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‘Repaginada’, ‘Carrie, a estranha’ estreia nos cinemas

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RIO - Se Carrie White usasse este tal de Lulu, o aplicativo para avaliar homens que virou moda nas últimas semanas, todos os seus colegas de escola receberiam dela uma única hashtag: #morto.

Para o universo do novo “Carrie, a estranha”, aplicativos do tipo seriam perfeitamente possíveis. No filme de terror, aparecem telefones celulares, meninas trocam confissões por mensagens de texto e até um vídeo constrangedor é vazado para a internet — apenas algumas das ferramentas utilizadas para atualizar a história da menina com poderes telecinéticos, que sofre em casa com o fanatismo religioso da mãe e padece mais ainda na escola com o bullying dos colegas.

São temas (o fanatismo e o bullying) que, já em 1974, inspiraram Stephen King a escrever seu primeiro romance; mantiveram-se fortes em 1976, com a adaptação dirigida por Brian de Palma; e pelo visto seguem atuais, considerando o tratamento moderno dispensado pela diretora Kimberly Peirce ao seu “Carrie, a estranha”, em cartaz desde ontem no Brasil.

— Situações como o bullying sofrido por Carrie continuam acontecendo, mas acho que há uma intensidade diferente — explica Kimberly, em entrevista por telefone. — Hoje, um colega filma você com o celular, joga na internet, e você se ferra. Depois, a escola pode até descobrir o autor do vídeo e tomar uma atitude. Mas quem acaba sofrendo mais? Quem recebe uma suspensão e toma uma bronca do diretor ou quem se sentiu humilhado por ter sua imagem espalhada pela internet sem saber? É por coisas assim que, em determinado momento da história, você passa a torcer para Carrie reagir. O banho de sangue representa a vingança que todo mundo intimamente quer ver.

Inevitáveis comparações

Quando lançou “Carrie, a estranha”, King ainda era um professor que dava aulas de inglês no estado do Maine e escrevia contos para revistas. O romance serviu, portanto, para abrir as portas para que ele se tornasse o mais bem-sucedido escritor de terror das últimas décadas e, graças ao sucesso do livro, serviu ainda para deixar muitos adolescentes, e também marmanjos, arrepiados de medo. Depois, Carrie se estabeleceu de vez como ícone pop a partir do filme de De Palma, um diretor hitchcockiano que entrou para a História como parte daquela geração revolucionária de cineastas americanos dos anos 1970, como Francis Ford Coppola e Martin Scorsese.

Assim, o principal desafio de Kimberly não foi simplesmente atualizar uma história clássica. Foi encarar as comparações com um filme visto, revisto e sempre amado.

- O foco para a minha adaptação sempre esteve no romance. Stephen King criou uma personagem incrível, que buscava amor e aceitação. Mas não me importo com as comparações com o filme do De Palma, que eu adoro - diz ela, uma diretora conhecida por seus outros dois longas-metragens, “Meninos não choram” (1999) e “Stop-loss: a lei da guerra” (2008). - Remakes podem ser bacanas. O “Scarface” (1983), do mesmo De Palma, é um remake e é ótimo. Além disso, há muitas diferenças nos dois “Carrie”. Eu tentei, por exemplo, explorar melhor a descoberta dos poderes da personagem. É um processo ao qual o público se acostumou vendo esses blockbusters de super-heróis, e que procuro mostrar gradativamente no meu filme.

No longa de De Palma, Carrie foi interpretada por Sissy Spacek; sua mãe beata, Margaret, por Piper Laurie; e sua colega de classe Sue Snell por Amy Irving. A produção também trouxe os jovens e iniciantes John Travolta e Nancy Allen, como o casal sacana responsável por estragar o baile de formatura de Carrie, literalmente derrubando nela um balde de sangue de porco e dando início ao descontrole da menina.

Na versão de Kimberly, a protagonista ficou a cargo da adolescente Chloë Grace Moretz, uma estrela em ascensão, que se popularizou por seu papel em “Kick-ass” (2010). Ela divide as atenções do público com Julianne Moore, uma Margaret White mais assustadora do que a própria protagonista. Para quem não se recorda bem do livro e do primeiro filme, a mãe de Carrie é uma solteirona que passa seus dias falando sobre os perigos do pecado (i.e., os malditos homens) e eventualmente tranca a filha num quartinho apertado para rezar.

- A personagem de Margaret tem um nível de desvio mental que é potencializado pela religião. Mas não queríamos fazer uma crítica específica. Religiões são importantes, eu fui criada numa família metade católica e metade judia. Por isso, Julianne e eu trabalhamos para que a personagem tivesse sua própria religião. Queríamos evitar que alguém levasse a história para o lado pessoal, mas compreendesse que os excessos religiosos podem ser perigosos. Nosso objetivo foi lidar com temas como religião, mas de forma divertida, justamente como eu acho que deve ser um bom filme de terror - conta a diretora. - Para mim, o desafio do gênero de terror é conseguir baixar as defesas do espectador para que ele sinta medo. Mas também colocar alguma dose de humor para que ele ache graça desse medo.


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