RIO - O Teste Bechdel ataca novamente. Criado em 1985 pela cartunista Alison Bechdel, ele é usado para mensurar o equilíbrio de gêneros nos filmes produzidos. Para ser aprovado na avaliação, o roteiro precisa que ter pelo menos duas personagens femininas com nome que conversem entre si sobre algum assunto - que não seja um homem, claro. Neste começo de abril, saiu uma nova pesquisa usando esse sistema como base.
O blog FiveThirtyEight examinou 1.615 filmes lançados entre 1990 e 2013. O objetivo: questionar, com números, a teoria de que filmes com maior participação feminina são menos lucrativos para os estúdios que os de "homenzinho". E a conclusão foi: longas-metragens aprovados têm tanto potencial de lucro quanto a massa dos reprovados (a trilogia "Senhor dos Anéis", a série "Guerra nas estrelas" e "Pulp Fiction" são alguns dos exemplos notórios). Vamos aos números: a média de retorno financeiro para filmes que passaram no teste foi de US$ 2,68 para cada dólar gasto. Enquanto isso, os reprovados rendem US$ 2,45. Isso tudo apesar dos filmes de temática masculina terem orçamento bem mais alto: média de US$ 48 milhões contra US$ 31 milhões, valor dos que passaram no teste.
A pesquisa aponta que 53% dos filmes feitos no período analisado passam no teste. Os dados também mostram que de uns tempos para cá os filmes que passam no teste e têm boa média de bilheteria são mais numerosos. Exemplos? Toda uma linhagem de aventuras para o público juvenil - as sagas "Crepúsculo" e "Jogos vorazes".
Vários filmes que foram bem de bilheteria levaram o abacaxi por algum dos critérios do teste. "The Hobbit: uma jornada inesperada" contém menos que duas mulheres com nomes conhecidos. "Os vingadores" tem mais personagens femininas, mas elas não conversam, então também foi reprovado. Em um terceiro exemplo, "Se beber não case 3" bate na trave: tem duas mulheres, ambas com nomes conhecidos e que conversam entre si - mas sobre um homem.
Mas o próprio blog sublinha algumas exceções que devem ser levadas em conta: "Gravidade", por exemplo, tem Sandra Bullock em quase todas as cenas, mas não passaria na avaliação porque em momento algum ela conversa com outra mulher - afinal, ela é praticamente a única personagem feminina de um filme com elenco nada extenso. Mas os desafios para as mulheres ainda são muitos. Um estudo financiado pelo Festival de Sundance mostrou que ainda são poucas as diretoras em Hollywood - apesar de elas já serem bem numerosas no universo independente.
Por conta do resultado da pesquisa, o "Guardian" chegou a fazer uma lista tentando imaginar como seriam as versões femininas de personagens consagrados. Em novembro de 2013, o Teste Bechdel passou a ser uma das bases para aprimorar a classificação indicativa de filmes exibidos na Suécia.