NOVA YORK - Para coroar sua próxima exposição, “Futurismo italiano, 1909-1944: reconstruindo o universo”, com abertura marcada para 21 de fevereiro, o Guggenheim de Nova York conseguiu um feito raro: garantiu o empréstimo de cinco painéis da central dos correios de Palermo, na Itália, onde estavam instalados desde que foram encomendados, nos anos 1930.
Raramente vistos, esses painéis que adornaram uma sala de conferências por décadas são ao mesmo tempo figurativos e abstratos, com pinceladas de azul, linhas retas e fluidas que jogam com a perspectiva. Foram pintados em 1933 e 1934 por Benedetta Cappa, que foi casada com Filippo Tommaso Marinetti, o poeta fundador do movimento futurista em 1909, com um manifesto que rejeitava o passado e clamava por um agressivo salto em direção ao futuro.
Com o título “Síntese das comunicações”, os painéis tratam da comunicação por vários meios (ar, rádio, mar, terra, telégrafo e telefone) e também transmitem a complexidade do futurismo. Mesmo que tenham tentado se libertar do fardo da História e lançar a Itália adiante, os futuristas se basearam no conceito de primordio, ou um retorno às origens italianas. Assim, os painéis evocam afrescos de Pompeia.
O futurismo começou na Itália como um movimento literário nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, em tempos de rápido crescimento econômico e turbulências políticas. Os artistas futuristas frequentemente retrataram imagens da indústria, das máquinas e da velocidade. O movimento rapidamente passou a ter ambições políticas, algumas mais tarde relacionadas ao partido fascista. Os painéis foram encomendados durante a ditadura de Mussolini, que começou o processo de modernização da Itália.
A exposição do Guggenheim, de fevereiro a setembro deste ano, é a maior retrospectiva dedicada ao futurismo já realizada fora da Itália. Ocupando a rotunda e quase todos os espaços do museu, a mostra terá 360 trabalhos de mais de 80 artistas, arquitetos, designers, fotógrafos e escritores, a fim de mostrar como o movimento cresceu e encampou as artes.
Lugar de destaque
Nesse contexto, os cinco painéis de Palermo, feitos em têmpera e encáustica sobre tela, terão lugar de destaque. Especialistas no movimento têm vasto conhecimento sobre essas obras, mas são raros os que chegaram a vê-las. O Guggenheim solicitou o empréstimo em 2012 e teve resposta em 2013, depois da autorização de autoridades italianas.
“Ver os painéis em Nova York é uma oportunidade incrível”, disse Vivien Greene, curadora dos departamentos de arte dos séculos XIX e XX do Guggenheim, que organizou a mostra e negociou o empréstimo. “Eles terão mais visibilidade agora do que tiveram durante todo o tempo em que estiveram em Palermo”, completou.