BERLIM - O circo de fãs... Não, não, não é isso, vamos de novo. O circo de jornalistas foi armado para a coletiva de imprensa em torno da equipe do longa-metragem “Caçadores de obras-primas”, exibido neste sábado no Festival de Berlim. Dirigido e estrelado por George Clooney, o filme é baseado no livro homônimo de Robert M. Edsel, lançado no Brasil pela editora Rocco, sobre a história real do grupo de militares que trabalhou durante a Segunda Guerra Mundial para impedir que os nazistas roubasses obras de arte.
O filme foi exibido em Berlim pela mostra competitiva (mas fora de competição, uma das esquisitices típicas do Festival de Berlim) e teve uma das sessões mais disputadas de todo o festival até aqui. E também uma das coletivas de imprensa mais cheias. Para se ter uma ideia, dúzias de jornalistas foram barrados na escada que dá acesso à coletiva, no segundo andar de um hotel da Potsdamer Platz (praça no Centro da cidade, próxima ao Portão de Brandemburgo), e um segurança com cara de mau teve que gritar várias vezes, com seu sotaque alemão: “No discussion”.
Quem ficou de fora não perdeu muita coisa, a não ser alguns constrangimentos. Para responder às perguntas dos jornalistas, estiveram presentes Clooney, Matt Damon, John Goodman, Bill Murray e Bob Balaban, entre outros, mas quase todas foram direcionadas mesmo a Clooney.
Uma jornalista mexicana quis saber o que ele achava de "há muito tempo fazer um bem mental para as mulheres, sobretudo as mexicanas". É sério, ela quis saber isso mesmo, sobretudo pelas mexicanas. Clooney teve dificuldades para responder, riu, pensou, e então disse:
— Obrigado.
Depois, um jornalista belga lembrou que parte da história se passa na Bélgica, mas a produção não usou sets na Bélgica ("Caçadores de obras-primas" foi rodado na Alemanha e na Inglaterra), apesar de o país "ter as melhores cervejas e mulheres do mundo".
Mais adiante, alguém perguntou para Clooney sobre seu apoio moral à independência do Sudão do Sul. Outro, sobre seu apoio moral aos conflitos na Ucrânia. Uma quis saber se ele tinha um recado para as chinesas. E houve também quem questionasse a opinião do ator sobre como seria possível para a Grécia recuperar as obras de seus artistas que estão na Inglaterra.
Já uma jornalista brasileira tirou a dúvida se ele, fã de futebol, pretendia visitar o Brasil durante a Copa do Mundo.
— Adoraria ir ao Brasil, mas acho que estará muito cheio.
Um coadjuvante de luxo no espetáculo de Clooney, Matt Damon só apareceu quando um jornalista lembrou que ele teria dito há tempos, numa entrevista, que "a indústria de cinema é movida a dinheiro". "Você ainda pensa assim?", levantou o repórter.
— Você está me perguntando se um negócio é movido a dinheiro? Algum não é? — cortou o ator.
Ah, sobre o filme, jornalistas perguntaram o que motivou Clooney a filmar essa história. A pergunta foi feita três vezes, por três pessoas diferentes, mudando pouco o texto de uma para a outra.
— Sempre fizemos filmes cínicos e conversamos sobre a ideia de fazer um filme menos cínico. A ideia foi falar de um grupo único de pessoas que fizeram algo extraordinário — disse Clooney.
"Caçadores de obras-primas" estreia no Brasil em 14 de fevereiro. Já o Festival de Berlim termina dois dias depois, no dia 16. Ou seja: as coletivas de imprensa ainda estão longe do fim.
* André Miranda está hospedado em Berlim a convite do festival