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Indicado ao Oscar por ‘Trapaça’, Bradley Cooper se firma no primeiro time de Hollywood

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BERLIM - Chega a ser difícil acreditar que se trata da mesma pessoa: reconhecido como o rosto bonito — o.k., absurdamente bonito —, o galã que atraía as mulheres para os cinemas e ajudava a elevar a bilheteria dos blockbusters agora é um disputado talento com duas indicações ao Oscar no currículo.

E nem precisa ir muito longe, basta pensar em cinco anos atrás. Em 2009, o americano Bradley Cooper estrelava “Se beber, não case!”, “Ele não está tão a fim de você” e “Maluca paixão”, todos comédias, sendo que o último lhe valeu, em parceria com Sandra Bullock, um prêmio Framboesa de Ouro de pior casal no cinema.

Hoje, aos 39 anos, parece existir outro Bradley Cooper. Oscar, Bafta e Globo de Ouro deram a ele duas indicações seguidas como melhor ator, ambas em filmes do diretor David O. Russell — no ano passado, como protagonista por “O lado bom da vida”, e neste ano, como coadjuvante por “Trapaça”, produção que estreou nos cinemas brasileiros na sexta-feira.

Por esses filmes e também por papéis anteriores, como em “O lugar onde tudo termina” e “As palavras”, ambos de 2012, Cooper ilustrou a capa da edição de janeiro da revista americana “GQ”, numa reportagem que basicamente destaca o quanto ele é lindo — o.k., absurdamente lindo —, simpático, bem-humorado e agora integrante do primeiro time de astros de Hollywood.

Mas um sorridente e tranquilo Cooper, em entrevista ao GLOBO, durante o Festival de Berlim, para onde viajou a fim de promover “Trapaça”, insiste que tudo isso não passou de sorte.

— Não existe muita segurança nesse trabalho que eu faço, não há garantias de como será o ano seguinte. Então é por isso que tenho certeza que se trata de sorte — diz. — E não tive sorte apenas em fazer os últimos filmes que fiz, mas também em fazer um filme como “Penetras bons de bico” (2005), que eu amo. A série “Se beber, não case!” também foi incrível. Caras como Zach Galifianakis e Ed Helms são tão talentosos quanto quaisquer outros atores, não coloco ninguém acima deles. Então, não vejo minha carreira em etapas. O que aconteceu é que fui agraciado com a oportunidade de trabalhar com diretores e atores admiráveis.

Cooper, esse moço de discurso comportado, nasceu na Filadélfia, filho de uma jornalista e de um corretor da bolsa de valores, ambos católicos. Ele se formou em Inglês na universidade, mas desde a adolescência alimentou um desejo por atuar, sob influência das tardes que passava com seu pai no cinema.

— Eu sempre me empolguei muito com os filmes, então desde uns 12 anos falava que era isso o que eu queria fazer da vida. É difícil lembrar bem, mas acho que o primeiro filme que vi no cinema foi “Guerra nas estrelas”. E de cara fiquei louco pelo Han Solo, eu adorava brincar com o boneco dele. Nunca dei muita bola para o Luke Skywalker. Acho que era pelo fato de o Han Solo ser meio rebelde e também pelo charme do Harrison Ford. Mas, sério, pergunta para qualquer garoto qual dos dois ele prefere. A resposta vai ser sempre o Han Solo. É uma lei universal — brinca o ator.

No império estelar de Cooper, seu relógio de pulso marca 7h quando em Berlim são 16h. No dia da entrevista, a última quinta-feira, o ator já havia estado pela manhã em Moscou, e só depois voou para a Alemanha, tudo para divulgar “Trapaça”. Dias antes, ele estava no Havaí, gravando com Emma Stone, Rachel McAdams, Bill Murray e Danny McBride a nova produção do diretor Cameron Crowe, ainda sem título definido e com um roteiro cercado de mistérios.

Entre um aeroporto e outro, porém, Cooper faz questão de manter o tempo seguindo o curso de Los Angeles, a cidade em que mora, a nove horas de distância de Berlim.

Eu gosto de olhar o relógio e fazer a conta do horário dependendo de onde estou — brinca. — Essa coisa de viajar muito faz parte do meu trabalho de ator, não tenho como fugir. Vejo mais pelo lado positivo, gosto de conhecer lugares diferentes. De verdade, eu não tenho esse discurso de que a vida do ator é difícil. Eu sou feliz no que faço. Para ser ator é preciso ser um pouco sociólogo, você pesquisa, descobre coisas novas, entende como pessoas diferentes agem. Em “Trapaça”, eu tive que pensar como seria estar nos anos 1970, usando aquelas roupas, com aquele cabelo. É o melhor trabalho do mundo.

Pelo que dizem, é preciso realmente gostar muito do que se faz para trabalhar num filme com David O. Russell. O cineasta conquistou o status em Hollywood de ser um dos grandes diretores de atores da indústria depois que emplacou, em dois anos seguidos, indicações nas quatro categorias de atuação no Oscar: Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro e Jacki Weaver por “O lado bom da vida”; e Christian Bale, Amy Adams e novamente a dupla Cooper e Jennifer em “Trapaça”.

O problema de Russell seria seu método de trabalho. O diretor não para de falar no set e muda os diálogos que ele próprio escreveu o tempo todo. Um vídeo que circula no YouTube já há alguns anos dá ideia de como não é fácil trabalhar com Russell. Trata-se de um bastidor do filme “Huckabess: a vida é uma comédia”, de 2004, em que o cineasta xinga tanto a atriz Lily Tomlin que até parece piada. Mas os dois já admitiram em entrevistas que, lamentavelmente, era sério.

— É, ele se aplica muito no set — minimiza Cooper, que em “Trapaça” interpreta um agente do FBI bastante obstinado. — Mas eu acho que, quando você é autor e diretor, acaba se apegando muito ao material que escreveu, a história se torna muito pessoal. O que David faz é mudar muito os diálogos e falar o tempo todo com os atores quando a câmera está filmando. Mas eu me acostumei. Depois de trabalharmos praticamente três anos juntos, seria estranho se não fosse assim.

Estranho de verdade seria se Cooper criticasse Russell, a quem ele deve suas indicações ao Oscar. Em 2013, o ator perdeu o prêmio de melhor ator para Daniel Day-Lewis, por “Lincoln”. Neste ano, na cerimônia marcada para o dia 2 de março, ele novamente pode ficar sem a estatueta — seus concorrentes na categoria de ator coadjuvante são Michael Fassbender, por “12 anos de escravidão”; Barkhad Abdi, por “Capitão Phillips”; Jonah Hill, por “O lobo de Wall Street”; e o favorito Jared Leto, por “Clube de compras Dallas”.

Com ou sem Oscar, a carreira de Cooper já deslanchou. Previsto para abril, o drama “Serena” vai reunir pela terceira vez o ator e Jennifer Lawrence, numa produção dirigida pela dinamarquesa Susanne Bier, a mesma do elogiadíssimo “Em um mundo melhor”, Oscar de filme estrangeiro em 2011. Meses depois, em agosto, ele dará voz a um personagem de “Os guardiões da galáxia”, nova aposta de blockbuster da Marvel. E, além do filme de Cameron Crowe, seu nome ainda está associado a “American sniper”, adaptação do livro de memórias de um militar americano que pode ter Clint Eastwood como diretor.

No papel de bom moço, ele mal reclama:

— A única coisa de que eu não gosto na fama é ter sempre paparazzi atrás de mim. É meio por isso que não uso redes sociais, não quero que fiquem sabendo da minha vida. Mas... bem, isso é um pouco hipócrita. Eu vim aqui falar da minha vida a fim de promover um filme, então é estranho ficar reclamando se falam sobre mim.

Depois da entrevista, Cooper se despediu e desceu no elevador ao lado de outros hóspedes do hotel. Ao chegar ao lobby, estendeu o braço, dando a vez a todos, um por um. E, já na calçada, deu de cara com quatro paparazzi a postos com suas câmeras. Cooper, então, simplesmente sorriu.

* André Miranda está hospedado em Berlim a convite do festival


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