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‘Mary Poppins’ ganha edição brasileira de luxo

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RIO — No primeiro (e principal) volume do clássico “Mary Poppins”, a inglesa P.L. Travers narra que a babá-título surge na vida da família Banks trazida por uma lufada de vento leste. Isso bastou para que o estilista Ronaldo Fraga idealizasse as ilustrações para uma versão especial da obra, recém-lançada pela Cosac Naify. Em sua primeira edição integral lançada no Brasil em décadas, pelas mãos do poeta e romancista Joca Reiners Terron, o texto ganhou posfácio da professora de literatura inglesa da USP Sandra G. T. Vasconcelos, tudo embalado em uma roupagem bela e cuidadosa.

— É uma obra que fala muito do vento, Mary Poppins chega e vai embora voando. Na minha cabeça, essas ilustrações tinham que se mexer, tinham que estar voando também — conta o estilista mineiro, que para conseguir o efeito desejado e com cara de “antigo”, recorreu à moda e passou as ilustrações que fez no papel para um grupo de bordadeiras de Itabira. Sua recomendação era de que os bordados não tivessem acabamento e os fios ficassem soltos. O resultado foi fotografado e tratado para o papel.

Ao brincar com a obra, o estilista ainda se permitiu uma ousadia. Se a tradução de Terron conserva os elementos fortemente britânicos da obra, Fraga quis trazer aos seus desenhos algo de cosmopolita.

— Sei que ela é inglesa, mas como ela chega pelo vento, ela poderia muito bem ser mestiça. Minha Mary Poppins tem cara de árabe, de europeia, de índia, uma babá vinda de qualquer parte do mundo — conta Fraga, que exalta a relação do original com a moda e o design. — É um texto extremamente imagético, e a moda é importante para a construção dessa personagem que, em dado momento, para em frente de vitrines para se arrumar. Também optei por desenhar em preto e branco porque, para mim, a cor está na história.

Fraga, que nunca havia lido o original escrito em 1934 até assumir o projeto, diz concordar com a autora e considera o filme lançado por Walt Disney há 50 anos “um lixo” — a peleja entre Travers e Disney foi recentemente retratada no longa “Walt nos bastidores de Mary Poppins”, com Emma Thompson e Tom Hanks. Para ele, há que se comemorar o lançamento de uma versão integral, já que na maioria das edições anteriores da história encontradas no Brasil, o texto é baseado na adaptação cinematográfica. Quem explica é a editora Isabel Coelho Lopes, diretora do núcleo infantojuvenil da Cosac Naify:

— Mary Poppins já apareceu em alguns livros no Brasil, mas em adaptações da obra, versões que funcionam como subprodutos do filme. Apenas uma edição integral foi feita na década de 1960, e ficou esgotada durante décadas. Neste caso, uma nova tradução, mais fresca e saborosa, fazia-se necessária.

Compreensão do mundo infantil

Responsável por “dosar os termos de época — especialmente nas descrições dos objetos e locuções — com a espontaneidade dos diálogos”, segundo Isabel, Terron exalta Travers por usar “a imaginação como antídoto para as frustrações do cotidiano, sempre com ironia”.

— Talvez pelo fato de haver, na Inglaterra vitoriana, tanto rigor nos costumes e no vestuário, como se percebe no livro, a imaginação precisasse ser liberada. Outros clássicos da época, como “Peter Pan e Wendy” e as duas Alices de Lewis Carrol, propunham essa maneira de perceber a realidade. Essa dedicação às crianças também se deve ao fato de que só naquele momento elas começavam a ser compreendidas em suas especificidades. Antes, eram consideradas adultos em miniatura. Se escrito hoje, o livro defenderia que as crianças saiam da frente de seus smartphones para jogar o jogo da existência na rua, com as outras pessoas.


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