Escondidos e diminutos na capa de “Coisa boa”, Moreno Veloso e banda, dependurados em uma mureta defronte uma praia sem ondas, simbolizam, de certa forma, as escolhas estéticas do disco. Em vez do enfrentamento desafiador de um mar raivoso, o navegar suave num oceano de placidez convidativa. Em vez do estouro de guitarras nervosas ou da batida agitada de interferências eletrônicas, suas 11 faixas privilegiam o zen-surfismo na sonoridade ultra low-fi e nas melodias delicadas, assim como já o fizeram o amigo Rodrigo Amarante, que assina o material de divulgação, Cícero e outros integrantes desse clube do (quase) silêncio.
A evocativa faixa de abertura, “Lá e cá” (que cita “ondas que caminham no ar”), com sua doce percussão, embalada por guitarras distantes, reflete essa viagem, levemente acelerada no afro-samba de roda de “Um passo à frente”. Timoneiro de uma tripulação de alto nível (Pedro Sá, Kassin, Domenico, Arto Lindsay, Rafael Rocha, Davi Moraes e Dadi, entre outros lobos do mar), Moreno segue, com sua pequena e leve voz, sem grandes baques, acalentando as forças da natureza (“Não acorde o neném”, canta, entre palmas de Jonas Sá e do próprio Amarante) até o estranho encanto de “O mesmo céu”, seu porto final e seguro.