Quantcast
Channel: OGlobo
Viewing all articles
Browse latest Browse all 32716

Estela Sokol: em função da cor

$
0
0

RIO - Estela Sokol já enterrou na neve da Áustria placas de acrílico verde-limão ou laranja fluorescente. Assim, fazia com que as cores parecessem surgir de dentro da Terra. Já pintou a parte interna de cubos de mármore ou de granito com cores vibrantes — o que o espectador via, enfim, era, como diz, um “restolho” de cor ou o reflexo dela.

— Meu trabalho vem muito da escultura, e eu tento pensar a cor na escultura, ou a tridimensionalidade da cor. Isso acabou se tornando uma tentativa de usar a cor para “amolecer” a forma — reflete a artista paulistana de 34 anos.

Na exposição “Gelatina”, que ela inaugura amanhã, na galeria Anita Schwartz, ela segue a pesquisa com cores, mas, desta vez, mais próxima da pintura do que da escultura.

Pintar com lâminas

Estela usa chassis de telas para esticar lâminas de PVC de diferentes cores que, sobrepostas, criam novos tons, ou a ilusão de uma cor que, de fato, não existe.

— Sempre gostei muito da pintura. Quando me perguntavam minhas referências, eu citava Giorgio Morandi, Mark Rothko... Acho que a gente demora para se encontrar e sinto que, de uns três anos para cá, ficou superclaro para mim que meu assinto é pintura — diz Estela. — Acho que é nesse trabalho (as telas com lâminas de PVC) que mais falo de pintura.

Trata-se da série “Gelatina”, concebida ao longo deste ano especialmente para a exposição na galeria do Rio. Para criar as cerca de 15 telas que compõem a mostra, Estela recorre a fábricas de PVC e compra as lâminas nas cores em que estão disponíveis. É por isso que o crítico de arte Rodrigo Naves, que assina o texto da exposição, afirma que ela “se nega a escolher as cores com que irá trabalhar. Limita-se a empregar aquelas que encontra nesses produtos”.

Estela não mescla pigmentos, mas sobrepõe lâminas amarelas, roxas e vermelhas até chegar a uma tela final que parece, enfim, verde. As cores parecem mudar conforme o espectador se desloca no térreo da galeria, onde estão as telas.

— Gosto muito de obedecer às regras do material. É como se obedecesse às regras do jogo — afirma a artista.

É assim também quando usa placas ou blocos inteiriços de mármore. Na indústria, eles têm variações de cor, ora mais acinzentados, ora esverdeados. No segundo andar da galeria, ela usa este material, o mármore, para criar uma única instalação, batizada de “Meio fio” e composta de quatro grandes placas. Nelas, Estela faz uma intervenção mínima — cada uma leva uma fina linha de tinta azul, lembrando as intervenções que um dia fez na neve com as placas de acrílico coloridas.

— “Meio fio” tem muito de silêncio, algo que os outros trabalhos (a série “Gelatina”) não têm. As pinturas têm cores mais “nervosas” e, na instalação, busquei um azul celeste, quase o azul dos afrescos. É como se essa obra tivesse pousado aqui — diz, apontando para as imensas placas de mármore (de 300 quilos cada uma) delicadamente deitadas no centro do espaço.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 32716


<script src="https://jsc.adskeeper.com/r/s/rssing.com.1596347.js" async> </script>