RIO - Nas bibliotecas públicas cariocas e do estado do Rio, os autores estrangeiros dão um banho de popularidade nos brasileiros. Em levantamento oficial solicitado pelo GLOBO à Secretaria Municipal de Cultura, o destaque é o americano Nicholas Sparks, que está na lista dos mais lidos em sete dos dez espaços mantidos pela prefeitura. No ano passado, seus livros foram emprestados 116 vezes, enquanto os de Zibia Gasparetto, autora de textos sobre espiritismo e brasileira mais bem colocada na lista, saiu apenas 29 vezes. Já nas bibliotecas estaduais, quem lidera o ranking dos mais emprestados em 2013 é a britânica J.K. Rowling, segundo relatório da Secretaria Estadual de Cultura, também pedido pelo GLOBO.
Na Biblioteca Popular da Maré, construída perto da Avenida Brasil, a oferta de livros de Jorge Amado faz jus à homenagem ao escritor baiano, que dá nome ao espaço: 38 títulos ocupam uma estante quase completa, num lugar nobre, bem ao lado da bibliotecária. Mas é Sparks o autor de maior sucesso entre os leitores, que organizaram até um clube do livro dedicado a ele.
“Parece que a gente está na história”
Capitaneado pela baiana Lívia Santos Barros, que tem 28 anos e trabalha como cozinheira da lona cultural aberta ao lado, o clube composto por quatro jovens mulheres que se dizem “encantadas pela forma como ele escreve” foi o responsável por colocar “Querido John”, de Sparks, entre as obras mais emprestadas da biblioteca em 2013. No ano passado, o romance saiu das estantes quatro vezes — uma para cada participante do clube, dedicado à troca de informações sobre o autor.
— Gosto demais do estilo dele. Parece que a gente está na história, que está vendo a coisa acontecer de verdade — explica Lívia, antes de confessar que chorou com “A última música”, do mesmo autor. — Jorge Amado? É meu conterrâneo! Já tentei ler! Mas larguei “Gabriela, cravo e canela” na metade. É uma linguagem antiga. Coisa chata. Não me identifiquei.
Na Biblioteca Popular de Irajá, que homenageia João do Rio, também na Zona Norte, os livros de Sparks ocupam os três primeiros lugares do ranking de obras mais emprestadas em 2013. “Um amor para recordar” saiu 18 vezes; “Um homem de sorte”, 15; e “A escolha”, 12. Em janeiro deste ano, o espaço oferecia ao público 19 exemplares de Sparks e 24 de João do Rio. Mas Claudia Carvalho, bibliotecária responsável pelo espaço, nem se lembra da última vez em que o escritor brasileiro foi procurado.
— Acho que nossos leitores gostam do que está na mídia, do que aparece nas listas dos mais vendidos. Eles vêm aqui procurando isso — diz ela. — João do Rio só atrai historiadores, gente que está escrevendo sobre ele ou estudando seus textos. Mas vou dizer uma coisa: às vezes acho que as pessoas têm preconceito com a literatura brasileira, viu? O governo deveria estimular mais o interesse pela literatura nacional.
Nas três bibliotecas estaduais, em Manguinhos, Niterói e Rocinha, entre janeiro e dezembro do ano passado, “Harry Potter e a pedra filosofal”, de J.K. Rowling, foi emprestado 121 vezes, e “Harry Potter e a câmara secreta”, 89. No mesmo período, a brasileira mais bem colocada nos três espaços foi Thalita Rebouças. “Fala sério, professor” teve 60 empréstimos, e “Fala sério, amor”, 30.
— Ao que tudo indica, os clássicos brasileiros estão caindo no esquecimento — lamenta Rodrigo Soares, bibliotecário de Botafogo. — Temos que pensar em formas de divulgar e promover esses autores clássicos, porque os leitores jovens não vão mais atrás deles. Parecem preferir os mais lidos, as trilogias e tudo o que é comercial. Esse levantamento de dados mostra que é hora de repensarmos isso para evitar o total esquecimento.