BRASÍLIA E RIO - A paralisação de 24 horas prometida por servidores da Cultura está angariando diferentes níveis de mobilização pelo país. No Rio, os grevistas consideraram um sucesso o piquete que reuniu 60 pessoas nos pilotins do Edifício Gustavo Capanema, na manhã desta terça-feira. Além disso, os principais museus estão fechados. Já em Brasília, apenas 16 pessoas compareceram à manifestação em frente ao prédio do órgão, que funcionou normalmente.
Em São Paulo, funcionários da Cinemateca e da Funarte trabalham normalmente. Mas na página de Facebook que reúne servidores (Federais da Cultura), diversos membros estão postando fotos de instituições fechadas em Minas, na Paraíba, no Pará e outros estados. A intenção dos servidores mobilizados é promover uma greve geral por tempo indeperminado a partir de 12 de maio, podendo entrar pelo período da Copa do Mundo.
No Rio, alguns servidores não compareceram ao piquete para garantir que, além das unidades do Ministério no prédio, a Biblioteca Nacional e os Museus Histórico Nacional, de Belas Artes e da República estariam fechados ao longo de 24 horas.
— Com isso, iniciamos o nosso calendário de mobilização. As pessoas estão se mostrando solidárias ao nosso pleito, uma vez que sabem dos acordos não-cumpridos — observa Lia Jordão, vice-presidente da Associação de Servidores da Biblioteca Municipal e uma das lideranças do movimento, no Rio. — Na Biblioteca Nacional, por exemplo, é muito visível para o público o estado de sucateamento e deterioração.
A previsão era de que o piquete, que se iniciou por volta das 7h, seguisse até o começo da tarde. Às 14h, os manifestantes voltaram a se reunir, com um carro de som, em frente ao Museu Histórico Nacional, para uma assembleia em que foi deliberada a segunda fase do movimento: uma outra paralisação, dessa vez de 48 horas (entre os dias 7 e 8, quarta e quinta-feira), que contará, dessa vez, com distribuição de panfletos.
— Estamos confeccionando um manifesto em três línguas, para mostrar como a cultura tem sido tratada pelo Governo Federal. Trabalhos têm sido comprometidos por falta de investimento. O Ministério da Cultura está em vias de extinção, são pouquíssimos os concursos públicos — diz Lia que, junto com os outros servidores, aguarda por uma reunião, na semana que vem com a secretária execeutiva do MinC para discutir a questão da gratificação, que, junto com as outras reivindicações, datam de mais de uma década. — A expectativa é que se possa abrir negociações com o governo.
Durante o dia, os diretores dos museus federais receberam uma mensagem de Angelo Oswaldo, presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), pedindo que o ponto dos servidores que aderiram à paralisação hoje não seja cortado.
Em Brasília, muitos servidores trabalham normalmente
O grupo que se mobilizou em frente à sede do MinC, na Esplanada dos Ministérios, colocou caixas de som voltadas para o prédio, tocando música alta. Por volta das 11h50m, o presidente da Associação dos Servidores do ASMIMC de Brasília, Angelo André Carneiro Lima, chegou a fazer um apelo ao microfone, conclamando os colegas que permanecem dentro do prédio a parar as atividades e vir à rua. A tentativa foi em vão.
Os servidores do Ministério da Cultura reivindicam equidade salarial com categorias que atuam na mesma área na esfera federal, como a Agência Nacional de Cinema (Ancine) e a Casa Rui Barbosa. Segundo a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), a diferença salarial chega a 111%, no caso de servidores de nível superior. Eles querem também a criação de uma gratificação por titulação, o que hoje não existe, segundo a confederação. Deste modo, um servidor com especialização passaria a ganhar 30% a mais sobre o valor do salário-base; com mestrado 50%; e com doutorado 70%.
— É o salário mais baixo do Governo Federal. As pessoas fazem o concurso e depois vai todo mundo embora. A gente acaba pegando os candidatos mais desqualificados — disse Sérgio de Andrade Pinto, técnico de nível superior do Minc e membro do departamento de Educação e Cultura da Condsef.
Segundo Sérgio, o Ministério da Cultura e demais órgãos vinculados empregam 2,6 mil servidores no Brasil, dos quais 500 em Brasília. Ele disse que nesta marcada está marcada reunião dos sindicalistas na secretaria-executiva do Minc. No encontro, a categoria pedirá que os cargos de confiança (DAS- direção e assessoramento superior) sejam preenchidos com servidores de carreira. Desde 2010, segundo os sindicalistas, o Ministério do Planejamento não negocia com a categoria.
— Existe um aparelhamento do Ministério por partidos, em especial o Partido dos Trabalhadores.