeiro capítulo de “Araguaia” com ele — diz Henri, que fez uma participação na novela.
Na trama atual, o personagem é um piloto de caça, que mantém um romance de infância com Ester (Grazi Massafera). Mas, ao longo da história, perde a mulher e o emprego devido a armações do melhor amigo, vivido por Igor Rickli. Diante da situação, precisa refazer a vida.
— Cassiano e Ester têm um amor ingênuo, que resiste ao tempo. Já eu não consigo ficar preso a nada e a ninguém. Acho que traição de amizade deve ser a pior que existe. Meus amigos sabem mais da minha vida do que minhas mulheres. Não lembro datas de aniversário de namoradas recentes, mas dos amigos eu lembro — afirma.
Para se aprofundar no drama de Cassiano, Henri recorreu ao que leu no livro “A vida sabe o que faz”, de Zíbia Gasparetto, uma de suas autoras preferidas, ao lado de Chico Xavier e Marcelo Cezar.
— Já li mais de 30 livros da Zíbia — orgulha-se ele, que adora usar citações desses autores como legenda das fotos que posta na rede social Instagram.
Grande parte dessas fotos são na companhia de seu filho único, Lucas, de 6 anos, do casamento já terminado com a modelo Isabeli Fontana. Foi para ficar com o menino em Nova York que Henri largou a carreira no Brasil, em 2007, e passou dois anos lá na função de pai:
— Acabei “Cobras & lagartos” e fui ficar com ele. Havia trabalhos grandes para mim aqui, mas abri mão de tudo. Quando voltei, precisei recomeçar. Havia vendido a minha casa, não tinha carro e nem linha telefônica. Foi um choque.
Henri associa a ligação intensa com o filho à morte de seu pai. Ele conta que levou muitos anos para aceitar a perda do homem que considerava seu herói. A dificuldade, inclusive, interferiu profundamente na relação com a mãe e a irmã. Bem resolvido, ele está retomando os relacionamentos.
— Quando meu pai morreu tive vários bloqueios com a minha mãe. Ela nunca soube, por exemplo, quando dei o primeiro beijo. Acho que daí veio essa obsessão de ser pai a qualquer custo — analisa o ator, contando que, em breve, terá uma filha. No entanto, ele não revela o nome da mãe da criança: — Logo ela vai chegar, já tem até nome, mas não vou falar.
Enquanto a criança não vem, Henri se dedica ao trabalho. Sem parar. Desde o retorno do exterior, vem emendando um projeto atrás do outro. Antes de “Flor do Caribe”, esteve em “Gabriela”, “O astro”, “Araguaia”, “Na forma da lei” e “Caras & bocas”, onde conheceu outro grande amigo, o autor Walcyr Carrasco.
— Por que sou requisitado? Porque sou incrível, agradável (risos). Difícil dizer se me acho bom ator, mas amadureci. Não sei se meus colegas de trabalho notaram, mas acho que é nítido. E agora não faço mais para os outros, mas para mim.