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Diretor argentino Daniel Veronese assina adaptação teatral para obra de Bergman

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RIO — Em seu último pronunciamento público, concedido à Rádio Nacional da Suécia poucos dias antes de morrer, Ingmar Bergman (1918-2007) definiu a si como um "homem de teatro", enquanto o cinema seria uma espécie de amálgama entre "trauma e paixão". Bergman e o cinema são termos indissociáveis, mas não é tanto que se fala sobre as bases teatrais — absorvidas sobretudo via August Strindberg — que o tornaram um mestre da narrativa psicológica no cinema, um exímio criador e condutor de diálogos e histórias marcadas pela subjetividade, pelo material psíquico de seus personagens.

— Essa relação de Bergman com o teatro sempre me chamou a atenção e ainda me ocupa bastante — diz o diretor argentino Daniel Veronese. — Agradeço essa ligação, mas me fascina todo o seu universo, teatral ou não.

Grande nome do teatro argentino, Veronese apresenta pela primeira vez no país — apenas nesta segunda e terça-feira no Festival de Teatro de Curitiba — a sua versão teatral para o longa "Sonata de outono", dirigido por Bergman em 1978.

— Já havia assistido ao filme há alguns anos, e de repente me lembrei dele e percebi que, além da temática, a obra poderia ser desenvolvida em formato teatral.

Se pensarmos na ambientação visual de alguns filmes de Bergman, muitas vezes conduzidos em espaços fechados ou com pouca variedade de locação, não é difícil imaginar que algumas obras renderiam boas adaptações teatrais. É o caso de "Sonata de outono", que já recebeu inúmeras versões para os palcos, assim como "Persona" (1966), que pode ser vinculado à peça "A mais forte", de Strindberg, e à tragédia "Electra", de Eurípedes; e "Morangos silvestres" (1957). Ou ainda obras mais tardias e notadamente cênicas, como "Depois do ensaio" (1984), que se passa num palco vazio e acompanha a relação entre um diretor e uma atriz que ensaiam uma versão para "O sonho", de Strindberg.

Na montagem de Veronese, "Sonata de outono" se passa num único ambiente e sem variações na iluminação. O recorte visual num único quadro cênico lança foco na atividade dos quatro atores que preenchem a cena e constroem um drama realista e intimista sobre um acerto de contas entre mãe e filha. Na história, Charlotte é uma famosa pianista que decide visitar a filha, Eva, sete anos depois de terem se encontrado pela última vez. Interpretadas no cinema por Ingrid Bergman, em sua última atuação em filmes, e Liv Ullmann, as personagens ganham o palco com as premiadas atrizes argentinas Cristina Banegas (a mãe, Charlotte) e María Onetto (a filha, Eva). Completam o elenco os atores Luis Ziembrowski, que interpreta Viktor, marido de Eva, e Natacha Cordova, como Helena.

— São atrizes que já tinha em mente há algum tempo — diz Veronese. — Faço teatro por três motivos principais. Encontrar com artistas que me encantam, trabalhar com obras que me fazem perguntar coisas que não me questionei e que me interessam, e por achar que algumas outras pessoas também podem ficar instigadas pelo resultado.


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