RECIFE - A 18ª edição do Cine PE Festival do Audiovisual registrou o seu menor público até agora na noite desta segunda-feira (28), terceiro dia de competição. Umas poucas dezenas de espectadores se animaram a assistir ao programa, composto por um curta e dois longas-metragens, todos documentários. Autor de “Corbiniano”, concorrente da Mostra Doc. Internacional, filme que encerrou a agenda, o pernambucano Cezar Maia chegou a brincar com a situação, no palco do Cine Teatro Guararapes.
– Não chamo mais ninguém da equipe do filme senão a plateia vai ficar vazia – iniciou o diretor, bem-humorado, ao lado de cinco membros da produção.
“Corbiniano” é uma homenagem ao artista plástico pernambucano Corbiniano Lins, hoje nonagenário, conhecido por suas esculturas alongadas de alumínio e concreto, com obras espalhadas por Recife, Fortaleza, João Pessoa e Maceió. Fatos de sua trajetória e a importância de seu trabalho são comentados por artistas de diferentes gerações, como Gilvan Samico, Teresa Costa Rego, João Câmara, Rinaldo e Raul Córdula, entre outros.
– É um filme sobre um gênio. Foi reconhecendo as imagens que ele espalhou pela cidade (do Recife) que percebi isso. Corbiniano é o maior artista plástico que tive a chance de conhecer. E o documentário é um reconhecimento de sua genialidade – elogiou Maia.
A programação foi aberta pelo curta pernambucano “Tubarão”, de Leo Tabosa, candidato da Mostra Curta Brasil. Nele, um americano que mora no Recife, e que prefere não mostrar o rosto para a câmera, relata sua dificuldade de se adaptar ao Brasil, país para onde veio pela primeira vez, com a família, nos anos 1960, e voltou para morar em meados dos anos 1980.
Essa dificuldade foi acentuada após a morte do companheiro, um surfista carioca que morreu após um ataque de tubarão.
O curta de Tabosa fez composição com a atração seguinte, o longa-metragem “E agora? Lembra-me”, do português Joaquim Pinto, concorrente da Mostra Doc. Internacional. O filme é desenvolvido a partir das impressões pessoais do próprio realizador, que convive há 20 anos com os vírus do HIV e o da hepatite C. Ao longo de duas horas e quarenta minutos, o realizador relata sua experiência como voluntário de pesquisas na Espanha com drogas contra a hepatite ainda não aprovadas, e seus efeitos no corpo e na mente.
Os espaços entre um diagnóstico e outro são preenchidos por reflexões íntimas e registros do cotidiano com Nuno Leonel, o companheiro de muitos anos, no sítio onde moram, plantam e criam seus cachorros. Premiado nos festivais de Locarno, na Suíça, e no de Valdivia, no Chile, “E agora? Lembra-me” movimenta-se entre o passado e o presente, combinando memórias do diretor com impressões sobre saúde, livros, filmes, viagens e os amigos que a doença levou.
Ninguém da equipe veio ao festival representar o filme.
*O repórter viajou a convite da organização do Cine PE