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Cena Brasil Internacional tem intercâmbio entre artistas e grupos de teatro

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RIO — Um exercício de autoajuda ou economia básica não fez nada mal ao festival Cena Brasil Internacional. Com menos verbas que nas duas edições anteriores, foi preciso não apenas reduzir gastos, mas, sobretudo, focar em prioridades. A partir desta terça-feira, o Cena apresenta a sua versão mais enxuta — com menos atrações e espaços de apresentação —, mas ao passo em que diminui sua estrutura, parece ainda mais comprometido em fazer valer sua premissa original.

— O nosso foco é ser cada vez mais um espaço de encontro e troca entre os artistas — diz o idealizador do Cena, o produtor cultural Sérgio Saboya.

A nova fase dá a partida com a intervenção “Tudo que está ao meu lado”, do argentino Fernando Rúbio, que acontece amanhã às 17h na Praça dos Correios.

— Surgimos como uma alternativa ao modelo de festival focado em estreias e espetáculos para o grande público — diz Saboya. — Conseguimos fazer, deu certo, os artistas entenderam a proposta e agora, o fato de termos menos dinheiro, claro, nos levou a sermos ainda mais criteriosos e precisos.

Se em 2012 o Cena Brasil aterrissou com pompa numérica — R$ 2,1 milhões e 23 espetáculos —, em 2013 a verba despencou mais que a metade — R$ 800 mil para 16 peças —, e em 2014 Saboya teve cerca de R$ 700 mil para reunir cinco produções de artistas internacionais e quatro montagens de criadores brasileiros.

Pela primeira vez, porém, todos os nove convidados do Cena não só apresentam duas sessões de seus espetáculos, mas se revezam em palestras sobre processo criativo e conduzem oficinas de criação para os demais artistas da mostra, assim como para o público interessado — inscrições através do site cenabrasilinternacional.com.br

— Damos tanta importância a isso que o cachê das apresentações é menor do que o que pagamos para as oficinas. Está cada vez mais claro que o nosso compromisso não é só com o público ou patrocinadores, mas com a troca entre os artistas — diz o produtor. — O Cena foi pensado para ser menos festival de peças e mais um espaço de compartilhamento de experiências entre eles, porque é desse tipo de intercâmbio que nascem novas parcerias e obras.

Exemplo disso é o trabalho de Fernando Rúbio, que esteve no Cena em 2013, com a sua Cia. Íntimo Teatro Itinerante. Agora, ele retorna com uma intervenção ao ar livre criada com seis atrizes brasileiras e uma portuguesa. No ano que vem, um diretor brasileiro vai a Buenos Aires criar um novo trabalho com os atores da Cia. Íntimo Teatro Itinerante, que traz no nome indícios de uma pesquisa focada na relação entre artista e espectador, assim como por diferentes espaços de apresentação.

— Essa obra acontece em sete camas que recebem sete atrizes. É mais que um espaço teatral, vejo essa intervenção como um lugar onde acontece um encontro único e íntimo entre pessoas — diz Rúbio. — O teatro em uma sala convencional é extraordinário, mas a intervenção proporciona uma experiência de vida que é multiplicadora.

Além desse intercâmbio, os brasileiros do grupo Magiluth e os portugueses da Mala Voadora, que se apresentaram no Cena em 2013, já estão trabalhando juntos numa nova obra.

— É disparar esse tipo de parceria que nos interessa — diz Saboya. — O Cena não é focado em oferecer só um cardápio de espetáculos de sucesso.

Grupos e obras de pesquisa

Não que eles não estejam presentes, como é o caso da obra que os poloneses da Teatr Zar apresentam, “Caesarean section. Essays on suicide”, premiada no Festival de Edimburgo em 2012, assim como “Kairos, Sísifos e zombis”, da suíça Cie. L’Alakran, que estreou no Festival de Avignon em 2008. Para o recorte nacional, Saboya e os curadores Celso Curi e Dane de Jade elegeram montagens de importantes companhias, como os Clowns de Shakespeare, do Rio Grande do Norte, que apresentam hoje, às 20h, o espetáculo de rua “Sua incelença, Ricardo III”, além dos mineiros do Grupo Galpão, que voltam ao Rio com “Os gigantes da montanha” — ambos dirigidos por Gabriel Villela. Fora eles, dois renomados grupos de São Paulo apresentam obras inéditas no Rio. É o caso do Lume Teatro, que encena “Os bem-intencionados”, e Os Fofos Encenam, que mostram “Assombrações do Recife Velho”, uma obra de 2005 escrita e dirigida por Newton Moreno.

— Todos os convidados atendem a três critérios: devem oferecer grandes criações, mas essas obras têm de ter sido estruturadas por pesquisas de linguagem, e seus artistas têm de estar dispostos a compartilhar conhecimento — diz Saboya. — Assistimos a outros ótimos espetáculos, mas que não tinham uma pesquisa de base. Estamos comprometidos com um olhar e com uma necessidade artística, coisas que absorvi dos criadores com quem trabalhei nos últimos 15 anos.

Entre eles, os atores e diretores André Curti e Artur Ribeiro, da companhia franco-brasileira Dos à Deux, que é representada por Saboya no Brasil e participa pela primeira vez do Cena. Nesta sexta-feira, eles estreiam uma recriação para a obra inaugural do grupo, “Dos à Deux — Segundo ato”, inspirada em “Esperando Godot”, de Samuel Beckett, mas trabalhada sob a linguagem do teatro gestual que marca a Dos à Deux.

— Quinze anos depois de estrear essa peça tivemos a chance de recriá-la, e foi durante esse processo que lembramos o quanto os intercâmbios artísticos que fizemos foram fundamentais não só para essa obra, mas para toda a nossa carreira — diz Artur. — Espaços de encontros entre artistas são cada vez mais raros. E não só no Brasil. Circulamos por festivais lá fora e ninguém encontra ninguém, cada um faz seu espetáculo e vai embora. Sei que custa caro manter artistas em residência, mas manter essa filosofia acesa é fundamental.


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