RIO - Falar sobre esporte para Isabel Salgado é natural. Mas o assunto, que poderia muito bem surgir em casa com seus filhos Maria Clara Salgado, Carolina e Pedro Soldberg — que também seguiram carreira no vôlei —, tem rendido muito mais diante das câmeras.
Atração apresentada pela ex-atleta, “Em família com Isabel” estreia sua segunda temporada na terça, às 21h30, no canal +Globosat. A nova safra de programas terá seis edições semanais e trará conversas de Isabel com nomes de destaque do esporte nacional como o treinador Abel Braga e o atleta paraolímpico Felipe Gomes (100 e 200 metros rasos).
Ex-parceira de vôlei de praia e uma das melhores amigas de Isabel, Jackie Silva, a primeira mulher a ganhar uma medalha de ouro olímpica no Brasil, também estará na atração:
— Gravar com a Jackie foi muito natural e engraçado porque, ao mesmo tempo que eu fazia as perguntas, ia lembrando de como era a nossa carreira. Vivemos muita coisa em comum. Eu levantava para ela cortar — brinca.
Jackie e Isabel foram parceiras no vôlei de praia em 1992, em um torneio promovido pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB), mas se conheceram na adolescência, quando começaram a jogar vôlei pelo Flamengo.
Na época, as duas pegavam uma kombi “caindo aos pedaços” que as levava da escola para o treino. Mas tudo era festa para as adolescentes de 12 e 15 anos que encaravam o esporte como um hobby e, mesmo assim, com disciplina.
— Quando nós começamos a jogar, o vôlei ainda não dava dinheiro, mas queríamos estar em quadra e vencer — comenta Jackie.
No bate-papo com a ex-parceira, que deve ser o último episódio da temporada, fica clara a intenção do programa: dar espaço a conversas que revelam como as famílias dos atletas estiveram presentes nas vidas deles.
— Eu sempre me interessei em saber como os atletas recebiam este incentivo. Porque comigo foi assim: a maneira como eu me expressava em quadra, como jogava, dizia muito sobre a educação que eu tive. A atividade esportiva se dá muito cedo, e os atletas dependem de um núcleo familiar para dar apoio, principalmente no começo — comenta Isabel.
E o apoio não vem, necessariamente, dos parentes com ligação sanguínea. Jovens criados em instituições ou por outros membros da família que não os pais revelam grandes talentos e histórias.
— Eu estive na Nova Holanda, na Maré, conversando com a tia do Felipe Gomes e ela, que é professora, contou como cuidava dele, como eram as visitas ao Instituto Benjamin Constant (de estudo para deficientes visuais) e como aquele atleta não só transformou a sua vida, mas também a de quem estava ao lado. Na época dos Jogos Panamericanos (em 2007), por exemplo, ela levou 20 alunos da comunidade para verem as provas. Eles ficaram encantados com o mundo do esporte — explica a ex-jogadora.
Nas conversas, é inevitável para Isabel recordar o início da própria carreira.
— Mesmo os atletas de modalidades diferentes passam pelas mesmas coisas que a gente enfrentou: a correria para chegar ao treino e tentar conciliar com outras atividades. E a fome ao chegar em casa.
Isabel defende que a intenção do programa não é encontrar “uma receita para formar o atleta perfeito”. Ela deseja mostrar de que maneira a família colabora para a formação pessoal e profissional do esportista. A própria ex-atleta não seguiu nenhum manual para lidar com a carreira dos filhos que, sem querer, foram influenciados por ela.
— Eu procurei mostrar a eles outras opções, principalmente porque admiro o tratamento que recebi dos meus pais: eles me deram muita liberdade e espaço para eu escolher o que quisesse — explica.
Com os esforços em fazê-los gostar de outras atividades em vão, a alternativa foi apoiar e aconselhar os pupilos nas carreiras escolhidas:
— Como mãe, estou sempre próxima, acompanho o trabalho deles, mas sempre que estamos juntos tentamos falar de outras coisas.