RIO - No jargão da indústria musical, “projeto” é como se chama um disco que não é de material inédito, que pode ser ao vivo, temático, com convidados, conforme a criatividade do artista. Roberto Carlos, por exemplo, curte um projeto: neste ano, com “Roberto Carlos remixed”, em que DJs como Memê, Mau Mau e Felipe Venancio rearranjam clássicos como “Fera ferida” e “É proibido fumar”, o Rei completa uma década desde seu último disco “de carreira”, ou de inéditas: “Pra sempre”, de 2003, era praticamente todo dedicado a músicas novas (tinha uma regravação, “Seres humanos”, mas as outras nove faixas eram inéditas — sendo “Acróstico”, uma homenagem à mulher do cantor, Maria Rita, morta de câncer em 1999, a que ficou mais conhecida). De lá para cá, afora EPs — discos com quatro ou cinco músicas, nos moldes do velho compacto duplo — como o megassucesso “Esse cara sou eu”, de 2012, os projetos se enfileiraram, com discos ao vivo diversos (o mais badalado foi o gravado em Israel, também em 2012), trabalhos temáticos como “Elas cantam Roberto” (2009) e “Emoções sertanejas” (2010) e a homenagem a Tom Jobim ao lado de Caetano Veloso, de 2008.
Apesar da regularidade dos discos a cada fim de ano — assim como o especial da TV Globo, marcado para a noite do dia 25, quarta-feira —, o empresário do Rei, Dody Sirena, esclarece que ele não tem obrigação contratual de colocar um produto nas prateleiras a cada dezembro.
— Em 1994, Roberto Carlos criou o selo Amigo Records e passou a ser dono e comandar sua obra e decidir quando, o que e como quer lançar seu trabalho, sem obrigatoriedade com qualquer empresa — diz Dody. — A Sony Music (antiga CBS) faz parte da família do RC desde o início da sua carreira e tem a responsabilidade da comercialização e distribuição de todos os lançamentos da Amigo Records e de todo o catálogo destas mais de cinco décadas. Eu sou um entusiasta de projetos especiais, seguindo os exemplos de Sinatra, Pavarotti e outros grandes nomes no auge da popularidade. É muito interessante trabalhar com um artista com mais de 50 anos de trajetória que ainda tem muitos projetos a realizar e que nos surpreende com inspiração em obras como “Esse cara sou eu”.
Tendência do mercado
Segundo ele, ainda existem muitos outros projetos na fila. E o próprio “Remixed” esperou um longo tempo para sair do papel.
— Ele foi concebido há mais de dez anos — conta o empresário. — Por não ser do perfil do Roberto uma superexposição, ficamos esperando um momento adequado. Muitos artistas fazem versões mais dançantes de suas músicas, é uma forma de revitalizar obras significativas, permitindo que novas gerações conheçam essas obras. Em 2012, com o enorme sucesso de “Esse cara sou eu” na novela da Gloria Perez (“Salve Jorge”), começou a se pensar num lançamento em formato EP. Roberto era entusiasta da ideia, apesar da resistência do meio fonográfico, mas o resultado foi mais do que positivo. E agora este novo EP segue a tendência do mercado.
Segundo o mercado, o grande concorrente do Rei nas lojas neste Natal é o Padre Marcelo Rossi, marcando presença justamente com um EP, “Já deu tudo certo”. Os dois discos custam em torno de R$ 10, nos formatos físico e digital.
— É tradição não só no Brasil, mas em muitos países, lançar produtos na época do Natal — justifica Dody. — O público do Roberto está acostumado a presentear familiares e amigos com seus discos, e ficamos felizes de estar ao lado de outros artistas.
O público, então, pode esperar por novos projetos do Rei.
— Temos alguns aguardando para ser lançados, como o DVD “Emoções em alto mar”, o CD e DVD “50 anos de música”, com base no show do Maracanã (em 2009), o “Duetos volume 2”, em que ele canta “O sole mio” e “Ave Maria” com Luciano Pavarotti, e, se pensar um pouco mais, posso listar muitos projetos, pois Roberto é um artista com uma obra muito grande — avalia o empresário.
Mas e as novidades?
— Como todo artista, ele está sempre com alguma ideia, buscando um novo tema, criando aquela que ele acha que será a sua grande música.
Enquanto isso, os projetos — sempre eles! — pipocam no reino do cantor capixaba de 72 anos.
— Recentemente a Sony levantou a possibilidade de lançar caixas de LPs, e estamos pensando nisso — revela Dody.
Afinal, haverá sempre um milhão de amigos.
Roberto Carlos é uma brasa, mora? E, ao que parece, o seu repertório também, como sugerem os cuidadosos procedimentos em torno do projeto de remixes do Rei. O EP “Remixed”, que chega às lojas agora, com cinco versões, assinadas pelos DJs locais Memê, Felipe Venancio e Mau Mau, pelos americanos Erick Morillo, Harry Romero e Jose Nunez e pelo grupo Dexterz, é, na verdade, uma versão edit do álbum “Reimixed”, anunciado em 2012 e que traria 14 recriações eletrônicas de clássicos do Rei. E esse projeto, por sua vez, recupera uma ideia lançada há mais de dez anos, de dar um banho de pista no trabalho do astro, que acabou arquivada, gerando apenas duas faixas (assinadas pelo DJ Xerxes e pelo mesmo Memê), incluídas no disco “Roberto Carlos”, de 2002.
— De fato, essa ideia dos remixes é antiga e vem desde o começo dos anos 2000 — lembra Tuta Aquino, coprodutor de “Remixed”, ao lado de Felipe Venancio, idealizador do projeto. — Só que aquela época, ao que parece, coincidiu com um período muito sensível do Roberto, fazendo com que o projeto fosse arquivado.
A ideia renasceu impulsionada pelos festejos dos 70 anos do Rei, celebrados em 2011, após o empresário do cantor, Dody Sirena, ter visto Venancio tocar seu remix house de “O portão” no cruzeiro “Emoções em alto mar”. No começo do ano seguinte, o DJ recebeu o sinal verde (ou, talvez, azul) para tocar o projeto.
— Fizemos a curadoria, imaginando DJs que fossem também produtores e que respeitassem a estrutura das músicas — explica Venancio. — Era importante também que entendessem o peso de um artista como Roberto Carlos. O próprio Morillo entendeu isso.
Assim, nenhuma música foi maltratada nas remixagens do disco, com os cinco DJs/produtores evitando qualquer transformação mais radical.
— Não existiu nenhuma proibição por parte do Roberto, mas sabíamos que transformar muito a estrutura das canções poderia ser um risco. “Remixed” não é um disco de rupturas — diz Aquino, que sugere que uma sequência, com os remixes que ficaram de fora, pode ser lançada. — Optamos pelo formato do EP porque o Roberto provou, com “Esse cara sou eu”, de 2012, que ele vende. E uma sequência, com outros remixes, é bem provável.