RIO - Calvin Cordazar Broadus Jr. tem sérios problemas de personalidade. Há 20 anos, ele virou Snoop Doggy Dogg, o rapper-cafetão com jeito de cartoon, desbocado, machista e sempre envolvido por uma fumaça lisérgica, popularizado graças ao disco “Doggystyle” (mais tarde, ele abreviaria o apelido para Snoop Dogg). No ano passado, após uma viagem à Jamaica, ele se converteu ao rastafarianismo e adotou uma nova personalidade: Snoop Lion, nome com o qual lançou o disco de reggae “Reincarnated”. E agora ele troca de pele novamente e vira Snoopzilla no álbum “7 days of funk”, mesmo nome do projeto que criou com o cantor e multi-instrumentista Dam-Funk.
O nome é uma óbvia homenagem a Bootsy Collins, gigante do baixo, que tocou com James Brown, fez parte do Funkadelic (do genial George Clinton) e criou uma carreira solo, na qual usou, diversas vezes, o nome Bootzilla (uma brincadeira com o monstro Godzilla, já que a turma curtia ficção científica também).
No disco, tudo se encaixa: as referências, as sonoridades e, principalmente, a parceria. Dam-Funk é um músico e produtor de mão cheia, que debutou em 2009 com o excelente “Toeachizown”, no qual fazia uma releitura do chamado P-funk, o balanço repleto de sintetizadores e muita pressão nos graves, que Clinton, Funkadelic e Parliament popularizaram nos anos 1970, e que rappers como o próprio Snoop Dogg reviveram, via samplers, no hip-hop.
Em “7 days of funk”, essa herança é, mais uma vez, revista, com Dam-Funk nos comandos, dividindo os vocais com, vá lá, Snoopzilla. São nove faixas, de grooves sinuosos, soul e r&b com muito charme, de “Hit da pavement” (com vocais de Bootsy) a “Wingz”.
Cotação: Bom