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Artista cria instalação com pólen no Moma, em Nova York

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RIO - Para alguns críticos de arte, ele é o “tolo sagrado” da arte contemporânea. Como um monge, Wolfgang Laib tem o cabelo raspado rente à cabeça, óculos de aros arredondados, roupas quase sempre em tons pastéis e uma casa numa pequena cidade no sul da Alemanha.

Soma-se à aura de espiritualizado (e alheio ao mercado de arte) o fato de Laib passar meses, da primavera ao verão, no jardim. Caminha em silêncio, com um pote nas mãos, e vai batendo os dedos sobre cada planta para coletar seu pólen. Ao todo, tem em casa potinhos com oito tipos de pólen, dos amarelos mais berrantes aos tons mais pálidos.

O pólen de avelã, ele começou a coletar na metade dos anos 1990. E foi o que usou para criar a maior instalação de sua carreira, “Pollen from hazelnut”, inaugurada no átrio do MoMA, de Nova York, na última semana.

Laib foi diariamente ao museu, como se revisitasse seu jardim, mas agora com o pote de pólen cheio e uma peneira simples, dessas de cozinha, na mão esquerda. Ajoelhado, peneirou o pólen e criou um retângulo (de 5,5m por 6,4m) no chão do museu. Quando a mostra terminar, em março, devolverá o pólen ao pote e o levará de volta para casa.

sala permanente em washington

Antes, porém, ganhará uma sala permanente na prestigiosa The Phillips Collection, coleção de arte que funciona como museu privado em Washington. Lá, ficará a primeira obra permanente de Laib: uma sala cujas paredes são forradas com cera de abelha e com temperatura calculada para manter o material num tom dourado.

Laib começou a usar cera de abelha em 1988, ano em que criou também uma sala com o material dentro do MoMA.

— As pessoas falam que eu uso “material natural”, mas, para mim, é muito mais do que um elemento da natureza. Comecei a estudar medicina e, rapidamente, percebi que muito na vida é ciência natural, e eu queria muito mais. A arte pode te dar muito mais e atingir muitas pessoas — diz Laib, em entrevista ao GLOBO, por telefone, de Nova York. — A natureza mudou minha percepção. A arte pode fazer muito mais por você, é tão aberta, aberta para o futuro e para tantas possibilidades...

Se os críticos tratam o ex-médico como “artista pós-minimalista”, ele diz que não vê necessidade de “categorizar” a produção. Para ele, trata-se apenas de “pólen e vida”.

— É muito mais uma questão de experiência. Sei, por exposições anteriores, que as pessoas se sentem incrivelmente atraídas pela beleza do pólen. No MoMA, muitas pessoas vão ver esse trabalho. O pólen, como uma obra de arte, pode levar muita gente ao museu, especialmente quando se trata de um museu numa cidade grande — acredita o artista.

Laib se diz “tímido” para falar do próprio trabalho e conta que, num dos dias de instalação no MoMA, ouviu de um espectador algo como “Isso parece o sol”. Ficou encantado com a possibilidade de alguém ter pensado isso de seu próprio trabalho.

A coleta de pólen, conta o artista, exige “disciplina e concentração”, e isso é parte do trabalho para que o público, numa cidade como Nova York, possa parar para contemplar a “natureza” vertida em arte dentro de um museu.


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