RIO - Mabel Cezar é o nome por trás da voz que, diariamente, divulga o que acontecerá nos capítulos de “Joia rara”. No ar desde antes da estreia do folhetim das 18h, os anúncios com toque feminino despertaram a atenção pela novidade, mas não são caso isolado: fazem parte de um projeto grandioso de reformulação das chamadas promovido pela Globo (veja box ao lado). Mabel, que é atriz e dubladora, empresta sua experiência de mais de 20 anos no mercado à dramaticidade necessária aos vídeos. E se a voz dela lhe parece familiar, é porque provavelmente você a conhece como a Jessie, de “Toy Story”, a Gabriele Sollis, de “Desperate housewives”, a Jay, de “Eu, a patroa e as crianças”, ou até como a boneca Luluzinha.
— Sou dubladora há muito tempo e faço tudo que uma atriz que trabalha com voz faz. Narração, locução... Já tinha até feito outros trabalhos para a Globo antes, como dublagem das novelinhas do “Big Brother Brasil” ou de esquetes dos programas do grupo Casseta & Planeta. Mas essa oportunidade da chamada surgiu de repente. Mandei gravações minhas e fiz uma série de testes até que me escolhessem.
Apesar de estar acostumada a ser reconhecida nas ruas ao falar, ela diz que ter a sua voz diariamente na TV — e não a de uma personagem — tem aumentado bastante as abordagens.
— No início, o assédio chegou a me assustar, mas agora já normalizou. As coisas tomaram um vulto enorme, eu recebia recados na internet e um monte de e-mails de gente que eu não conhecia. Chego nos lugares e basta eu falar uma palavra para dizerem “é a voz de ‘Joia rara’!” — conta.
Mabel concilia a gravação diária das chamadas com uma lista longa de outros trabalhos: dá aulas em três locais diferentes, está em cartaz no Teatro Ziembinski com “A admirável consciência de uma azarada”, dubla e ainda dirige outros dubladores. Para ela, a versatilidade é, além de característica pessoal, uma imposição do mercado atual, aquecido pela demanda cada vez mais forte dos canais fechados pela dublagem, mas, ao mesmo tempo, muito diferente do que era quando ela começou.
— Naquela época, havia duas grandes empresas no Rio: a VTI e a Herbert Richards, e as duas contratavam com carteira assinada. Você trabalhava para elas e não tinha tempo de fazer outras coisas. Hoje, há várias pequenas produtoras espalhadas e nenhuma contrata. Todo mundo é freelancer. Tem muito trabalho, mas tem mais gente trabalhando e os valores pagos são menores — analisa.