RIO - Jornalista e crítico do GLOBO, imortal da Academia Brasileira de Letras, Luiz Paulo Horta (morto em agosto, a poucos dias de completar 70 anos) foi um dos grandes defensores da criação de espaços para a música no Rio de Janeiro. Na quarta-feira, a Cidade das Artes encerra o ciclo de concertos em sua homenagem com uma nobre deferência: em cerimônia, a partir das 10h, com a presença de amigos e parentes, de Emilio Kalil (presidente da Fundação Rioarte, que administra o espaço) e do prefeito Eduardo Paes, será feito o descerramento da placa que dá o nome de Horta à esplanada do espaço. A abertura será feita com o espetáculo “Choros”, feito pelo acordeonista Kiko Horta, filho do jornalista, e sua banda, em homenagem aos mestres brasileiros dos foles e teclas Dominguinhos, Sivuca e Luiz Gonzaga.
— Eles alargaram muito as fronteiras do acordeom. Quem for estudar o instrumento terá que chegar ao estilo brasileiro que eles ajudaram a criar — conta Kiko, que hesitou um tanto em fazer esse concerto para o pai (“A gente fica muito mexido...”), mas viu em “Choros”, com seu repertório aberto a improvisações, a chance de prestar um tributo justo e emotivo.
— Eram coisas que meu pai gostava que eu tocasse — conta ele, que apresenta temas dos três mestres do acordeom: (“Lamento sertanejo”, “Homenagem à velha guarda”, “13 de dezembro”), de Pixinguinha (“1X0”), de Thelonious Monk (“Round midnight”) e alguns seus (“Mar sem fim”, “Forró transcendental”).
Como nos outros concertos da série em homenagem a Horta (iniciada no último dia 4, com o Coral de Vozes dos Meninos do Rio), haverá hoje presença de público jovem, de escolas.
— Uma coisa com que meu pai sempre se preocupou foi a formação de plateias — conta Kiko, para quem a escolha do local para receber o nome do pai foi acertado. — A Cidade das Artes é um espaço que ele defendeu muito enquanto vários atacavam. Meu pai achava que era bom ter teatros para a música. E a esplanada é um lugar muito bonito, um ponto de encontro na Cidade das Artes, todo mundo para por ali. E se tem a visão das montanhas da Barra, da natureza que restou em volta.
Emilio Kalil também lembra que Horta defendeu o espaço e diz que tem muitas saudades do “crítico, conselheiro e amigo”.
— Luiz Paulo Horta gostava do projeto da Cidade das Artes e dizia que ele tinha, sim, problemas, mas que deveria ser posto em funcionamento — afirma. — O vazio que o Luiz Paulo Horta deixou é extremamente delicado. Ele andava por todas as músicas de forma muito tranquila, o que é um sintoma de inteligência profunda.
— Ele gostava muito de tocar música popular, clássica, samba-canção, bolero... Sempre houve muita cantoria lá em casa — diz ele, que se preparara para lançar um CD com o acordeonista Bebê Kramer dedicado a Luiz Gonzaga.