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Falha e fantasia na solidão da cena com a Cia. dos Outros

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RIO - É a terceira vez que a Cia. dos Outros chega ao Rio, e de novo o Espaço Sérgio Porto serve de casa ao grupo paulista. Após encenar por aqui “Corra como um coelho” e “A pior banda do mundo” — que terá nova temporada carioca no segundo semestre —, a companhia retorna numa disposição diferente, a bordo do projeto “Solos impossíveis”, composto por dois monólogos criados por Carolina Bianchi, que assina a dramaturgia e a direção (com Amanda Lyra). Ela divide a noite com Tomás Decina até 23 de fevereiro, aos sábados (às 21h) e domingos (às 20h).

Nas duas peças anteriores, a ideia de fracasso era, ao mesmo tempo, ponto de apoio e desequilíbrio das situações vividas pelos personagens. Em “A pior banda do mundo”, por exemplo, viam-se arroubos delirantes de músicos desprovidos de talento, que ensaiavam há mais de dez anos sem nunca se apresentar. Naquela peça, Carolina vivia Salomé Racozi, uma datilógrafa que desopilava angústias num trombone desafinado, enquanto Tomás Decina era o tímido ex-escoteiro Amílcar Vonk.

Agora, Carolina é a personagem-título do solo “Tamara Karsavina”, uma bailarina russa medíocre que sonha em ser atriz; e Decina dá corpo a “O otimista”, um navegador que se lança numa jornada impossível rumo ao topo da Terra.

— São dois solos, mas é um trabalho só, com um pensamento que os liga, desde a condição de dois intérpretes atuando em solos, vivenciando essa solidão da cena, assim como o desamparo dos personagens — diz Carolina. — Ele, numa jornada solitária, ela, sonhando com um cosmonauta, com um amor que a complete.

Se nos trabalhos anteriores o humor rasgado aliviava a barra da melancolia, agora a solidão empresta densidade às cenas, que, no entanto, são plenas de elementos fantasiosos, vinculados ao tal impossível que dá título ao projeto.

— Há uma paixão pela fantasia, pelas coisas que não existem, mas que podem vir a ser. São dois personagens alimentados por essa ingenuidade, por uma necessidade de fantasia que é uma espécie de esperança, algo que nos salva dos “falhassos” da vida — diz a atriz. — Acho que o fracasso e a fantasia são bastante próximos. A falha nos faz deparar com a nossa utopia, com a fragilidade dos nossos sonhos. Vivemos em busca de coisas que deem sentido para as nossas vidas, e a gente é sempre muito sozinho nessa busca. A fantasia preenche de beleza essa rotina cheia de buracos.


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