RIO - Com metade dos 20 longas-metragens em competição já exibidos para a imprensa até esta segunda-feira, ainda não há um grande favorito para receber o Urso de Ouro nesta 64ª edição do Festival de Berlim. Mesmo "The Grand Budapest Hotel", fantasia sobre um concierge de hotel, dirigida por Wes Anderson e que provavelmente é o filme mais celebrado pelo público, não foi uma unanimidade entre os jornalistas que cobrem o evento.
Na verdade, o assunto mais comentado do Festival até agora foi mesmo a exibição da versão estendida de "Ninfomaníaca -- Volume 1", mas não tanto pelas cenas de sexo explícito, e sim pela presença do diretor Lars von Trier em Berlim, usando uma camiseta com uma palma dourada desenhada, e com os dizeres: “Persona non grata -- Official selection", numa provocação a seu banimento do Festival de Cannes, há quase três anos.
A foto de Von Trier foi parar em todos os cantos do mundo e apareceu nas capas das três revistas internacionais especializadas na cobertura do mercado cinematográfico que são distribuídas durante o festival: "Variety", "Screen" e "Hollywood Reporter". A imagem de Shia Labeouf desfilando no tapete vermelho com um saco de papel na cabeça, em que se lia "Não sou mais famoso", também foi um dos momentos mais comentados.
Shia Labeouf entra no tapete vermelho do Festival de Berlim com um saco de papel na cabeça: 'Não sou mais famoso' http://t.co/wloEdDcrkr
— Cultura - O Globo (@OGlobo_Cultura) February 10, 2014
Mas "Ninfomaníaca" não tem nada a ganhar em Berlim, a não ser publicidade para sua estreia nos cinemas alemães, marcada para 20 de fevereiro. Já os dez longas-metragens exibidos até aqui esperam convencer o júri presidido pelo produtor e roteirista James Schamus que merecem levar um Urso para casa. Além de "The Grand Budapest Hotel", os longas-metragens que parecem mais ter agradado aos críticos foram o britânico "'71", de Yann Demange, o norueguês "In order of disappearance", de Hans Petter Moland, e o alemão "Stations of the cross", de Dietrich Brüggemann.
"'71" é uma obra política com cenas de violência e uma câmera que acompanha seus personagens bem de perto, que trata dos conflitos entre militares britânicos e revolucionários da Irlanda do Norte na década de 1970.
"In order of disappearance" tem no elenco Stellan Skarsgård e Bruno Ganz, e conta a história de um pai que procura vingar a morte de seu filho -- mas faz isso com muito humor negro e com inspiração nos velhos faroestes. É possível, até, dizer que a produção é o melhor Tarantino já feito na Noruega, melhor até que os últimos filmes de Quentin Tarantino.
Já "Stations of the cross" é uma crítica à Igreja Católica, contada a partir de uma adolescente que se entrega cegamente à sua fé, levando a um calvário que o filme compara à Via Crúcis ("Stations of the cross", em inglês) de Jesus Cristo. O filme se destaca pela direção minimalista e pelo bom trabalho da jovem atriz Lea van Acken, mas se enfraquece quando tenta ser muito literal na metáfora bíblica.
Outra produção que pode aparecer na cerimônia de premiação, marcada para este sábado, um dia antes do fim do festival, são "Life of Riley", nova adaptação do veterano diretor francês Alain Resnais para uma peça de Alan Ayckbourn (as outras foram "Medos privados em lugares públicos", de 2006; e "Smoking e no smoking", de 1993). Como tem ocorrido nas últimas obras de Resnais, o filme explora, com ternura e um tom cômico, as possibilidades da representação da vida para falar da morte.
Os outros filmes já exibidos no Festival de Berlim até esta terça-feira foram o alemão "Jack", de Edward Berger (a boa saga de um menino abandonado pela mãe numa Berlim contemporânea, mas que tem sido vista como um filme menor pela crítica presente à Berlinale); o multinacional "Two men in town", de Rachid Bouchareb (sobre um americano que enfrenta barreiras para reencontrar seu lugar na sociedade após deixar a prisão); o alemão "Beloved sisters", de Dominik Graf (sobre o triângulo amoroso entre o poeta Friedrich Schiller e duas irmãs, um novelão bem inferior a qualquer trabalho do Gilberto Braga); o argentino "Historia del miedo", de Benjamin Naishtat (uma crítica social fragmentada confusa, que, na comparação, faz do brasileiro "O som ao redor" o melhor filme do século); e o chinês "Blind massage", de Lou Ye (história sobre um grupo de cegos massagistas, que se destaca pelo bom uso dos sons).