RIO - Indissociável do álbum de 1986 do U2, Joshua Tree não chega a ser, para o Tinariwen, uma aquisição de grande valor. Todas as metáforas de amplidão evocadas pelo deserto americano já estavam no âmago do som saariano do grupo. O que a referência geográfica denota, simbolicamente, em “Emmaar”, é o diálogo com os músicos dos Estados Unidos. Algo que não aconteceu por acaso.
Desde que surgiu no radar do pop alternativo, o grupo tem sido visto como uma espécie de cápsula em que se encerra aquele mesmo tipo de autenticidade do velho blues do Mississippi, muito útil para pôr o rock branco de volta aos trilhos em seus momentos de hesitação.
Dito isso, há que se reconhecer: não há, no novo disco do Tinariwen, nada de muito diferente do que foi ouvido em seus discos anteriores, ou mesmo no show carioca de 2011. A música se move como mantra, hipnótica, em torno de frases simples de guitarra e de bem urdidos jogos vocais. Quem entra na brincadeira, como o violino country de Fats Kaplin, em “Imdiwanin ahi tifhamam”, sabe de antemão que, no máximo, poderá soprar alguns grãos de areia no imponente deserto que é a música do Tinariwen. De fato: o grupo saiu do Saara, mas o Saara não saiu dele.
A despeito do que se possa pensar, porém, não corre o risco da monotonia quem embarcar na jornada nômade de “Emmaar”. “Koud edhaz emin”, por exemplo, é o que se poderia chamar de uma faixa funk-climática, evocando ancestralidades comuns tanto a James Brown quanto a Tricky. Para os ouvintes dispostos, o Tinariwen é equivalente a um poço de petróleo — combustível para levar longe.
Cotação: bom