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Sharon Stone abraça os personagens maduros e diz estar acostumada ao papel de mãe

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MARRAKECH - Sharon Stone entra numa sala do luxuoso hotel La Mamounia, em Marrakech, como quem é dona do lugar. Alta, esbelta e incrivelmente elegante, ela exala a segurança das inúmeras mulheres belas e sedutoras que interpretou nas últimas duas décadas. A diferença é que agora, aos 55 anos, a estrela de “Instinto selvagem” (1992), filme de Paul Verhoeven que a transformou em símbolo sexual, está abraçando os papéis que a idade lhe tem reservado — mas sem perder o brilho de ícone de Hollywood.

Quem a viu quase irreconhecível em “Lovelace” (2013), sob a pele cansada e abatida da mãe da atriz pornô Linda Lovelace, pode ir se preparando para reencontrá-la em outras encarnações de figuras maternas, muitas delas sem qualquer traço de erotismo ou glamour. Em “What about love”, de Klaus Menzel, previsto para estrear em fevereiro nos EUA, por exemplo, ela aprende sobre o amor com sua filha apaixonada. Já na comédia “Mother’s day”, de Paul Duddridge, que deve chegar aos cinemas em maio, ela é uma das dez mães que têm suas relações com as filhas escrutinadas pela internet.

Mas, para que ninguém esqueça sua inabalável reputação de diva, ela também empresta as formas à deusa Afrodite em “Gods behaving badly”, ainda sem data de lançamento, comédia dramática de Marc Turtletaub sobre deuses gregos vivendo na Nova York de nossos dias e interferindo na vida amorosa de alguns casais.

— Deixe-me dizer uma coisa: eu sempre serei sexy! Mas tenho três filhos (Quinn, de 7 anos, Laird, de 8, e Roan, de 13), então, estou acostumada ao papel de mãe. E é divertido trazer um pouco dessa minha realidade para os filmes — diz Sharon em entrevista ao GLOBO, logo após ser homenageada pelo conjunto de sua carreira no Festival de Marrakech. — Adorei viver alguém como Dorothy Boreman, a mãe conservadora de Linda Lovelace. Embora relativamente antipática, ela é fruto de uma deformação educacional, que gera famílias disfuncionais até hoje.

Planos de estrear como diretora

Em Marrakech, Sharon recebeu o troféu do festival das mãos do amigo Martin Scorsese, que a dirigiu em “Cassino” (1995), filme que lhe deu o Globo de Ouro de melhor atriz dramática. Em seu discurso, o diretor, que preside o júri da competição oficial, a descreveu como “uma verdadeira estrela”: “Quando ela entra em um ambiente, a energia muda”. Mas nem sempre foi assim. Antes do fenômeno “Instinto selvagem”, a atriz tinha dificuldade para conseguir papéis de relevância. Ninguém em Hollywood a via como uma mulher sensual ou sequer bonita.

— Eu era uma traça de livros, vivia com a cara enfiada neles. Tive que usar a inteligência para descobrir como virar uma mulher sexy — conta a atriz, que estreou nas telas em “Memórias” (1980), de Woody Allen, com um personagem que sequer tinha nome. — Minha amiga Marilyn Grabowski, editora de fotografia da “Playboy”, vivia me dizendo que eu deveria fazer um ensaio para a revista, mas eu achava a ideia assustadora. Um dia percebi que o tal ensaio poderia ser um passo inteligente. Se eu dissesse às pessoas que era sexy, elas me achariam sexy.

E assim foi feito. Sharon sugeriu a Marilyn um ensaio em preto e branco, inspirado numa série de fotos que o fotógrafo, pintor e cineasta Man Ray (1890-1976) havia feito com sua mulher, Juliet Browner. E acrescentou uma condição: que a amiga assinasse o texto que acompanhava o ensaio, porque ela era uma mulher “engraçada e inteligente”.

— Marilyn concordou, fiz o ensaio e, cinco minutos depois, consegui o papel de Catherine Tramell em “Instinto selvagem” — lembra Sharon, que lutou para ser respeitada na indústria, fosse tornando-se produtora (o faroeste “Rápida e mortal”, de 1995, foi seu primeiro trabalho nesse caminho) fosse associando-se a instituições filantrópicas, como a amFAR, que busca recursos para a luta contra a Aids. — Como meu pai costumava dizer, só se consegue ser respeitado quando se impõe respeito. É você quem decide a imagem que os outros terão de você.

A exemplo de outras atrizes influentes em Hollywood, como Angelina Jolie, Sharon tem planos de estender suas atividades à direção. Hoje, estuda roteiros e temas que possa vir a dirigir.

— Gosto de dramas peculiares, como alguns filmes de Quentin Tarantino ou coisas como “Pequena Miss Sunshine”. Filmes que oferecem outra perspectiva do drama humano. Suspeito que minha direção seguirá por esse território — afirma a estrela, que diz ter encontrado mais sabedoria com a maternidade. — Quando você é mãe, olha para as coisas com mais objetividade. O jovem vê o mundo pela perspectiva do próprio ego.

Uma das principais arrecadadoras de recursos para a amFAR, Sharon viaja pelo mundo realizando leilões e jantares em prol da entidade. Acredita que o contato com outras culturas e modelos políticos seja essencial para compreender o planeta. E até hoje fica escandalizada ao lembrar que os EUA tiveram um presidente que, “quando viajava à Europa a trabalho, ia para a cama às 20h em vez de jantar fora” (referindo-se a George W. Bush).

— Estou adorando a perspectiva de ter Hillary Clinton na corrida presidencial. Precisamos de alguém com uma perspectiva global — defende a atriz, que é eleitora de Barack Obama. — Ele tem um entendimento sofisticado sobre saúde universal, o que é muito útil. Nossa expectativa de vida é cada vez maior, e quem cuidará dos nossos idosos certamente não será nossa juventude narcisista, plugada em celulares.

* Carlos Helí de Almeida viajou a convite da produção do festival


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