Quantcast
Channel: OGlobo
Viewing all articles
Browse latest Browse all 32716

Orquestra Sinfônica Brasileira e OSB Ópera & Repertório promovem fusão inédita

$
0
0

RIO - A plateia do concerto do próximo domingo, às 16h, no Teatro Municipal, estará mais atenta do que de costume: será a primeira apresentação da nova formação da Orquestra Sinfônica Brasileira, unindo os cerca de 70 músicos desse conjunto e os pouco mais de 30 da orquestra OSB Ópera & Repertório (O&R). A fusão foi acordada no dia 24 de abril, após uma longa negociação iniciada em agosto do ano passado, quando expirou a vigência do acordo coletivo entre a Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira (Fosb) e os músicos da O&R. Com isso, abre-se um novo capítulo na história da orquestra, que sobreviveu — não sem marcas profundas — à crise de 2011. A volta dos músicos ao corpo principal se dá de maneira inédita: eles não precisarão se submeter a avaliações, terão o direito de não tocar com o regente titular, Roberto Minczuk, e terão seus salários equiparados aos dos demais instrumentistas. O concerto de estreia será regido pelo pianista Ricardo Castro, que também atuará como solista tocando a sonata “Waldstein” e o concerto para piano nº 1 de Beethoven.

A criação da O&R foi uma solução para a crise que a OSB atravessava em 2011, quando, dentro de um projeto de aprimoramento, a Fosb convocou todos os músicos para audições compulsórias de desempenho, desagradando a um grupo, que acabou sendo demitido por se recusar a fazer a prova e exigir a renúncia do maestro Minczuk. Ele se manteve como regente titular, mas deixou a direção artística. A O&R nasceu, então, para abrigar aqueles 36 músicos afastados. Os integrantes da OSB principal passaram a receber mais e a ter carga horária maior. Agora, acaba a diferença: os músicos da O&R estarão sob o mesmo regime dos outros. Desde o início das negociações, a Fosb deseja a fusão dos conjuntos, já que a manutenção dos dois corpos artísticos aumentou as despesas da fundação, que fechou as contas de 2013 no vermelho.

Agora, a Fosb tem alguns desafios pela frente. O primeiro é matemático: como distribuir a carga horária de forma igualitária se parte dos músicos não vai se apresentar com o regente titular? É natural que um regente titular responda pela maioria dos concertos de sua orquestra. A fundação não explica como, na prática, se dará este rodízio. Segundo a Fosb, “os músicos ex-O&R vão tocar em concertos com outros maestros e em concertos de câmara (sem regência), que são bem mais de metade do total da programação da OSB”. A série de música de câmara foi iniciada sábado passado, na Cidade das Artes, com músicos da então OSB principal.

Contratação de músicos temporários

Para completar, em caso de apresentações que exijam um grande número de instrumentistas, a Fosb terá que seguir contratando músicos extras. Como parte do novo efetivo não vai se apresentar com Minczuk, os extras continuarão a se fazer necessários. É o que deixa claro o presidente do Conselho da Fosb, Eleazar de Carvalho Filho:

— Do ponto de vista prático, com o acordo coletivo, todos os músicos ficarão sob o mesmo regime: o que hoje rege a OSB, incluindo isonomia salarial, gratificações e carga horária. Ao longo de 2014, estaremos nos apresentando sempre com diferentes formações da orquestra. Isso permitirá um rodízio de músicos para descanso e para os projetos educacionais e apresentações de câmara, sem regente. Quando for necessário, haverá contratação de músicos temporários, mas isso deve ser reduzido em relação a 2013.

O outro desafio diz respeito às relações humanas. Percebe-se um sentimento, ainda que não ostensivo, de vitória por parte do corpo da O&R. Afinal, eles estão regressando à orquestra tendo respeitados os direitos de não se submeter a avaliações e de não tocar com Minczuk. A maioria vê a atitude como um desprestígio por parte da fundação para com o regente.

— O Conselho da Fundação OSB propôs este acordo porque acreditamos que a fusão é o melhor para a orquestra. Estamos olhando para o futuro. O projeto de qualidade musical é o que guia nossas atitudes. Temos certeza de que os músicos estão envolvidos com esse projeto e assumirão esse desafio. O maestro participou da costura desse acordo, é apoiado por todo o Conselho da Fundação e está conosco até o final do seu contrato, em 2016 — afirma Eleazar.

Integrantes da orquestra dizem que o presidente do conselho, em reunião com os músicos da antiga OSB, no fim de abril, teria dito que a Fosb pretendia aumentar o número de concertos com regentes convidados já na temporada do ano que vem, e que todos deveriam ficar atentos às performances desses maestros. O grupo entendeu o conselho como um sinal de que a instituição pretende não renovar contrato com Minczuk em 2016. O GLOBO procurou o maestro, mas foi informado pela Fosb de que ele não comentaria o assunto. Eleazar nega a intenção:

— Mal estreamos a temporada de 2014. Qualquer conjectura sobre o próximo ano é puro exercício de futurismo.

Pessoas ouvidas pela reportagem, porém, confirmam a informação, mas não quiseram ter suas identidades reveladas, em especial devido a uma cláusula do novo acordo que as impede de tornar públicas informações de bastidores da orquestra.

— A cláusula é uma recomendação, porque durante a batalha a gente se valeu de ferramentas virtuais que prejudicaram a convivência. Acho justo. É agir como gente grande — justifica a presidente do Sindicato dos Músicos do Estado do Rio, Deborah Cheyne, que integrava a O&R e intermediou as negociações do acordo.

Em tom apaziguador, Deborah diz acreditar que as diferenças entre os músicos de ambos os lados serão vencidas:

— Isso tende a desaparecer quando começarmos, juntos, a fazer música.

Superintendente deixa cargo

Mas o outro lado está reticente. Segundo pessoas ligadas à orquestra, os naipes acham que vão trabalhar mais do que os músicos egressos da O&R e gostariam de entender como esse processo se dará. “Não fomos informados de nada”, diz um integrantes da OSB. Deborah, porém, afirma que não há hipótese de um grupo trabalhar menos:

— Enquanto um grupo trabalha com o maestro Minczuk, o outro fará outra coisa. Quem vai montar esse quebra-cabeças é a direção artística.

Em meio a tantas mudanças, conta-se, ainda, a saída do superintendente da OSB, Ricardo Levisky, que garante, contudo, que vai continuar cuidando das áreas de captação, negócios e relações institucionais da fundação, por meio de sua empresa, a Levisky Negócios & Cultura.

A situação por que passa a orquestra, contudo, chama a atenção por seu ineditismo, como confirma o experiente maestro letão Mariss Jansons, que se apresentou no Rio na semana passada:

— Nunca vi algo assim. Eles não vão tocar com o regente? Eu diria que é uma situação no mínimo curiosa. Não conheço o maestro Minczuk, nem a orquestra, então fica difícil dar conselhos. Mas aposto no diálogo. E estou curioso para saber como isso vai acabar.

O maestro não está sozinho.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 32716


<script src="https://jsc.adskeeper.com/r/s/rssing.com.1596347.js" async> </script>