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Aos quarenta anos, Jude Law deixa personagens sexys para trás

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LONDRES - Jude Law entra na suíte do luxuoso hotel Cartrigde para uma bateria de entrevistas vestindo uma jaqueta jeans. Momentos antes, durante a coletiva de lançamento de “Anna Karenina”, a vertiginosa adaptação do romance de Leon Tolstói, assinada por Joe Wright, que chega aos cinemas brasileiros no dia 15 de fevereiro, ele envergava um terno elegante e bem cortado. A inesperada mudança confere uma aparência mais jovial ao ator britânico, reforçada pelo bronzeado.

— Fui avisado de que haveria fotógrafos na coletiva, e caprichei um pouco no guarda-roupa. Qual não foi minha surpresa ao não ver uma câmera sequer no salão. Meus companheiros de mesa também estavam bem mais à vontade. Não titubeei e coloquei algo mais confortável, que havia trazido comigo. Sempre que possível, tento me vestir de acordo com a ocasião. Não sinto mais necessidade de impressionar ninguém — justifica, em entrevista ao GLOBO, Law, que completou 40 anos no dia 29 de dezembro.

A atitude do ator em relação à aparência pode ser interpretada como reflexo da nova fase que Law, eleito em 2004 o homem mais sexy do planeta pela “People Magazine”, vislumbra pela frente. Catapultado ao posto de galã de Hollywood a partir de filmes como “Gattaca — Experiência genética” (1997) e “O talentoso Ripley” (1999), ele parece satisfeito com a perspectiva de deixar para trás os personagens que se alimentavam de sua reputação de símbolo sexual.

Campo minado

Junto com o estereótipo do garotão que arrebata corações, também se foram as fofocas sobre sua vida pessoal, envolvendo o casamento com a atriz Sadie Frost, os três filhos do casal, e o escandaloso caso com a babá das crianças.

— Estou muito animado com a ideia de chegar aos 40. Acho que os 40 e os 50 anos são as épocas mais produtivas para um ator. Olho para o passado, para os meus 20, 30 anos, e me vejo em um campo minado, porque precisava ficar o tempo inteiro desviando de papéis que exigiam apenas que fosse atraente — analisa Law, que já trabalhou com diretores tão díspares como David Cronenberg (“ExistenZ”), Steven Spielberg (“A.I. — Inteligência artificial”), Martin Scorsese (“O aviador”) e o brasileiro Fernando Meirelles (“360”).

“Anna Karenina” pode ser um marco nessa transição de Law para a maturidade, a tranquilidade profissional. No filme, dirigido por Joe Wright (“Desejo e reparação”), ele interpreta Karenin, o sisudo e frio marido da trágica heroína do século XIX, vivida por Keira Knigtley; Vronsky, o jovem, galante, atlético e passional amante de Anna, é interpretado por Aaron Taylor-Johnson (“Kick-Ass — Quebrando tudo”). Dono de extremo sentido de moral e dever social, Karenin é a imagem da decadente aristocracia do antigo Império Russo.

— Gosto da severidade do Karenin, de sua teimosia e dignidade, mas também de sua lealdade e transparência. É um personagem completamente novo para mim — explica Law. — Papéis como esse ficam mais fáceis de encontrar quando você chega aos 40, porque outro ator mais jovem está preenchendo o interesse do mercado pelo rosto mais quente do momento. Não tenho mais esse perfil, mas isso não me incomoda. Já fui a novidade que todo mundo queria quando, na verdade, buscava apenas ser reconhecido como ator.

Este esforço em enxergá-lo como algo além de uma peça decorativa ou um mero pedaço de carne Jude encontrou em cineastas como Anthony Minghella (1954-2008), para quem interpretou um soldado confederado em perigosa jornada de volta aos braços da amada em “Cold mountain”, filme pelo qual ganhou sua primeira indicação ao Oscar. Ou mesmo David Cronenberg, que ousou usá-lo como um blogueiro paranoico no drama apocalíptico “Contágio”. Há quem veja uma ironia nas feições de boneco do gigolô robô de “Inteligência artificial”, de Spielberg.

— Eles são exemplos de grandes homens, artistas diluídos em poucas palavras. Como ator, você deve tudo a seu diretor, porque somos instrumentos deles — observa Law, que é filho de dois professores, membros de uma conceituada companhia de teatro amador. — Quando me lembro das coisas mais interessantes que ouvi dos grandes diretores com os quais eu trabalhei, o que me surpreende mais é: “Confie em você mesmo.” Você acha que um cara como (Martin) Scorsese vai te ensinar tudo, quando, na verdade, ele me pede para confiar em meus instintos.

Law já trabalhou sob a direção de realizadores de diferentes nacionalidades, mas uma de suas maiores frustrações é não ter pertencido à geração do russo Sergei Tarkovsky (1932-1986). O ator é um entusiasta da obra do autor de “Solaris” e de alguns de seus conterrâneos.

— Tarkovsky é o meu diretor preferido, embora o ex-assistente dele, (Aleksandr) Sokurov, ainda vivo, também seja brilhante. “A arca russa”, do Sokurov, é um dos grandes filmes do século. Para mim, Tarkovsky abarca tudo o que o cinema pode ser. Ele escreveu um livro sobre o cinema como poesia, no qual fala sobre uma forma nova de arte que usa todas as formas de arte — aponta Law, que diz que autoconfiança nunca lhe faltou. — Mesmo em meus 20 e poucos anos, se alguém se aproximasse de mim para me dar conselhos, eu teria dito: “Fuck off!”(risos).

Carlos Helí de Almeida viajou a convite da Universal Pictures


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