RIO - Tatá Werneck ainda nem quer pensar muito sobre o assunto. Mas admite que não será nada fácil deixar a popular Valdirene para trás quando “Amor à vida” chegar ao fim, em fevereiro.
— Vou ter uma minidepressão, passar por um período de luto. Por ter sido minha primeira personagem numa novela e da maneira que foi: incrível! — diz a atriz, de 30 anos.
A periguete maluquinha criada por Walcyr Carrasco marcou a estreia da carioca Talita Werneck Arguelhes no horário nobre da Globo. E fez a carreira da atriz explodir em 2013. Durante este ano, ela apareceu como convidada de praticamente todos os programas da emissora, faturou com campanhas publicitárias, estampou capas de revista e ganhou uma atração própria no Multishow, o “Sem análise”. Até o que parecia improvável aconteceu: uma participação no especial de Roberto Carlos, no ar na quarta-feira.
Vinda do elenco de humor da antiga MTV — onde trabalhou por três anos —, Tatá, que cresceu na Barra da Tijuca e começou a estudar teatro aos 9 anos, era, até o início de 2013, um nome popular entre o público jovem. Com “Amor à vida”, a atriz experimentou um sucesso avassalador.
— Talvez eu só vá entender a repercussão da novela depois que ela acabar — acredita.
Assim que o atual trabalho chegar ao fim, Tatá brinca que pretende “dormir uma semana na casa da (Elizabeth) Savalla”. A atriz, que faz Márcia, a mãe de Valdirene em “Amor à vida”, virou referência para ela.
— Criamos uma relação de muita cumplicidade. Nas cenas de mais emoção, basta uma olhar no olho da outra — acredita a atriz, uma daquelas pessoas naturalmente engraçadas e que diz só costumar perder o humor na TPM.
Férias não estão em seus planos. O ano de 2014 será de mais trabalho. Assim quer a própria Tatá, que assinou recentemente um contrato longo (de três anos) com a Globo, agora como atriz e apresentadora. A volta aos cinemas também deve acontecer num futuro próximo. Em 2014, ela roda o longa “Loucas para casar”, ao lado de Ingrid Guimarães, e analisa convites para outros seis filmes. Na TV, prepara dois novos programas para o Multishow, um deles ao lado do onipresente Fábio Porchat.
— Na Globo, eu recebi propostas de vários programas, mas não está nada definido — despista a atriz, que poderá ter uma atração própria no canal.
O ritmo frenético não assusta a atriz que costuma usar os dias de folga da novela para fotografar para revistas ou estrelar campanhas.
— Quando tenho duas horas de folga em um dia, aproveito para marcar uma aula de violão ou de bateria — garante.
Parece piada, como boa parte do que costuma sair da boca da atriz, mas ela afirma com a cara mais séria que “ama não ter tempo para nada”.
— Estou supercansada, mas absolutamente feliz. Acho que não conseguiria sair dessa rotina de estúdios e correria agora.
Tatá, que já passou por todos os perrengues de uma iniciante na carreira de atriz (“Foram 17 anos fazendo teatro, insistindo, ouvindo não, e vendendo batom para ter uma renda”, diz), parece não gostar de perder tempo. No dia em que posou para a Revista da TV, chegou tão cansada — vinha de uma gravação e ainda faria outras fotos mais tarde — que dormiu sentada numa cadeira, com a cabeça encostada na parede, enquanto era maquiada.
— Dez minutinhos de sono renovam minha vida — exagera a atriz, que sofria de insônia por puro medo de dormir sozinha e costumava atravessar as madrugadas passando trotes por telefone: — Hoje, durmo um pouquinho em qualquer canto e me recupero. Todas as pessoas que conheço têm foto minha dormindo em lugares inusitados.
Em geral, Tatá grava a novela de segunda a sábado. Ela não tem hora para dormir, mas jura que costuma sair da cama diariamente às 5h. Vocalista da banda Renatinho, formada com amigos humoristas, a atriz encarna uma popstar nas fotos que fez para a Revista da TV. Mas deixa claro que o grupo, que tem como hit a faixa “Travesti de fogo” (a música pode ser ouvida numa rápida busca no YouTube), não é para ser levado a sério.
A mesma menina que foi expulsa do colégio na infância — e frequentava as aulas de pijama —, criou há 10 anos o grupo Os Inclusos e os Sisos — Teatro de Mobilização pela Diversidade, que apresenta peças acessíveis para pessoas com todos os tipos de deficiência. O projeto é tratado com toda a seriedade do mundo. Mas a atriz reclama que o assunto passa quase sempre batido quando falam sobre ela.
— Faço um trabalho com o teatro acessível há 10 anos, um projeto social. Mas a mídia só quer saber se eu engordei, se aquilo na minha perna é celulite ou são marcas de catapora.
Apesar de não se queixar, Tatá reconhece que o sucesso veio carregado de cobranças.
— Não mudei em absolutamente nada — frisa.
Tatá fechou com a Globo em fevereiro depois de fazer “vários testes às escondidas” no final de 2012, enquanto ainda estava na MTV. A atriz, que firmou recentemente um outro compromisso mais longo com a atual emissora, apresentou o “Tá quente”, atração de verão que marcou sua despedida do antigo canal, em janeiro.
— Eu amava trabalhar na MTV (ela estreou na emissora em 2010). Fiz programa de improviso, esquetes, esquetes ao vivo e trotes. Tudo o que eu poderia render já tinha rendido. Estava começando a entrar numa zona de conforto — avalia.
Até hoje alguns dos fãs que acompanham a atriz desde o “Quinta categoria”, o “Comédia ao vivo”, e o “Trolálá”, programas estrelados por ela na MTV, reclamam que Tatá está diferente...
— Tem uns que falam: “Ah, ela foi para a Globo e está outra”. Se não boto uma foto no Instagram em que esteja me zoando, logo dizem: “Uhh, Tatá, você mudou”. Mas um lugar só muda a pessoa se ela for suscetível a isso. Claro que o sucesso faz você potencializar, para o bem ou para o mal, o que você já é — filosofa.
Quem conhece Tatá de muito perto comprovou os efeitos que a novela das 21h causou em sua vida. O pai da atriz, o editor Alberto Arguelhes, brinca que precisa “ter um estoque de babador”. E acredita que a maior mudança foi o reconhecimento de uma profissional já com longa estrada.
— Para o grande público, a Talita foi uma surpresa. Para nós, a comprovação da certeza que tínhamos em seu potencial e talento — elogia o pai, que ressalta o lado divertido da filha: — Ela não faz humor tentando ser engraçada. Talita tem umas tiradas e se coloca como sujeito da própria gozação o tempo todo.
Essa face mais histriônica da atriz, que é formada em Publicidade, não a impede de ter seus momentos de introspecção, segundo o seu pai.
— Ela nunca estudou piano e não sabe ler partitura. Mas já a vi muitas vezes concentrada diante do piano da nossa casa. E saía de lá com uma música — conta Alberto.
Mãe da atriz, a jornalista Cláudia Werneck diz ter vivenciado um sentimento inesperado ao ver Tatá na novela.
— Hoje eu não tenho mais ciúmes da Elizabeth Savalla, mas já senti ao ver as duas abraçadas. Demorei para acreditar nesta minha reação. Será que estou com ciúme da mãezoca? É que no início me dava saudade e vontade de abraçá-la também. O que aconteceu com a minha filha foi algo grande demais. Ainda não sei explicar — assume: — Já nem sei se falo Talita, como era o costume, ou Tatá. Agora todo mundo a chama dessa forma.
Mas a jornalista também é categórica ao afirmar que a exposição não mudou Tatá.
— Ela é a mesma filha e continua com as mesmas questões. Nunca tive receio que ela fosse mudar com o sucesso. Só tenho uma filha mais cansada e mais reconhecida.
A carga intensa de trabalho afetou o namoro de quase oito anos de Tatá, que chegou a romper com o engenheiro Felipe Gutnick. Os dois reataram recentemente e estão “meio que morando juntos”.
— Eu tenho 30 anos. Já estou quase roubando criança na rua de tanta vontade que tenho de ser mãe — brinca a atriz.
Agora, Tatá grava as cenas em que Valdirene — personagem que começou a novela atacando famosos, teve uma filha do homem que amava, mas se casou com um milinário — tenta entrar no “Big Brother Brasil”.
— Achei muito legal a trama. Fechou um ciclo. Na apresentação da Valdirene na novela aparecia um vídeo dela para o “BBB” — recorda Tatá.